A frustração com a safrinha no Brasil arranhou os resultados globais da Corteva, mas não foi capaz de nublar a percepção positiva dos investidores. Pelo contrário. As ações da gigante de sementes e defensivos agrícolas dispararam no after market nesta quarta-feira, premiando o modelo de gestão de estoques da companhia.
Depois do fechamento da bolsa de Nova York, os papéis da Corteva subiram mais de 5%, com a companhia de Indianápolis avaliada em US$ 32 bilhões. A reação positiva veio na esteira do balanço do quarto trimestre, divulgado nesta quarta-feira.
A Corteva bateu as estimativas dos analistas, com um lucro por ação de 15 centavos de dólar no trimestre, acima dos 6 centavos de dólar projetados. A primeira linha do balanço também surpreendeu. A receita líquida atingiu US$ 3,7 bilhões, superando os US$ 3,6 bilhões esperados.
O Ebitda da companhia no quarto trimestre, de US$ 383 milhões, também ultrapassou as expectativas dos analistas, conforme o consenso Bloomberg.
2024 vai melhorar
A gigante comandada por Chuck Magro, o ex-CEO da Nutrien, já consegue ver resultados melhores em 2024, apesar de reconhecer que ainda há desafios no mercado de defensivos agrícolas, como players como UPL e Lavoro também sinalizaram.
“A perspectiva para a agricultura global permanece construtiva para 2024. Houve uma demanda recorde por grãos, oleaginosas e biocombustíveis em 2023 e esperamos que continue neste ano”, disse Magro, no relatório que acompanha o balanço da Corteva.
No negócio de defensivos agrícolas, que responde por 43% do faturamento da Corteva, a empresa projeta um crescimento modesto neste ano, até porque ainda há um desbalanceamento entre estoques e demanda.
No ponto médio da faixa, o faturamento da Corteva crescerá 2% neste ano, chegando a US$ 17,5 bilhões. As projeções também sinalizaram uma recuperação da rentabilidade, com o Ebitda crescendo 6%, chegando a US$ 3,6 bilhões (quase 20% de margem).
Com a estrutura de capital em ordem, a Corteva espera gerar de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões de caixa livre e recomprar o equivalente a US$ 1 bilhão em ações ao longo de 2024.
Diferenciais da Corteva
Nos últimos meses, alguns analistas já vinham apontando que a Corteva tinha condições de superar o mercado, em parte graças à sua estratégia de gestão de estoques, mais eficaz do que players como a FMC.
Nos Estados Unidos, onde gera mais de 40% das vendas, a companhia adota um modelo de distribuição baseado em pequenos centros de distribuição que ficam bastante próximos das fazendas, o que ajuda a entender melhor o mercado.
Atuando em parcerias com representantes independentes de vendas, a Corteva consegue melhores insights em comparação a players que operam no modelo de grandes centros de distribuição que abastem áreas bem maiores, escreveram os analistas da gestora Noah Capital, em um relatório divulgado no fim do ano passado.
Em favor da Corteva, também está a fortaleza do negócio de sementes modificadas (mais de 50% do faturamento), área que conseguiu aumentar os preços em 13% globalmente ao longo do ano passado.
Isso, é claro, não impede a companhia de sofrer com os desajustes no Brasil, país que vem derrubando os resultados das grandes companhias de insumos desde o meio do ano passado.
Brasil é um detrator
No quarto trimestre, a América Latina voltou a sofrer com a queda nas vendas. No período, a receita da Corteva na região caiu 23% (já descontando a variação cambial), para US$ 3,9 bilhões. Em todas as outras regiões relevantes, as vendas cresceram (4% na América do Norte e 8% na Europa, Oriente Médio e África).
Na divisão de sementes, os problemas no plantio de soja e a janela mais apertada para a safrinha reduziram as vendas das tecnologias de milho.
“A queda nas vendas de sementes foi determinada pela expectativa de menor área plantada e o atraso nas compras no Brasil por causa do clima desfavorável”, justificou a Corteva. Na América Latina, as vendas da área de sementes caíram 12% no ano. Não fosse isso, o faturamento global teria crescido.
Em defensivos, o tombo foi ainda maior, com as vendas na América Latina recuando 30%. Os estoques de defensivos ainda desequilibrados também afetaram a receita do negócio de proteção de cultivos da Corteva na América do Norte (-2%) e Europa, Oriente Médio e África (-9%).
Nenhuma das regiões, porém, foi tão problemática quanto o Brasil.
A Corteva no mundo
No resultado consolidado, a receita global da Corteva caiu 3% no ano passado, somando US$ 17,2 bilhões. O lucro da companhia caiu 35%, totalizando US$ 735 milhões.
No quarto trimestre, a Corteva amargou um prejuízo de US$ 253 milhões.