
Depois de resolver a crise de crédito com a baiana Serpasa, um projeto sucroalcooleiro que atrasou mais de um ano, o BTAL11, fundo imobiliário do BTG Pactual especializado em logística agrícola, voltará a investir.
A bola já tinha sido levantada no último relatório mensal do fundo, quando os gestores sinalizaram que estavam em busca alternativas para otimizar o caixa, que soma R$ 20 milhões — praticamente um mês de dividendos.
The AgriBiz apurou que o BTAL11 mantém conversas com parceiros para realizar um novo investimento em um ativo de logística agrícolas. Entre eles, estão empresas do agronegócio (com foco em possíveis investimentos em conjunto) e outras companhias com ativos na área logística.
A entrada em um novo projeto de logística marca a retomada do fundo depois de um processo de reorganização conduzido há mais de um ano. A chave para destravar esses investimentos está, ironicamente, no rescaldo do único ativo que deu problema desde que o fundo surgiu.
De outubro de 2022 até o início de 2024, o BTAL11 passou sofreu com irregularidades nos pagamentos por parte da Serpasa — decorrentes do atraso para a entrada em operação da usina — afetando a distribuição de dividendos do fundo.
Não à toa, as cotas do fundo desabaram. Ainda hoje, o fundo imobiliário negocia com um desconto de 27% em relação ao valor patrimonial. Atualmente, o veículo conta R$ 555 milhões sob gestão.
O desconto sobre as cotas, no entanto, reflete um problema que ficou para atrás. Em abril do ano passado, o BTAL11 decidiu resgatar de forma antecipada o financiamento feito à Serpasa. Tratava-se de um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) de R$ 60 milhões estruturado em 2021 ao custo de IPCA+9,30% ao ano.
Depois de declarar o vencimento antecipado da dívida, o fundo recebeu fazenda dada em garantia na operação dos CRIs, um ativo que ainda permanece no portfólio do BTAL111. Localizada em Muquém de São Francisco (BA), a fazenda compreende uma área de 4,9 mil hectares, com mais de 1,3 mil irrigados. No mercado, a estimativa é que valha em torno de R$ 80 milhões.
Como o BTAL11 é estruturado com uma tese de investimento em logística — e não em terras — o plano é vender esse ativo, gerando recursos para o fundo. A ideia é que o caixa gerado por essa venda permita que o fundo se engaje em operações mais robustas (aproveitando, inclusive, o know-how da trading de grãos do BTG nessas operações).
O portfólio do BTAL11
Atualmente, o fundo possui 11 ativos no portfólio. Entre eles, estão aportes em uma unidade de beneficiamento e armazenagem de sementes, um terminal intermodal e um terminal portuário.
Os ativos incluem desde operações de sale and leaseback com operadores como a paranaense I.RIEDI — cerealista e sementeira de Cascavel —, que representa 22% do patrimônio do fundo, até armazéns construídos no modelo build-to-suilt para FS (que produz de etanol de milho) e Comfrio. O veículo também construiu e alugou um terminal intermodal para a Coruripe.
A fazenda tomada pelo BTAL11 conta ainda com um com um contrato de fornecimento de cana para a usina da Serpasa, que entrou em operação na safra 2023/24 após enfrentar atrasos devido à demora na obtenção de licença da ANP para operar.
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A expectativa no BTG é a que, com um fluxo constante de dividendos e a entrada de novos ativos com parceiros ajude a recuperar o valor das cotas. Se isso se confirmar, o fundo poderia voltar a aumentar de tamanho com um follow-on mais para frente.
Atualmente, o caixa acumulado pelo fundo representa uma a reserva de dividendos do de R$ 0,62 por cota. Em janeiro, o BTAL11 distribuiu R$ 0,84 aos 40 mil cotistas, o nível mais alto já pago pelo fundo.