Entrevista

Mosaic vê alta de 4% nas vendas de fertilizantes em ‘ano histórico’

Produtor deve voltar a investir no solo com relação de troca favorável, diz o novo diretor de distribuição da Mosaic; ritmo de comercialização acelerou nas últimas semanas

O mercado brasileiro de fertilizantes está perto de retomar a trajetória de recordes vista até a crise de 2022. Para a Mosaic, uma das maiores produtoras do mundo, as vendas do setor devem aumentar 4% este ano, para a marca inédita de 47 milhões de toneladas.

“Deve ser um ano histórico”, disse Luís Roberto Arruda, diretor de distribuição da Mosaic no Brasil, em entrevista ao The AgriBiz. “O agricultor tem visto uma oportunidade de negociar em níveis historicamente super positivos na relação de troca. Então ele está tomando posição.”

O ritmo de vendas acelerou nas últimas semanas, afirmou Arruda. Segundo estimativas da Mosaic, 32% do volume esperado para 2024 havia sido comercializado até 9 de fevereiro. Embora esse número ainda esteja abaixo do verificado no mesmo período do ano passado (em torno de 40%), os produtores têm sido mais ativos nas negociações à medida que têm maior clareza sobre o quanto colherá na safra de soja e o quanto plantará na safrinha.

Segundo o executivo, indefinições sobre produtividade e a situação de crédito do produtor vinham travando o ritmo dos negócios. “O agricultor precisa ter certeza do que vai colher para empenhar o pagamento da soja e tomar a decisão de 100% de seu fertilizante.”

A Mosaic calcula mensalmente um indicador para a relação de troca entre o preço dos nutrientes e das commodities, o IPCF (índice de poder de compra de fertilizantes). Em janeiro, ele atingiu 0,95, uma queda de 4% em relação ao mesmo período do ano passado. Qualquer nível abaixo de 1 indica que a relação entre preços de fertilizantes e safras é favorável para o produtor.

Com a relação de troca a seu favor, o produtor deverá aumentar o uso de tecnologia na próxima safra. A Mosaic trabalha com um aumento na área plantada de até 5% em 2024/25, mas Arruda destaca que boa parte do crescimento nas vendas ocorrerá devido a uma maior adoção de fertilizantes.

Depois de ter usado a poupança de nutrientes do solo na safra 2021/22 em resposta à disparada nos preços dos fertilizantes, os produtores devem ter um ano propício para reinvestir em nutrição, disse Arruda.

Safra e safrinha

Considerando apenas as vendas de fertilizantes para o plantio da safra 2024/25 de soja, o que ocorre a partir de setembro, 28% rodou até 9 de fevereiro, segundo Arruda. Carro-chefe das exportações brasileiras, a soja responde por cerca de metade do mercado brasileiro de fertilizantes.

O executivo também demonstrou otimismo em relação ao uso de fertilizantes na safrinha de milho, com uma perspectiva de estabilidade no número de aplicações. “Os agricultores estão contando com a safra de milho para compensar parcialmente as perdas de soja.”

Apesar do baixo preço do cereal —e na contramão de muitas consultorias e da própria Conab—, a Mosaic espera apenas uma ligeira redução na área plantada de milho na segunda safra. Para ele, as perspectivas para a janela de plantio e desenvolvimento da safrinha melhoraram com o ritmo acelerado dos trabalhos no campo.

“Havia uma expectativa de que o plantio da safrinha fosse atrasar muito, e não é o que estamos vendo. Pelo contrário, já plantamos o dobro da safrinha”, disse.

Sinal amarelo nas revendas

Apesar de terem praticamente equacionado o problema dos altos e caros estoques de defensivos e fertilizantes no ano passado, as revendas de insumos agrícolas enfrentam uma nova grande preocupação este ano: a inadimplência.

Arruda, que assumiu a posição no final do ano passado em seu retorno à Mosaic depois de uma passagem pela Nutrien, disse que a fabricante de fertilizantes acompanha de perto a situação das revendas e que nenhum grande problema foi identificado até agora entre os seus parceiros.

“Nossos parceiros têm um nível de credibilidade bastante relevante. Mas, até abril, vai continuar uma luzinha amarela para toda a indústria”, afirmou o executivo numa referência à data comum para os vencimentos dos agricultores. Cerca de 70% das vendas da Mosaic no Brasil passam por redes de distribuição, enquanto os 30% restantes são vendas diretas.

Estoques

O atraso na comercialização de fertilizantes resultou em um aumento nos estoques na passagem de 2023 para 2024, principalmente de nitrogenados, revelou Arruda. Mas esse crescimento, de aproximadamente 4%, não deve ser um problema este ano, acrescentou.

Primeiro, porque os estoques estão começando a ser consumidos agora com o aquecimento do mercado. Além disso, os preços dos insumos devem ficar perto da estabilidade este ano, ao contrário do ano passado (quando as revendas pagaram caro pelos insumos e tiveram de vender a preços mais baixos para reduzir os inventários).

Biológicos

A Mosaic segue se movimentando para estrear no crescente mercado de biológicos, com um time totalmente dedicado a este tema mundialmente. Também no final de 2023, a companhia anunciou a chegada de Alexandre Alves para a recém-criada posição de diretor da Mosaic Biosciences Brasil.

A companhia ainda não tem nenhum produto biológico no mercado e mantém em segredo detalhes sobre a sua estratégia. “Devemos entrar em biológicos, mas ainda estamos nos ajustes finais. Acredito que poderemos dar mais notícias no curto prazo”, disse Arruda.

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