Crédito

A vitória da Valora no caso Languiru — VGIA11 zerou problemas

Gestora fechou acordo sem deságio sobre valor da dívida; cooperativa vê “vitrine” para atrair mais credores para a reestruturação do passivo

VGIA11 frango Languiru

Um dos primeiros (e mais rumorosos) exemplos de inadimplência na indústria de Fiagro, a cooperativa Languiru deixou de ser um problema para a gestora Valora, num desfecho positivo que demonstra uma capacidade de negociação que muitos na Faria Lima já não acreditavam.

No mês passado, a gestora de Daniel Pegorini anunciou um acordo com a Languiru, fazendo as cotas do VGIA11 — o Fiagro mais negociado e líder em cotistas —dispararem.

O acordo, inicialmente divulgado sem grandes detalhes, aguçou a curiosidade no mercado sobre os termos da transação, uma vitória do time de crédito agro liderado por Guilherme Grahl, um ex-Cargill que gere o Fiagro da Valora.

Depois de mais de um ano de negociações, num vai-e-vem que incluiu até mesmo a frustrada venda de um frigorífico da Languiru para um investidor chinês, a Valora costurou um acordo sem precisar dar desconto (haircut, no jargão do mercado) no valor nominal da dívida, ainda que a concessão de carência represente um haircut implícito.

Na negociação, a Valora conseguiu melhorar as garantias do contrato com a Languiru. Em troca, deu um prazo de carência à cooperativa, além de uma extensão “pequena”, nas palavras de Grahl, de prazo de pagamento de dívidas. Os juros que não foram acruados no último ano também serão pagos.

“Não há aumento de exposição, não demos dinheiro novo à cooperativa”, complementa Guilherme Grahl, gestor do VGIA11, em entrevista ao The AgriBiz

A exposição do VGIA11 à Languiru é relevante. O Fiagro da Valora possui R$ 78 milhões em CRAs da cooperativa gaúcha, o que representa 9,57% do patrimônio líquido. Ter a cooperativa de volta ao grupo dos adimplementos, portanto, faz muita diferença na remuneração mensal aos cotistas.

Por que a Valora saiu na frente

As conversas para chegar para chegar aos termos do acordo foram frequentes, mas nem sempre fáceis. Nesse processo, a estrutura de garantias original do CRA, que conferia à gestora a alienação fiduciária do maquinário do abatedouro de frangos da cooperativa, ajudou.

Graças à alienação fiduciária — um tipo de garantia que é considerado um crédito extraconcursal e fira de fora do processo de liquidação  ou recuperação judicial —, a Valora conseguiu negociar de forma unilateral, à parte das reestruturação com os demais credores da Languiru.

Mas mais do que uma garantia forte juridicamente, tratava-se de uma garantia forte operacionalmente. Atualmente, o abatedouro de frango da Languiru, localizado em  Westfália, é a principal fonte de receita para a cooperativa. Executar a garantia significaria ceifar a geradora de caixa, portanto.

Diariamente, a unidade abate 25 mil aves para a cooperativa e outras 130 mil aves para a JBS, em um contrato de fornecimento firmado no início do ano. Além disso, a planta está habilitada para exportar à China.

Com a negociação, a Valora conseguiu ficar com a alienação fiduciária também do contrato de fornecimento com a JBS, um cliente de risco de crédito praticamente nulo. E somou ao acordo, também a hipoteca da planta de aves. 

“Nosso ponto era reestruturar a operação. Nos antecipamos e trouxemos garantia real sem dívida. Era o único problema no VGIA11 e agora está regularizado. Estamos otimistas”, resumiu Grahl.

Os demais credores

Além da Valora, outros dois credores fecharam negociações com a Languiru, aproveitando o fato de também possuírem alienação fiduciário. Esse foi o caso de dois  Sicredi, que preferiram ficar com os ativos que tinham em garantia — prédios.

Do lado da Languiru, a expectativa é que o acordo fechado com a gestora e o Sicredi estimule outros credores a aderirem ao plano de reestruturação da cooperativa. Os termos, no entanto, naturalmente serão menos vantajosos.

Atualmente, Languiru tem pouco mais de R$ 1 bilhão em dívidas, sendo R$ 720 milhões de finaciamentos e R$ 330 milhões com fornecedores, associados e prestadores de serviços. 

“Está nos nossos planos fazer uma reunião com os credores ainda este ano, possivelmente em novembro”, contou Gustavo Marques, superintendente administrativo e financeiro da Languiru, ao The AgriBiz.

Marques também deu detalhes sobre o futuro da Languiru. Conheça clicando aqui.