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A difícil arte de escolher as barganhas nos Fiagros. A Suno fez as contas

Nos preços atuais, há fundos que até agora não tiveram qualquer default negociando a um retorno implícito de CDI + 9% ano

Crise dos Fiagro

A recuperação judicial da Agrogalaxy detonou uma onda de aversão ao risco na indústria de Fiagro, com os investidores de varejo precificando que os defaults vão se espraiar por praticamente todo o mercado. Ao que tudo indica, essa reação pode ter ido longe demais, criando barganhas.

Um levantamento produzido pela Suno Wealth a pedido de The AgriBiz mostrou a discrepância entre o valor patrimonial dos principais Fiagros listados na B3 e o valor de mercado. Nos preços atuais, há fundos que até agora não tiveram qualquer default negociando a um retorno implícito de CDI + 9% ano.

João Arthur Almeida, chefe de investimentos da Suno Wealth e responsável pelo levantamento, pondera que os dados precisam ser analisados com muita cautela, até porque no meio das barganhas pode haver casos problemáticos — com defaults que ainda não foram baixados no patrimônio de cada fundo.

Sem default

Ainda assim, algumas oportunidades saltam os olhos. O maior Fiagro da indústria parece ser um deles. O KNCA11, gerido pela Kinea, fechou o pregão de ontem a R$ 95,90 por cota, um desconto de mais de 7% sobre a cota patrimonial (R$ 103,41).

Comprando aos preços atuais, o investidor teria um retorno de CDI + 5,7% se a cota convergir para o patrimônio. Para se ter uma referência, a aquisição pela cota patrimonial do KNCA11 implica um carrego de CDI + 3,05% ao ano, conforme os dados da Suno Wealth.

No Fiagro da FG/A, gestora de Ribeirão Preto fundada por Luis Gustavo Corrêa e Juliano Merlotto, o retorno potencial também chama atenção. Sem qualquer caso de default, o FGAA11 — um Fiagro com mais de R$ 437 milhões em patrimônio e quase 55 mil cotistas — negocia com um desconto de 16,5% sobre o valor patrimonial.

Pela cotação de segunda-feira, o Fiagro da FGA/A daria um retorno de CDI + 9,98% considerando o cenário em que o fundo retorne ao valor patrimonial. A Suno também traçou cenários alternativas, com recuperações parciais da cota. Se os preços subissem 10%, por exemplo, o retorno seria de CDI + 3,14%.

Diante dessas oportunidades, não é à toa que a FG/A sinalizou em seu último relatório gerencial que está estudando a possibilidade de recomprar cotas — uma medida similar à recompra de ações por companhias listadas. Para fazer isso, no entanto, a FGAA11 teria de alterar o regulamento do fundo em assembleia, além de obter uma autorização da CVM para fazer a operação.

Se a ideia for adiante, a gestora pode criar um caminho para outros Fiagros. Para os fundos listados, negociar abaixo do patrimonial é péssimo, praticamente inviabilizando qualquer possibilidade de um follow-on que permita aumentar o tamanho do Fiagro ao longo do tempo.

Os mais descontados

Na indústria de Fiagros, há fundos ainda mais descontados do que FGAA11 e KNCA11. Pelo levantamento da Suno Wealth, os maiores descontos estão em XPCA11, gerido pela XP Asset, e CPTR11, da Capitânia.

Ambos dariam um retorno superior a 20% caso as cotas se recuperassem totalmente. A questão é que, nos dois casos, o próprio valor patrimonial pode estar defasado, considerado que nem todos os defaults foram incorporados.

O emblemático CRA da Agrogalaxy, por exemplo, não foi marcado a zero. A baixa foi de apenas de 50%. Se a recuperação do crédito não chegar a esses níveis, o valor patrimonial ficaria menor.

Ainda assim, se as cotas de XPCA11 e CPTR11 recuperassem apenas 20% — permanecendo abaixo do patrimonial —, isso já significaria um retorno superior a CDI + 8%.