O espaço onde se desenvolve o agronegócio brasileiro, um imenso mosaico de culturas distribuídas sobre seis grandes biomas, já não passa mais despercebido pelo crescente número de satélites de observação da terra.
Com os satélites em órbita, observamos detalhadamente a complexidade e dinâmica desse setor, onde a busca por crédito se encontra com as demandas globais por sustentabilidade.
Em 2025, a realização da COP 30 em Belém (Pará) representa um ponto de convergência dos desafios nacionais e globais e aponta a necessidade de repensarmos o financiamento agrícola, utilizando as lentes da tecnologia para projetar um futuro “mais verde” e mais equilibrado.
Tecnologia geoespacial: cartografando riscos e oportunidades com precisão
Em um território de dimensões continentais como o Brasil e com variáveis complexas a serem tratadas, as informações tradicionalmente disponíveis para monitorar riscos de crédito e socioambientais, muitas vezes baseadas em médias regionais ou municipais, oferecem apenas uma visão macro da verdadeira situação de cada produtor e cada propriedades com poucos detalhes que permitam guiar as melhores decisões.
Para conhecer verdadeiramente o risco e o potencial de cada produtor é preciso contar com uma abordagem mais sofisticada. O sensoriamento remoto baseado em tecnologia geoespacial já nos permite:
- Refinar a análise de risco com visão granular: abandonamos a visão embaçada dos dados agregados e mergulhamos na nitidez das imagens de satélite. Analisamos a condição das lavouras, a topografia do terreno, o histórico de uso e cobertura da terra, o clima local e os riscos ambientais com um detalhamento antes inimaginável. A variabilidade climática, com eventos extremos como a falta ou excesso de chuvas em momentos cruciais do ciclo das culturas, pode transformar rapidamente um cenário de baixo risco em perdas significativas. Acompanhar essas mudanças com imagens frequentes é essencial para entender a dinâmica das dos territórios agrícolas. Combinando essa visão com o rico banco de dados da Serasa, que mapeia o comportamento de crédito e o histórico de pagamentos, construímos modelos preditivos robustos, como um algoritmo afinado para identificar padrões e tendências, oferecendo uma leitura de risco a priori muito mais precisa.
- Monitorar ativos e passivos ambientais com precisão: verificamos a conformidade socioambiental com os padrões internacionais, garantindo a rastreabilidade das ações, como um código de barras digital para cada hectare do território, seja ele preservado ou cultivado. Além das exigências legais, cada setor ou empresa possui suas políticas de conformidade socioambiental que traz desde diferenciais de mercado até o acesso a mercados globais exigentes. Monitoramos e acompanhamos diariamente cada parâmetro. E no que se refere aos ativos ambientais, o mercado está evoluindo. Basta observar que os créditos de carbono, até então originados principalmente de excedentes florestais, o chamado REDD++, caminha para um próximo ciclo. A cada dia, ganham mais espaço os projetos de restauração florestal e de agricultura regenerativa, envolvendo melhores práticas de manejo agrícola, visando sequestrar carbono no maior reservatório do planeta que é o solo. A tecnologia geoespacial é fundamental para mensurar e verificar o impacto dessas práticas sustentáveis.
A tecnologia geoespacial não é apenas uma ferramenta de análise de crédito; ela é o alicerce para a construção de um mercado de ativos ambientais transparente e confiável, conectando o fluxo de recursos financeiros com a preservação do nosso patrimônio natural.
COP 30: farol para o agro sustentável
A realização da COP 30 no Brasil coloca o país no centro do debate global sobre sustentabilidade. É uma oportunidade ímpar para demonstrarmos ao mundo que podemos conciliar produção agropecuária e preservação ambiental, utilizando a tecnologia como nossa principal aliada. O Brasil possui um histórico significativo em monitoramento territorial, sendo um dos pioneiros na recepção e aplicação operacional de dados de sensoriamento remoto. A COP 30 deve nos permitir valorizar esse legado e mostrar como estamos utilizando essa expertise para direcionar as demandas globais por sustentabilidade, exigindo rastreabilidade, transparência e compromisso com práticas ambientalmente responsáveis.
A pressão por critérios ESG se intensifica, e a capacidade de combinar sensoriamento remoto à análise de riscos de crédito surge como uma ferramenta valiosa para atender a essas exigências, permitindo a verificação e a validação das ações em campo. Essa pressão se estende a toda a cadeia, desde quem origina a matéria-prima até quem financia a produção e quem fornece os insumos. Incentivar e recompensar agentes da cadeia produtiva do agro que adotam práticas inovadoras e ambientalmente responsáveis é fundamental.
Perspectivas e tendências: colhendo frutos da inovação
As novas tecnologias já permeiam todas as etapas da jornada de crédito, avaliando e monitorando e conformidade ESG de cada produtor, imóvel rural ou mesmo de uma parcela cultivada.
Novos instrumentos financeiros lastreados em práticas sustentáveis começam a surgir, conectando investidores com produtores engajados na preservação. O Brasil, como um celeiro de inovação, pode colher os frutos desse novo paradigma, consolidando sua liderança em agro sustentável. A recente regulamentação do Fiagro Multimercado, por exemplo, é um passo importante nessa direção.
Na Serasa Experian, acreditamos que a tecnologia aliada ao conhecimento e experiência de quem atua no campo constituem as chaves para abrir as porteiras de um novo ciclo no agronegócio brasileiro. Um ciclo onde o crédito flui em harmonia com a natureza, impulsionando a produção e preservando o meio ambiente. Convidamos o setor a embarcar nessa jornada, a cultivar a inovação e a colher os frutos de um futuro próspero com sustentabilidade.
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Bernardo Rudorff é Gerente Executivo de Pesquisa e Desenvolvimento para Agro na Serasa Experian.
Joel Risso é Diretor de Novos Negócios Agro da Serasa Experian.