Maior banco privado do agronegócio, o Bradesco BBI quer impulsionar o seu banco de investimentos no campo e aumentar a presença no middle market, um mercado que vem crescendo com a profissionalização e expansão de empresas regionais e familiares ligadas ao agro.
Um termômetro desse apetite foi o primeiro evento do Bradesco BBI para os clientes do setor, realizado no Hotel Rosewood, um dos mais balados (e caros) de São Paulo, nesta quarta-feira (11). Entre um painel e outro, André Moor, head de agronegócio do BBI, contou que este ano o banco decidiu destacar uma parte de sua equipe para atender securitizações com porte menor do que as usualmente realizadas pelo banco.
Top 3 entre os maiores distribuidores de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), o BBI tem presença cativa em emissões bilionárias, incluindo as de multinacionais como JBS e BRF. Agora, quer aproveitar oportunidades crescentes entre as pequenas empresas.
“É um foco importante para o banco. Tem bastante coisa que pode ser feita nessa classe de ticket menor. É um cliente que tem crédito bom, tem governança e que tem tomador na outra ponta”, disse André Moor, head de agronegócio do investment banking do Bradesco, ao The AgriBiz.
Na mira do banco estão empresas com Ebitda entre R$ 50 milhões e R$ 150 milhões, o que sinaliza uma boa qualidade de gestão, segundo Moor. Com esse porte, mesmo que a empresa seja familiar, está estruturada com um CEO, CFO, práticas de governança e, se ainda não tiver, está preparada para ter um profissional de relações com investidores.
Companhias com esse perfil, acrescenta o executivo, já estão em busca de crédito com prazo mais longo — o que muitas vezes o banco comercial não consegue oferecer ou o custo financeiro acaba ficando alto demais. “Esse cliente quer uma operação mais estruturada e o mercado de renda fixa tem apetite para isso”, diz.
CRA “puro sangue”
As restrições impostas às operações de CRAs no início do ano — que exigem que o emissor tenha mais de dois terços de sua receita consolidada proveniente do agronegócio — têm sido benéficas para o setor, na avaliação de Moor.
Com as regras autorizando as captações às empresas com operação “puro agro”, houve uma restrição no número de emissores, aumentando a demanda dos investidores pelos títulos emitidos e melhorando as condições para o tomador do crédito.
“As mudanças foram positivas para quem está na cadeia. Houve um aumento na demanda, o que provoca um aperto da taxa e aumento de prazo”, afirmou.
No primeiro semestre, as emissões de CRAs somaram R$ 20 bilhões, um salto de 45%, segundo dados da Anbima. O desempenho na segunda metade do ano estará muito relacionado às decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, avalia o executivo.
“Se o CFO começar a ver um ciclo de alta de juros de verdade, pode haver um impacto no fluxo de emissões”, disse o banker do BBI.
Para o mercado de Fiagro, Moor vê um momento de “depuração”, com os investidores mais criteriosos em relação à carteira dos fundos depois de casos de default que assustaram poupadores e acabaram também prejudicando a rentabilidade dos fundos.
Em busca de market share
Para ampliar a participação de mercado na concessão de crédito ao setor, onde fica atrás apenas do Banco do Brasil, o Bradesco também está se movimentando em direção a ampliar o atendimento a clientes médios.
Entre as novas iniciativas, está a compra de metade do banco John Deere, que deixará de ofertar apenas crédito para compra de máquinas e passará a ser um banco multiproduto. Com ele, o Bradesco aumenta a sua base de originação e pode expandir a sua base de clientes, que já conta com 70 mil pessoas físicas e jurídicas.
Como crescer o volume de crédito está mais difícil este ano diante da queda no preço dos insumos (e de um apetite menor do produtor para novos investimentos), o Bradesco trabalha para ganhar market share, segundo Roberto França, diretor de agronegócios do banco.
Considerando apenas as operações diretas para o agro, a carteira de crédito do Bradesco totaliza R$ 72 bilhões. Incluindo outras operações voltadas aos clientes do setor na conta, esse volume ultrapassa R$ 115 bilhões, o maior entre os bancos privados.