Entrevista

No meio do caminho tinha a seca: UPL vê atraso na recuperação

"Num mercado em que todos caíram, a UPL saiu mais forte e ganhou participação de mercado", diz Rogério Castro, CEO da fabricante de insumos no Brasil

A seca que derrubou a produção de soja no Mato Grosso está atrasando a recuperação dos fabricantes de insumos agrícolas, que trabalharam duro no ano passado para reduzir os elevados (e caros) estoques que causaram um desequilíbrio em todo o mercado. A avaliação é de Rogério Castro, que comanda os negócios da UPL no Brasil.

Os resultados da gigante indiana, que figura entre as cinco maiores empresas de defensivos no mundo, têm sido afetados pelo alto nível dos inventários. Embora o problema seja global, a indústria no Brasil tem encontrado uma adversidade adicional para virar a página — o País é o principal mercado para a companhia, inclusive maior do que a Índia.

“Com a seca, o tempo de recuperação se alargou”, disse Castro em entrevista ao The Agribiz no escritório da UPL em Campinas (SP). A safra atual, aliás, tem sido a mais desafiadora nos 34 anos de carreira do agrônomo, que antes de vender a DVA à gigante indiana em 2011, possibilitando a entrada da UPL no Brasil, passou por empresas como Monsanto e FMC.

Os desafios vieram de todos os lados. Primeiro, a pandemia de covid-19 resultou numa ruptura das redes de abastecimento no mundo todo, levando os preços de fertilizantes e de alguns químicos, como o glifosato, a recordes.

Depois, a guerra na Ucrânia gerou mais instabilidade, provocando uma nova rodada de aumento de preço. Estoques foram formados a valores altos, os agricultores seguraram as compras e os preços começaram a voltar. Foi necessário um movimento de redução de estoques em todos os elos da cadeia.

Rogério Castro, CEO da UPL no Brasil.
Rogério Castro, CEO da UPL Brasil: com custos competitivos, empresa ganhou participação de mercado em 2023 | Crédito: Divulgação

“Mas a seca fez com que o consumo não acontecesse como o esperado”, conta Castro. A safra de soja em Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, teve um índice recorde de replantio, enquanto outra parte relevante da área sofreu uma mudança importante de planejamento (deixou-se de plantar soja para plantar algodão e não plantar milho safrinha, por exemplo).

O ajuste parece pequeno perto do tamanho do mercado de insumos, mas essas mudanças causaram “um efeito enorme” na indústria, disse Castro — exatamente no momento que ela estava se aproximando do fim de um longo processo de ajuste.

Com a seca, o setor de insumos chegou em janeiro sem poder afirmar que o problema dos estoques estava totalmente resolvido, embora os inventários já tenham sido reduzidos de maneira importante, disse ele.

Preços reagem

Na China, um dos maiores fornecedores de matéria-prima para o setor, os preços já começaram a reagir, disse o executivo. Da mesma forma, os valores que os agricultores pagam pelos insumos apresentam uma recuperação desde outubro, quando o mercado chegou ao fundo do poço. De lá para cá, eles subiram cerca de 5%, segundo ele.

“Agora temos que esperar a safrinha, esperar o comportamento do preço das commodities e colher bem o resto da soja para ver como será essa recuperação. E que não tenhamos adversidades climáticas como a desta safra, que machucou bastante o Cerrado. E quando machuca o Cerrado, machuca todo mundo”.

A UPL na crise

O ano mais desafiador da carreira de Castro teve também conquistas. Segundo ele, a UPL ganhou participação de mercado no Brasil graças à sua forte base de manufatura. As 48 fábricas da empresa no mundo contribuem para um eficiente controle de custos, fundamental em momentos de fortes ajustes.

“Num mercado em que todos caíram, alguns saem mais fortes da crise e outros saem mais debilitados. Eu tenho certeza absoluta de que a UPL saiu mais forte por conta dessa fortaleza na manufatura que temos globalmente, principalmente na China e na Índia, os maiores fornecedores de defensivos do mundo. Isso faz com que a UPL tenha uma grande vantagem competitiva”, disse.

No Brasil, é líder no mercado de inseticidas para lavouras de soja e de milho, segundo dados da consultoria Spark Inteligência Estratégica. No mercado de defensivos agrícolas como um todo, a companhia só não é maior que as tradicionais Syngenta, Bayer e Corteva.

Nas vendas diretas ao produtor, a estratégia da UPL está concentrada na Orígeo, uma joint venture com participações iguais entre a gigante indiana e a Bunge. As empresas também são sócias na Sinagro, que atua no segmento de distribuição. No setor de sementes, a UPL é sócia da Serra Bonita Sementes, com sede em Goiás.

A UPL ainda possui uma empresa dedicada exclusivamente ao mercado de biológicos, a Bioplanta, que é ligada à divisão global da UPL conhecida como NPP (Nature Plant Protection). Esse negócio tem ganhado cada vez mais importância na companhia, que pretende ter metade da receita proveniente de produtos de inovação (diferenciados e soluções biológicas) até 2027.