A tese do Pátria para consolidar as revendas de pecuária vai voltar a acelerar, saindo da hibernação que marcou o biênio 2023/24 — período caracterizado pela conjunção de perda de poder de compra dos pecuaristas e deterioração dos preços dos insumos agroquímicos.
À frente da Axia Agro desde o nascimento do negócio, que estreou com a aquisição da Agroline — uma rede de lojas sediada em Mato Grosso do Sul —, Ary Rodrigues Junior prepara a abertura de 40 lojas até 2027.
Com esses planos, a Axia Agro chegará à marca de 100 lojas, um posto que a faria ser a líder disparada na distribuição de insumos para pecuária, bem à frente de concorrentes como Alvorada (controlada pela Kinea) e Grupo Raça Agro, do empresário João Fagundes.
A expansão terá um foco regional claro. “Temos uma oportunidade muito grande em Mato Grosso e Goiás”, disse Rodrigues Junior ao The AgriBiz.
É também uma forma de distribuir melhor o parque de lojas da Axia Agro, ainda concentrado em Rondônia — Estado de origem da Casa da Lavoura, adquirida em 2022.
Neste momento, as aberturas de novas lojas parecem ser opções mais factíveis do que M&As, ainda que o playbook tenha as aquisições como uma estratégia crucial para dar escala aos negócios.
“Sempre fazemos prospecções, mas em virtude do ciclo da pecuária, a rentabilidade das lojas está pequena. Nesses momentos, não é atrativo para o dono da loja vender”, argumentou Rodrigues Junior.
Do lado da Axia Agro, o custo para abrir uma nova loja é relativamente baixo, em torno de R$ 3 milhões. Usualmente, os imóveis das revendas são alugados e construídos sob demanda para a companhia — build to suit, no jargão do mercado imobiliário.
Em tempos de virada do ciclo da pecuária, que vai estimular a produção de bezerros e a rentabilidade dos pecuaristas, esse investimento tende a ser maturado entre dois anos e meio a três anos. “Não é uma coisa de longo prazo. Isso é bastante interessante”, disse o executivo, justificando o racional para a abertura de novas revendas.
A verticalização da nutrição
Enquanto prepara a abertura das novas lojas, a Axia Agro também se estrutura para ampliar a participação da produção própria de ração para bovinos, uma estratégia de verticalização que não fazia parte do tese inicial do Pátria — ao menos com a dimensão bilionária agora almejada.
Para a Axia Agro, a forma de atuação em nutrição animal (núcleo, sal mineral, proteinados e concentrados) se tornou mais clara quando a companhia adquiriu a Casa da Lavoura, que já contava com duas fábricas de sal mineral, em Ariquemes (RO) e Tangará da Serra (MT).
Depois do M&A, a Axia Agro percebeu que a Casa da Lavoura sofria menos que a Agroline, que contava com um portfólio ainda muito exposto aos medicamentos veterinários. A demanda do pecuarista também fez diferença. “É o maior share of wallet do pecuarista. 80% do consumo é nutrição”, lembrou Rodrigues Junior.
No longo prazo, o negócio de nutrição também apresenta um potencial de crescimento maior que os demais (medicamentos veterinários e pastagens) graças à tendência de ganhos de produtividade na pecuária. “Se você tecnificar mais a sua criação e reduzir o idade de abate, você não vai utilizar mais sanidade. O que vai crescer mais? Nutrição”, argumentou.
Para que esse processo funcione de forma eficiente, a Axia Agro precisa estar mais perto dos pecuaristas. “A ração não viaja 2 mil quilômetros. A ideia agora é investir em plantas de nutrição em regiões próximas às nossas lojas, além de fazer arrendamentos. Não precisamos, necessariamente, comprar ou construir plantas”.
Atualmente, a Axia Agro conta com três fábricas de nutrição animal. Além das plantas que vieram com a compra da Casa da Lavoura, a companhia arrendou uma unidade em Araguaína.
Por enquanto, a Axia Agro trabalha com parceiros no fornecimento de ração — companhias como a De Heus e Prodap fornecem sal mineral para as lojas do grupo —, mas o objetivo é contar com mais produção própria, preferencialmente com mais quatro plantas arrendadas.
“Quando você trabalha com um terceiro, fica dependendo muito da disponibilidade dele. No pico da demanda, eles também têm suas carteiras de prioridade. Sem contar o fato de que você deixa uma margem”, frisou Rodrigues Junior.
Nessa trajetória, a Axia Agro poderia alcançar R$ 3 bilhões de faturamento apenas com as vendas de nutrição animal em alguns anos, levando as vendas consolidadas da companhia para a casa de R$ 5 bilhões.