Banco digital

De olho na retomada, Agrolend agora tem grau de investimento

Banco digital, fundado pelos irmãos Glezer, acaba de obter um rating BBB+ da Moody’s e já captou R$ 300 milhões em LCAs

Agrolend LCA

Há pouco mais de um ano, os irmãos André e Alan Glezer e os sócios Valeria Bonadio, Carlos Fagundes e Leopoldo Vettor fizeram história com a Agrolend. Pela primeira vez, uma companhia conseguia mudar o status no Banco Central, deixando de ser uma simples SCD (Sociedade de Crédito Direto) para se transformar em uma financeira capaz de se alavancar.

A evolução regulatória permitiu à Agrolend reduzir o custo de capital de forma significativa ao acessar o bolso dos investidores de varejo, captando LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) em bancos e plataformas de investimentos como XP, Itaú, BTG Pactual, Toro e Ágora.

Agora, a Agrolend conseguiu mais um marco. A fintech obteve recentemente um rating da Moody’s, uma sinalização e tanto para o investidor que aloca nas LCAs. Com uma boa folga de capital no balanço — 35% contra uma exigência de 17% —, a companhia conseguiu um rating BBB+, o equivalente a grau de investimento na escala da agência de classificação de risco.

“Isso abre portas importantes para nós. Em algumas plataformas, demanda-se um rating”, disse Alan Glezer, cofundador e diretor financeiro da Agrolend, em entrevista ao The AgriBiz. A Moody’s analisou o histórico de crédito da fintech desde a fundação, em 2021.

A chancela da agência de classificação de risco vem num momento em que a Agrolend se prepara para ganhar mais tração depois de um período de cautela na concessão de crédito — um reflexo das margens mais comprimidas do produtor de grãos.

Quando se tornou uma financeira, a Agrolend imaginava aproveitar o funding mais barato das LCAs para escalar a operação mais rapidamente, vislumbrando chegar a R$ 500 milhões de carteira ainda no ano passado.

Mas diante das margens mais apertadas do produtor de soja e dos riscos de uma inadimplência maior, a companhia ajustou a dose. Até agora, a Agrolend emitiu quase R$ 300 milhões em LCAs. Atualmente, o estoque de títulos soma R$ 240 milhões.

“O mercado ficou mais difícil, naturalmente. Freamos muito nossa concessão. Mas como temos um custo de funding mais baixo, focamos em operações de mais baixo risco”, contou André Glezer, CEO e cofundador da Agrolend.

Neste momento, a Agrolend parece preparada chegar nos números que almejava, à medida em que o cenário para o produtor de grãos começa a desanuviar. A expectativa da companhia é encerrar o ano com um estoque de LCAs de R$ 500 milhões, contou Alan.

Atualmente, 60% da carteira de crédito está em produtores de soja, enquanto 10% ficam em milho. Café (10%), cana-de-açúcar (5%) e pecuária (5%) completam a lista das culturas financiadas.

A Agrolend atua em 15 Estados, com cerca de 2 mil clientes. No modelo de negócio da companhia, o crédito é sempre concedido em parceria com revendas ou indústrias de insumos. Os parceiros dão um aval de pelo menos 50%, ajudando a mitigar o risco de crédito para a startup.

Ainda assim, a situação mais adversa do mercado também aumentou os níveis de inadimplência da companhia. “Estruturalmente, a inadimplência do agro é perto de 2% ao ano. Esse ano deve ficar por volta de 3% a 4%”, projetou Alan.

***

Nas plataformas de investimentos, a Agrolend emite LCAs com vencimento de nove meses até cinco anos. Os títulos de vencimento mais curto, é claro, são os mais demandados.

Em média, a remuneração ao investidor é de 10% ao ano. O custo para a Agrolend fica próximo de 10,4%, abaixo da Selic. Antes de se tornar uma financeira, a fintech captava usando FIDCs, com custo entre CDI + 5 e CDI + 6% ao ano.