ENTREVISTA

Com estoques perto do normal, FMC vê crescimento no segundo semestre

“Tem mais uma safra de transição, mas muito mais serena do que a passada”, diz o novo presidente da FMC para América Latina, Renato Guimarães

Renato Guimarães
Renato Guimarães, presidente da FMC para América Latina, assumiu a posição em 1º de abril | Crédito: Wanezza Soares

Depois de resultados tenebrosos que provocaram uma reestruturação global de seus negócios, a FMC está num ponto de inflexão. Os estoques de defensivos agrícolas da multinacional no Brasil estão perto da normalidade e as vendas começam a apresentar reação, caminhando para um crescimento no segundo semestre.

O retrato do atual momento da gigante americana é de Renato Guimarães, que assumiu como presidente da FMC para a América Latina em 1º de abril.

Em entrevista ao The AgriBiz, uma das primeiras desde que assumiu a missão, o executivo mostrou otimismo em relação à safra 2024/25, com uma expectativa de aumento no uso de tecnologia por parte dos produtores — embora os inventários ainda possam inibir a expansão dos volumes comercializados.

A recuperação completa, no entanto, ainda leva algum tempo. “Tem mais uma safra de transição, mas muito mais serena, muito mais tranquila do que foi a passada. Eu imagino que, na safra 2025/26, estaremos 100% normalizados”, disse Guimarães.

A adequação do nível dos estoques é uma vitória para a FMC, que viu seu lucro líquido despencar 50% no ano passado devido aos ajustes. A receita caiu 23% e, mesmo assim, os estoques globais da companhia ainda subiram em 2023.

Equacionar a situação no Brasil é fundamental para a FMC, até porque o País é o mais importante para as vendas da companhia, superando inclusive os Estados Unidos. No ano passado, os negócios por aqui foram responsáveis por 22% do faturamento mesmo com a queda de 37%. A receita no Brasil somou US$ 1 bilhão em 2023.

Nos primeiros meses deste ano, as vendas no Brasil ainda foram impactadas pelo esforço na redução dos inventários, contou Guimarães. “O consumo de produtos que ocorreu nesses primeiros quatro, cinco meses do ano foi muito maior do que as nossas vendas. Isso faz com que o nível do inventário diminua bastante”, disse.

Guimarães garante que os estoques da companhia “estão muito perto da normalidade”.  O produtor, segundo ele, também fez o seu dever de casa e consumiu os estoques de insumos que possuía na safra 2023/24, que está sendo finalizada. As revendas, no entanto, ainda teriam trabalho a ser feito. Mas, segundo ele, a situação deixou de ser dramática.

“Estou há 38 anos nisso. Já passamos vários anos com estoques um pouco acima do normal, como vemos este ano. O que vivemos no ano passado foi, sim, atípico”, afirmou o executivo que trabalhou durante 28 anos na Syngenta, onde começou como RTV (representante técnico de vendas) e chegou a cargos de direção e ao comitê executivo.

Antes de chegar à FMC, Guimarães liderou a Sinagro, sociedade entre Bunge e UPL que atua distribuição, por seis anos. O executivo também produtor, com fazendas de café no sul de Minas e de grãos em Goiás.

Crescimento

Durante a entrevista, Guimarães enfatizou que as vendas voltarão a crescer no segundo semestre, acompanhando também o novo comportamento de compras do agricultor. “Ele compra mais próximo, eu vendo mais próximo (da safra).”

Segundo o executivo, as vendas da FMC no Brasil já começaram a aumentar neste segundo trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, e estão em linha com as expectativas. “A FMC está crescendo acima da média da indústria, isso é um ótimo sinal”, afirmou.

Além do mercado mais equilibrado, o otimismo de Guimarães em relação à temporada 2024/25 está baseado na expectativa de ocorrência da La Niña, fenômeno climático que tende a impactar menos a produção brasileira, e a lançamentos da FMC. No ano passado, a companhia lançou seis novos produtos que devem chegar ao mercado este ano, incluindo o fungicida Onsuva.

“Não estávamos bem posicionados no mercado de fungicidas, e agora estamos. O nosso crescimento vem de toda a inovação que está permitindo à companhia participar de segmentos em que não estávamos”, afirmou Guimarães.

Até 2032, a FMC deve lançar 40 novos ingredientes ativos e mais de 50 produtos no Brasil — muitas dessas inovações advindas do portfólio da DuPont, aquirida pela gigante americana em 2018.

A reestruturação

A FMC decidiu voltar ter um responsável pela operação na América Latina depois de anos atuando com lideranças por país —o último a ocupar esse cargo foi Ronaldo Pereira, que passou a comandar os negócios em todas as Américas em 2019.

“A América Latina é o maior mercado da FMC e onde estão as maiores oportunidades de crescimento. A empresa precisava ter alguém com a senioridade para fazer toda essa nova jornada da companhia”, disse Guimarães.

O executivo não abriu os números de demissões na região e detalhes sobre a reestruturação, que também teve o objetivo de agilizar processos e decisões. Foi claro, no entanto, ao destacar o que foi preservado: os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a área de biológicos, chamada na FMC de plant health.

A empresa avalia, inclusive, aquisições em biológicos no Brasil e acaba de anunciar uma liderança na região: Alexandre Frateschi, que recentemente atuou como diretor de negócios da Micropep (desenvolvedora da próxima geração de soluções biológicas) será diretor de negócios de Plant Health para a América Latina, com a função de ampliar o portfólio de produtos no Brasil.

A FMC prepara para 2025 a estreia no Brasil no mercado de feromônios, categoria que promete quebrar paradigmas no controle de pragas. Os feromônios são capazes de quebrar o ciclo da reprodução de insetos e controlar a sua população adulta. “É um produto disruptivo”, diz Guimarães.

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Listada na bolsa de Nova York, a FMC está avaliada em US$ 7,2 bilhões. Nos últimos doze meses, as ações caíram 42%, um reflexo das dificuldades enfrentadas pela companhia.