Regulação

Acabou a festa: Fazenda aperta o cerco para emissões de CDCAs

Conselho Monetário Nacional (CMN) estendeu aos CDCAs as restrições aplicadas aos isentos em fevereiro

Fazenda restringe emissões de CDCAs

Cinco meses depois de tomar uma decisão histórica para o mercado de crédito privado, restringindo o lastro de emissões de títulos isentos, como CRAs e LCAs, o Conselho Monetário Nacional (CMN) apertou o cerco mais uma vez. Nesta quinta-feira, o órgão incluiu, nas mesmas regras, as emissões de Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs).

A decisão ocorre na esteira de emissões históricas do título incentivado, como a captação de R$ 8,5 bilhões realizada pelo BTG Pactual (usando a Engelhart, trading que está sob o guarda-chuva do banco). Dias depois, foi a vez da Vamos, locadora de caminhões e máquinas agrícolas, preparar uma emissão de CDCAs.

“A medida visa a aumentar a eficiência da política pública no suporte ao agronegócio, assegurando que esses títulos sejam lastreados em operações compatíveis com as finalidades que justificaram a sua criação. Dessa forma, o CMN reafirma a possibilidade de empresas típicas do agronegócio financiarem suas atividades por meio da emissão de CDCAs”, afirmou, em comunicado, o Ministério da Fazenda.

Na prática, o CMN está limitando a possibilidade de emissão de CDCAs a empresas que tenham mais de dois terços de sua receita consolidada proveniente do agronegócio, assim como fez com os CRAs. A medida não incidirá sobre os CDCAs já distribuídos ou cujos pedidos de distribuição pública já tenham sido protocolados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

No mercado, o sentimento é de que o CMN foi rápido ao fechar a porta encontrada pelo setor para continuar se beneficiando dos incentivos tributários na emissão de dívidas. A percepção é de que o órgão, presidido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também pode ter exagerado na dose ao replicar integralmente a regra dos CRAs para os CDCAs.

“Numa próxima etapa, o mercado deveria fazer um exercício se de fato essa equalização (entre os CRAs e os CDCAs) deve ser pura e simples ou se o CMN poderia diferenciar situações que não deveriam estar nessa vedação, mostrando a necessidade de ajuste da resolução”, Thiago Giantomassi, sócio do Demarest Advogados, disse ao The AgriBiz.

Num aspecto mais amplo, a medida atende à necessidade de arrecadação do governo federal. Na tarde desta quinta-feira, o ministro Fernando Haddad sinalizou a jornalistas que o governo deve enviar nos próximos dias ao Congresso um Projeto de Lei com ajustes em pontos como a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e Juros Sobre Capital Próprio (JCP).

Apertando o cerco

A primeira restrição aos títulos incentivados, em fevereiro, foi uma reação do governo a um mercado que explodiu ao longo dos últimos anos. A captação de LCIs, LCAs, CRIs e CRAs, somadas, havia chegado a um estoque de R$ 1 trilhão.

Só foi possível chegar a tamanha cifra por causa de uma decisão da CVM, de 2022, que autorizava os emissores a terem “lastro por destinação”. Ou seja, uma empresa não precisaria pertencer ao agronegócio para se beneficiar dos instrumentos — mas podia fazer captações com esses títulos usando recebíveis do setor, por exemplo.

A situação é diferente no caso dos CDCAs. O estoque desses títulos é muito menor: perto de R$ 31 bilhões, apesar de terem um escopo amplo para emissões —podem emitir CDCAs cooperativas e pessoas jurídicas que exerçam a atividade de comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção. Nesse sentido, aplicar o mesmo cerco a uma classe de títulos que tinha se desenvolvido relativamente pouco até aqui será um ponto acompanhado de perto.

No caso dos isentos restringidos em fevereiro, o efeito do remédio do CMN ficou claro. Dados da B3 apontam que o estoque de LCAs ficou estável em R$ 478 bilhões desde então, enquanto o de LCIs caiu ligeiramente, para R$ 362 bilhões. Em compensação, o estoque de CDBs cresceu 9,5%, fechando julho em R$ 2,3 trilhões.