Fiagro

A criativa (e confusa) cisão da Capitânia para destravar o valor do CPTR11

Depois de confusão sobre novo fundo no Carnaval, gestora vem a público com proposta detalhada nesta quarta-feira de cinzas

No Carnaval, um comunicado da Capitânia mexeu com os ânimos dos foliões que investem no CPTR11, o Fiagro listado da gestora. Além do timing curioso, a proposta gerou muita confusão, levando a especulações de que a firma liderada por Arturo Profili estaria lavando as mãos e desistindo dos fundos de agro, o que está longe de ser realidade.

Na verdade, a proposta da Capitânia é uma tentativa de resgate das cotas do CPTR11, que negociam na bacia das almas.

Alvejado pela aversão a risco e por sua exposição a créditos problemáticos como Agrogalaxy e Patense, o Fiagro vem negociando com um desconto expressivo de 30%, mesmo já excluindo da conta as provisões feitas para os dois CRAs inadimplentes.

Em entrevista ao The AgriBiz, Profili explicou o intenção da Capitânia ao propor a cisão parcial do CPTR11, levando uma parcela dos ativos para um fundo fechado com prazo determinado.

“Fomos questionados recentemente por alguns investidores sobre caminhos para uma venda organizada dos ativos do fundo. Nesse processo, buscaríamos um valor maior do que o que está refletido na cota de mercado”, contou o gestor, lembrando que a alternativa da recompra de cotas foi descartada por sua inviabilidade.

Foi nesse contexto que a gestora enviou uma carta consulta aos cotistas na última sexta-feira. Para todos os efeitos, a Capitânia pede aos cotistas que avaliem a proposta de criação de um novo fundo.

Caso aprovado, esse novo veículo será formado a partir de uma divisão pro rata de todos os 40 ativos que compõem a carteira do CPTR11 atualmente. Não será, portanto, um fundo distressed, como alguns chegaram a entender inicialmente.

Para que o novo fundo seja criado, é necessário passar por um rito de duas etapas. Primeiro, investidores vão votar, na própria carta consulta, se aprovam ou não a criação do fundo — uma votação que precisa da aprovação de pelo menos 25% dos cotistas. 

Depois de obter esse primeiro aval, a administradora do fundo comunica a todos os cotistas a respeito da possibilidade que eles terão de migrar suas cotas do fundo listado (o CPTR11) para o novo fundo, um veículo também listado, mas sem possibilidade de negociação de cotas (elas terão de ser carregadas até o vencimento do fundo novo).

A proposta desenhada pela Capitânia possui uma vantagem em relação à simples amortização de cotas do CPTR11. Como apenas os investidores que optarem pela migração de fundos serão transferidos, aqueles que apostam na recuperação das cotas do fundo listado seriam beneficiados no longo prazo.

Neste momento, ainda não é possível saber qual seria o tamanho do fundo novo, uma vez que ele será proporcional à adesão dos cotistas do CPTR11. Não há, também, uma resposta pronta a respeito do que aconteceria com o Fiagro listado caso a maioria dos cotistas decida migrar para o novo fundo. 

“Nós vamos avaliar essa situação, caso aconteça, com calma. Mas não vemos uma adesão ampla, talvez algo em torno de um terço do fundo”, projetou o gestor da Capitânia.

O novo fundo terá um prazo de vencimento de dois anos, período em que vai formar caixa e devolver dinheiro aos cotistas. Para referência, a carteira do CPTR11 tem um prazo médio de um ano e meio a dois anos. 

Para a Capitânia, o movimento de amortização vai fazer os investidores perceberem que o veículo listado está negociando com um desconto que não reflete a realidade. No médio prazo, esse movimento poderia favorecer a retomada do CPTR11.

O objetivo é que as cotas do CPTR11 se aproximem da cota patrimonial. No médio prazo, isso permitiria que o fundo voltasse a crescer e fazer follow-on, “reiniciando o crescimento do produto e da estratégia de alocação de capital em operações estruturadas de crédito privado no agronegócio”.

***

Atualmente, as cotas do CPTR11 negociam a R$ 7,23, a 73% do valor patrimonial. Com R$ 402 milhões sob gestão, o Fiagro da Capitânia possui 41 mil cotistas.

Do portfólio do fundo, duas companhias entraram em recuperação judicial: Agrogalaxy (3,70% do PL) e Patense (2,60% do PL). A primeira está marcada a 50% do valor nominal e, a segunda, a 70% — já considerando, portanto, uma perda substancial.

***

Para esclarecer as dúvidas que surgiram após a primeira consulta, a Capitânia preparou uma nova versão do documento, que deve ser enviada novamente aos cotistas do CPTR11 após o fechamento do mercado.

Nesta quarta-feira, as cotas do CPTR11 avançam quase 4%.