
O preço do óleo de soja vem caindo desde o início do ano, criando condições para que o governo reveja a decisão de postergar o aumento da mistura do biodiesel ao diesel para 15%. A avaliação é de Daniel Furlan Amaral, diretor de economia e assuntos regulatórios da Abiove (Associação das Indústrias de Óleos Vegetais), que cobrou uma sinalização do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) sobre a retomada do aumento da mistura.
No mercado atacadista de São Paulo, o preço do óleo refinado caiu 9% nos três primeiros meses deste ano, segundo dados do IEA-SP (Instituto de Economia Agrícola do estado). O preço do biodiesel caiu 10% no mesmo período, de acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis).
Nos dois casos, os preços caíram principalmente em resposta à colheita recorde, em torno de 170 milhões de toneladas de soja, e ao início da temporada de esmagamento.
“Esperamos que o B15 aconteça o mais rápido possível. Se não ocorrer de forma breve, que o CNPE possa pelo menos sinalizar quando isso vai acontecer”, disse Amaral durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira pela Abiove para comentar o PIB da cadeia da soja em 2024 — indicador elaborado pelo Cepea.
Sem o aumento da mistura, há uma diminuição significativa do potencial de crescimento do PIB do setor, afirmou Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea, durante o mesmo evento. “Perdemos um pouco da agregação de valor que o biodiesel ofereceria”, completou Furlan.
Enquanto aguardam uma definição, as indústrias exportarão parte do óleo que seria usado para biodiesel, segundo o diretor da Abiove. O restante acaba sendo direcionado para os estoques de óleo de soja, normalmente utilizados durante a entressafra.
O governo federal decidiu adiar o B15 em meados de fevereiro devido a preocupações com o aumento generalizado de preços. O óleo de soja estava entre os vilões da inflação de alimentos, ao mesmo tempo em que os preços do biodiesel, também em alta, poderiam elevar os preços do diesel aos distribuidores, encarecendo fretes e gerando mais inflação.
Na ocasião, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que se reuniria com o CNPE em 60 dias para reavaliar a retomada da mistura. Mas ainda não há novidades sobre essa negociação.
Margens em queda?
A necessidade de previsibilidade em relação ao cronograma de biodiesel ficou ainda maior com o aumento da volatilidade nos mercados em razão das idas e vindas na política tarifária dos Estados Unidos.
Com o provável aumento da demanda chinesa pela soja do Brasil em meio à guerra tarifária entre EUA e China, haverá um incentivo maior para que as tradings embarquem mais grãos. Com isso, os preços da commodity devem subir, possivelmente pressionando as margens de esmagamento em 2025.
“É possível que a gente tenha mais dificuldade na indústria. Por isso a importância de ter previsibilidade”, disse Amaral. “A indústria só tem capacidade de reter a soja aqui se ela tiver segurança sobre o que vai acontecer com o biodiesel.”
O PIB da cadeia
Em 2024, o PIB da cadeia da soja e do biodiesel caiu 5% devido à quebra da safra de soja e seus efeitos na cadeia, especialmente em serviços. Para 2025, a expectativa é de crescimento em meio à maior colheita da história e processamento recorde, puxado pelas boas perspectivas para a demanda de farelo de soja e de biodiesel.
A demanda pelo biocombustível deve crescer mesmo se a mistura for mantida em 14%, pois o consumo de diesel vem crescendo no País, o que acaba estimulando as vendas de biodiesel, lembrou Amaral.