Nos últimos meses, temos abordado nesta coluna as consequências do El Niño para a agricultura brasileira. O fenômeno, aliás, deve continuar afetando os agricultores por aqui —em maio, por exemplo, a expectativa é de chuva acima da média no Rio Grande do Sul.
Mas hoje vamos abordar um efeito do El Niño na Ásia que também vem influenciando os produtores no Brasil, especialmente os de café.
A exportação do café brasileiro está em alta por conta de uma seca persistente nas áreas produtoras da commodity do Vietnã e da Indonésia, respectivamente o primeiro e o terceiro maiores exportadores de café robusta do mundo —o Brasil é o segundo.
Em março, os embarques brasileiros de café robusta, que é usado na produção do café solúvel, dispararam 690% em relação ao mesmo mês de 2023, atingindo mais de 800 mil sacas, segundo dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café). As exportações totais de café verde brasileiro, incluindo o arábica, avançaram 41% no mesmo período.
Vietnã e Indonésia são influenciados pelas chuvas de monções, que enfraquecem sob a atuação do El Niño. O atual período é de colheita na Ásia, mas a produtividade está mais baixa que o normal devido à baixa precipitação. Os temores de escassez de café robusta no mundo têm levado os preços da commodity em Londres a sucessivos recordes.
Por ser uma cultura perene, a normalização da safra de café na Ásia apenas acontecerá no primeiro semestre de 2025, já sob o fenômeno La Niña e a promessa de uma condição climática mais favorável ao desenvolvimento dos cafezais.
Por enquanto, a temperatura do oceano Pacífico equatorial central continua acima da média, com anomalia de +0,9°C. É um valor bem menor que o registrado em novembro, +2,1°C, mas é o suficiente para a manutenção do El Niño.
Efeitos no Brasil
Apesar da previsão de temperaturas um pouco mais baixas sobre o centro e sul do Brasil no fim desta semana, o calor acima do normal ainda irá predominar em boa parte do País no mês que vem, exigindo monitoramento frequente da umidade do solo e do desenvolvimento da segunda safra de milho.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.
