Do CRA ao FIDC

Como a Opea alivia o balanço das indústrias de insumos — e cobra o fazendeiro

“O agro está passando por problema de atraso, mas é preciso tomar cuidado para não matar o produto”, alerta Renato Frascino, da Opea

As alternativas privadas para suprir a imensa lacuna do Plano Safra, que só no plantio de soja deve ultrapassar duas centenas de bilhões todos os anos, vêm atraindo uma miríade de agentes do mercado financeiro — das fintechs de crédito rural às gestoras mais tradicionais.

A Opea Capital, uma das mais importantes securitizadoras do mercado brasileiro, não quer ficar de fora desse filão. Depois de se consolidar como uma das líderes em CRAs, a securitizadora deu tração à sua própria gestora, ajudando a aliviar o balanço de fabricantes de insumos agrícolas.

Desde 2022, quando passou a contar com uma gestora de recursos, a Opea levantou R$ 2,4 bilhões em FIDCs para indústrias de defensivos agrícolas e fertilizantes que incluem desde gigantes como Basf e Sumitomo até players menos óbvios como Biotrop, Cocari e Nitro.

Ao levantar um fundo de direitos creditórios ao invés de emitir um CRA mais convencional, os clientes da Opea ganham flexibilidade para aumentar o tamanho do fundo ao longo do tempo e conseguem formalizar o lastro das operações de menos burocrática.

Para muitas indústrias de insumos, um CRA seria muito mais trabalhoso, exigindo das revendas que são clientes não só uma nota promissória, mas também os pedidos e notas fiscais dos produtores rurais para comprovar o lastro agrícola. “No FIDC, eu posso receber direto do distribuidor de insumos”, conta Renato Frascino, head de agronegócios da Opea.

Peso no balanço

Numa estrutura de crédito pulverizada como as desenhadas pela gestora da Opea, a indústria de insumos muitas vezes consegue tirar o crédito concedido às revendas e produtores rurais de seu balanço.

A forma de remuneração desse tipo de serviço da Opea facilita. Uma possibilidade é receber um fee da indústria de insumos pela estruturação do FIDC. Com esse recurso, a gestora investe na cota subordinada, aquela que arca com as primeiras perdas da carteira de crédito.

Foi assim, por exemplo, com a Basf. A subordinada, cerca de 0,5% da oferta — uma taxa superior à inadimplência histórica da companhia alemã —, foi encarteirada pela Opea, usando a taxa paga pela indústria. Com isso, a Basf não precisa reconhecer o crédito no balanço. Se a própria companhia fosse a investidora da subordinada, o alívio contábil não existiria.

A Basf também é um exemplo de conversão da estrutura. Antes do FIDC, a gigante de defensivos químicos obtinha funding para financiar os clientes por meio de um CRA emitido pela Opea.

Em 2022, com a gestora da securitizadora já rodando, veio o fundo de direitos creditórios que, inicialmente, captou cerca de R$ 400 milhões e agora está próximo dos R$ 600 milhões. Um movimento parecido foi feito pela Sumitomo, que tinha um CRA pulverizado e migrou para um FIDC. Atualmente, o fundo da firma japonesa possui um patrimônio de R$ 542 milhões.

O agente de cobranças

Em tempos de atrasos mais longos nas carteiras agrícolas, reflexo da queda de preço dos grãos e da quebra de safra em regiões de Mato Grosso e Goiás, a Opea também se vale de uma oferta mais completa para atrair as indústrias e investidores. A securitizadora possui uma servicer especializado no agro.

A essa área cabe fazer a cobrança e acompanhamento dos clientes no campo. Por ano, o servicer da Opera acompanha e cobra cerca de R$ 3 bilhões, o que lhe dá um bom termômetro sobre o desempenho do mercado de crédito agrícola.

“Está sendo um ano atípico, de mais atraso, mas esse é um ano de ajuste, faz parte do ciclo de qualquer commodity agrícola”, argumentou Frascino, afastando a preocupação de uma crise generalizada.

Em momentos mais sensíveis como o atual, todo o cuidado é pouco para não criar uma crise que destrua a confiança do mercado. “O agro está passando por problema de atraso típicos do ciclo, mas é preciso tomar cuidado para não matar o produto”, resumiu.

Sem esse cuidado, pode ser pior para todos. O investidor perde uma alternativa de renda — isenta de imposto, muitas vezes — e o agricultor uma ferramenta para financiar as necessidades (cada vez maiores) da safra brasileira.

***

Controlada pela firma de private equity americana Jaguar Growth Partners desde 2021, a Opea nasceu das costelas da RB Capital, uma das gestoras mais importantes no desenvolvimento do mercado brasileiro de crédito estruturado.

Desde que a Jaquar assumiu o controle, a Opea vem se expandindo. Em 2022, a companhia comprou a securitizadora Planeta, forte na emissão de CRAs pulverizados. Mais recentemente, a companhia comprou a True, securitizadora grande na emissão de CRIs, e a Maximus, uma servicer especializada no mercado imobiliário.

A operação da Opea é liderada por Flávia Palacios, que começou no negócio de securitização ainda nos tempos de RB Capital.