Na onda de Fiagros FIDC que vem se desenhando neste início de ano, a asset do BTG Pactual fechou uma nova oferta com chave de ouro. O BTAG II, fundo-irmão do listado da casa (o BTAG11), captou R$ 500 milhões, numa oferta que exerceu lote adicional e que, tamanha demanda, foi encerrada até mesmo alguns dias antes do previsto.
A oferta do Fiagro é a primeira da asset sob o comando de Rubens Henriques, que assumiu a casa em dezembro do ano passado, depois de o BTG Pactual absorver a Clave.
O sucesso da operação denota o valor que a experiência do banco no mundo dos Fiagros trouxe até aqui. O fundo vai remunerar investidores com uma série pré de 16% ao ano, que vence em quatro anos, ou com CDI+2,5%, que vence em cinco anos — cada uma tem R$ 250 milhões. O passivo é variado, formado principalmente por pessoas físicas — são mais de 10 mil CPFs — além de family offices.
Nos últimos 12 meses, para referência, o fundo listado teve um dividend yield de 17,2% sobre a cota de mercado.
“Quando lançamos o BTAG, fizemos o primeiro FIDC Fiagro quando a maior parte do mercado estava fazendo Fiagros de fundo imobiliário. Nossa estratégia sempre foi olhar crédito estruturado dentro do agro, uma tese que vem se provando. A demanda de investidores do primeiro fundo, somada ao pipeline de operações, nos permitiu estruturar um novo fundo”, diz Marcelo Fiorellini, sócio da área de Special Assets do BTG Pactual, ao The AgriBiz.
Nos últimos três anos, o fundo listado da casa, que tem um patrimônio líquido de R$ 300 milhões, pagou uma média de dividendos de 1,22% por mês. São ao todo 5 mil cotistas, evidenciando a sofisticação dos investidores que compõem o fundo. Hoje, o tíquete médio do veículo é alto, próximo de R$ 57 mil. Em geral, a indústria conta com fundos mais pulverizados, em que a relação entre patrimônio líquido e número de cotistas pode chegar a R$ 4 mil.
“A concentração foi crescendo à medida que investidores qualificados acompanharam a estratégia, aumentando a participação em momentos de desconto. Estamos há 36 meses sem nenhum default ou atraso, com todas as operações feitas com garantia. Em todas as que entramos, buscamos uma posição de destaque, em operações estruturadas para serem liquidadas dentro do fundo”, resume Fiorellini.
Alocação
O perfil de alocação, um ponto crucial, segue o mesmo no novo fundo. Assim como o primeiro, vai focar em empresas mais preparadas para ascender ao mercado de capitais. Não é o high grade, mas também não é o pequeno e médio produtor — e com relacionamento dentro do banco.
“Uma contraparte que é cliente do banco na mesa de câmbio, que fecha commodities com a trading, cliente do nosso banco de investimento, acionista do wealth… Todos esses pontos nos trazem um conhecimento mais profundo e um relacionamento mais intrínseco para estruturar as operações com clientes que conhecemos a fundo”, diz Fiorellini.
Os principais tomadores são as agroindústrias, compreendendo empresas de insumos, frigoríficos, açúcar e etanol, revendas, café, biomassa e sementes.
No fundo listado, por exemplo, estão operações de crédito para empresas como Coruripe, Grupo Pluma, Sinagro, Rio Amambaí, Grupo Moreno, um grupo de produtores rurais de grande porte, além da compra de cotas do FIDC da startup Farmtech.
Os cheques, no novo fundo, devem ser de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões por operação, em um prazo de, em média, dois anos e meio — o mesmo do fundo listado. As operações ficam mais distantes do custeio e mais próximas do financiamento de projetos, como compra de silo, e de exportações.
Essa necessidade por investimentos da indústria é o que torna o executivo otimista em relação ao futuro. Fiorellini diz não ver crise no setor, diante dos investimentos contínuos necessários para modernizar maquinário, construir silos e investir no modo como as empresas trabalham. Com a alta da Selic, a perspectiva é de que boas oportunidades de estruturação possam surgir daqui para frente.
A partir desse crescimento — e com o bolso dos investidores garantido — o executivo vê a indústria de Fiagros se desenvolvendo nos moldes da de fundos imobiliários, num ponto para o qual a asset do banco ainda tem diferenciais importantes.
“A indústria de fundos imobiliários se formou a partir de um serviço que era essencialmente bancário e que hoje compreende R$ 380 bilhões. O mercado de Fiagros foi do zero aos R$ 25 bilhões em um ano e meio. Tem muito aprendizado no meio do caminho, de gestoras e de tomadores. Fazer crédito no Brasil é difícil e, nisso, a infraestrutura bancária ainda é um diferencial”, ressalta.