Biológicos

Pura travessura: Como a Biotrop quer ser uma das maiores do mundo

“Felizmente, por coincidência do destino e por mérito nosso, fomos adquiridos por uma empresa absolutamente pura de biológico”, disse Antonio Carlos Zem

Enquanto alguns players de insumos biológicos enfrentam as dificuldades naturais para crescer em um mercado com menos renda disponível no campo, a Biotrop não só continua a crescer de forma acelerada como deve chegar a R$ 930 milhões neste ano.

Depois de ganhar as manchetes do 7 de setembro com o deal mais emblemático da história da indústria brasileira de biológicos — a venda do controle para os belgas da Biobest, por R$ 2,8 bilhões —, a Biotrop será a grande alavanca do grupo para construir uma gigante global de insumos biológicos.

As ambições não são poucas. “Vamos entrar no ranking dominado pelas químicas, e estar entre as dez maiores”, disse Antonio Carlos Zem, CEO da Biotrop, em entrevista ao The AgriBiz.

Isso significa chegar a US$ 1 bilhão de faturamento globalmente até 2030. Considerando os negócios da Biobest, incluindo a Biotrop, a companhia ainda não chega a US$ 500 milhões.

Para crescer globalmente, a Biobest reorganizou a estrutura do negócio. A partir de agora, a companhia belga conta com uma holding, a BioFirst.

Abaixo dela, estarão quatro divisões: Biobest (reunindo o legado dos belgas, com os macrobiológicos usados na proteção de cultivos), a Biotrop (microbiológicos, feitos a partir de bactérias e fungos), Bioworks (empresa americana que trabalha com fungos) e Plant Products (uma divisão de distribuição com sede no Canadá).

Fábrica da Biotrop

A Biotrop será a maior delas e a grande responsável para que o grupo alcance o faturamento de R$ 1 bilhão, diz Zem. A ideia agora é acelerar a expansão internacional, aproveitando as sinergias do grupo belga para crescer na Europa e Estados Unidos.

No ano passado, a Biotrop faturou R$ 618 milhões e vislumbra bater R$ 930 milhões em 2024, um crescimento de 50%, um feito notável para um mercado que vem desacelerando em meio à queda dos preços dos grãos.

Recentemente, executivos de algumas das mais importantes indústrias de insumos biológicos do país reconheceram que o crescimento está mais lento. Na Lavoro, a inauguração de uma fábrica chegou a ser postergada para o segundo semestre.

Salto quântico

Para Zem, um biólogo que liderou a construção da Biotrop do zero, a companhia está preparada para dar outro “salto quântico”. Se continuar crescendo na atual velocidade, a companhia pode se tornar a maior de biológicos do Brasil em alguns anos, desbancando as líderes Simbiose e Koppert.

“Estamos rapidamente encostando. Somos a terceira do ranking, e somos a que mais cresce”, disse ele, com a habitual sinceridade que o caracteriza. “Sou da linha antiga. Tenho 72 anos de pura travessura”, brincou.

Na Biotrop, crescer acima da média do mercado é um imperativo. “Nós temos tecnologia e pessoas de primeira linha. Não pode aceitar crescer na média”, prosseguiu o executivo.

Neste ano de crise para muita indústria de insumos químicos, a Biotrop está na contramão, ampliando o time de vendas e assistência técnica, um elo fundamental para ajudar o agricultor que ainda está começando a usar os produtos biológicos.

Atualmente, a companhia conta com 270 pessoas no campo, mas a ideia é fechar este ano com 300. Incluindo os profissionais de P&D, da área administrativa e das fábricas, o quadro deve passar de 870 funcionários.

Para se ter uma ideia de comparação, o time de vendas de um negócio de biológicos é três vezes maior do que uma indústria de defensivos químicos, em média. Um time qualificado é crucial no processo de educação do mercado.

Fronteiras dos biológicos

Há muito anos, Zem é um defensor da transformação das práticas agronômicas. Para ele, o mundo está cada vez mais próximo de um momento em que será possível fazer agricultura apenas com o uso de biológico, dispensando os químicos.

Não à toa, sua aposta é que as tradicionais indústrias de insumos químicos ficarão estagnadas (o que as leva a investir em biológicos).

“O faturamento das empresas químicas vai ficar meio estagnado. Os preços vão cair com os genéricos”, conjecturou, citando a baixa probabilidade de lançamentos relevantes na área química.

Do lado dos biológicos, as maiores fronteiras de tecnologias devem ser rompidas nos próximos cinco anos, incluindo o lançamento de um bioherbicida seletivo (que mate apenas as ervas daninhas, preservando a cultura agrícola).

“O bioherbicida é um turning point. Ninguém lançou um economicamente viável, mas a indústria está progredindo. Nós e três ou quatro concorrentes. Temos três diferentes frentes de pesquisas. Estamos a caminho”, animou-se.

Em outra frente, a Biotrop trabalha para ter um biodefensivo contra a ferrugem da soja, outro mercado gigantesco e ainda inexplorado. “Não chegamos lá, mas estamos perto. Arriscaria que em três ou quatro anos”.

Se depender de Zem, a indústria de defensivos químicos está com os dias contados. Ele nem esconde a satisfação, aliás. “Tínhamos o temor de que entrasse um grande grupo de fertilizantes ou defensivos químicos e descaracterizasse a empresa. Felizmente, por coincidência do destino e por mérito nosso, fomos adquiridos por uma empresa absolutamente pura”.