FIDCs

A força do barter (e da cobrança). Fundo da Agrogalaxy vê inadimplência despencar

Levantamento mostra uma aceleração nos pagamentos dos agricultores, reduzindo os índices de atraso no FIDC da rede de revendas

Pagamentos soja

O ritmo de pagamentos dos agricultores ainda está longe do ideal, mas as carteiras de alguns dos fundos mais emblemáticos que investem em recebíveis cedidos por revendas ou indústrias de insumos agrícolas começam a melhorar — e alguns rapidamente.

Em um sinal de que a intensa campanha de barter vem colhendo resultados, a Agrogalaxy despontou como o principal destaque positivo, mostra um levantamento mensal feito por The AgriBiz em uma base de 88 FIDCs dedicados à compra de recebíveis do agronegócio.

No FIDC da Agrogalaxy, um veículo de R$ 786 milhões estruturado pela TerraMagna, os recebimentos das faturas dos produtores de soja que compraram insumos na revenda controlada pelo Aqua Capital aceleraram em junho.

Em maio, os atrasos na carteira do fundo chegavam a 52%, o que ainda não era um sinal amarelo tendo em vista o comportamento histórico dos produtores, que costumam demoram até 90 dias para pagar as faturas.

A virada de junho representou um ingresso brutal de caixa no fundo, reduzindo os atraso para apenas 5,2%. Entre maio e junho, a inadimplência do FIDC da Agrogalaxy caiu de R$ 283 milhões para R$ 35,3 milhões, mostra o levantamento feito por The AgriBiz. Nesse fundo, não há contas atrasadas há mais de 90 dias.

Alguns gestores de crédito e fundos de investimentos já vinham notando os sinais de melhora, que também podem ser atribuídos a um comportamento mais proativo nas cobranças, quebrando um paradigma histórico que tornava as conversas entre produtores e fornecedores bem mais arrastadas.

“As revendas em geral estão menos tolerantes na cobrança aos produtores”, disse um investidor que acompanha o mercado de distribuição de insumos agrícolas há muitos anos.

Em uma recente entrevista ao The AgriBiz, Tadeu Barreto, gestor do RURA11 — Fiagro da Itaú Asset —, já havia sinalizado que o comportamento de cobrança poderia resultar na melhora das carteiras.

“Tenho a sensação de que as empresas, gestores e securitizadoras foram mais firmes na cobrança. Todo mundo esperava o caos, a gente esperava um cenário pior do que a média, mas fomos surpreendidos positivamente, com um fluxo melhor do que o dos últimos anos”, disse Barreto na ocasião.

Revendas e indústrias

Mesmo considerando esse novo comportamento do mercado na cobrança, o desempenho positivo da Agrogalaxy salta aos olhos. Quando se compara com o fundo proprietário da TerraMagna, a mesma fintech que seleciona os recebíveis que podem fazer parte do FIDC da rede de revendas, o desempenho é melhor.

No FIDC proprietário da TerraMagna, a inadimplência também melhorou, indicando que os produtores estão pagando. No entanto, o ritmo de queda foi menor, com o índice de atrasos sobre a carteira saindo de 21,5% em maio para 10,7% em junho.

Em números absolutos, a inadimplência caiu pela metade, saindo de R$ 111 milhões para R$ 49 milhões. No FIDC proprietário, a TerraMagna compra recebíveis de clientes de revendas agrícolas e indústrias de insumos. Nos últimos dois anos, o fundo da TerraMagna vem entregando retornos gordos.

A carteira do FIDC da Agriconnection, que possui um patrimônio de R$ 114 milhões e costuma ficar com recebíveis de agricultores menos arriscados, também ilustra uma melhora. Os atrasos caíram de 7,5% da carteira para apenas 0,7% no fim de junho, mostra o levantamento.

Gigantes de agroquímicos, como a Bayer, também contam com FIDCs para ajudar no financiamento dos clientes (revendas, cooperativas e produtores rurais de maior parte).

Na Bayer, o fundo de R$ 881 milhões foi estruturado em parceria com o Citi e apresenta um nível baixo de inadimplência. Em junho, os atrasos representavam somente 1,3% da carteira.

Trabalho a fazer

Na indústria de FIDCs do agro, nem todos podem comemorar. Alguns fundos ainda terão um trabalho árduo de cobrança para reduzir o nível de atrasos. A Nutrien é uma delas.

O FIDC patrocinado pela gigante canadense, um veículo de R$ 1,5 bilhão de patrimônio líquido que tinha uma carteira de R$ 651 milhões em junho, registra um índice de atrasos sobre a carteira de 35%, com mais de 3% dessa inadimplência atrasada há mais de 90 dias. Além disso, as provisões para devedores duvidosos aumentaram 32,8% em junho, totalizando R$ 40,5 milhões.

No Fiagro FIDC da Lavoro, maior rede de revendas do país, houve uma melhora discreta ao longo de junho, mas o índice de atraso ainda está em 34,7%, considerando uma carteira de R$ 124,5 milhões. Além disso, 1,3% da carteira está atrasada há mais de 90 dias. O fundo da Lavoro possui um patrimônio de R$ 190 milhões.

A perspectiva é que, conforme a próxima safra de soja se aproxime — o plantio começa em setembro e os insumos precisam ser comprados antes —, os produtores acelerem os pagamentos, melhorando estes indicadores. Na visão dos gestores do fundo, a expectativa é de recuperação em até 60 dias.

***

As análises das carteiras de FIDCs dão algumas pistas sobre a evolução dos pagamentos dos produtores rurais, mas é preciso ponderar que a escolha dos recebíveis pelos gestores dos fundos pode criar um viés de seleção.

Na prática, a carteira de um fundo pode ter um desempenho naturalmente melhor que a carteira direta dos players de insumos agrícolas. O ritmo de pagamentos, no entanto, mostra a direção do mercado.