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Camarão e florestas plantadas: as novas teses do Fiagro da AZ Quest

Liderada por Idalício Santos, a área de agro da gestora já administra R$ 773 milhões e estuda o lançamento de um Fiagro temático

Enquanto muitos laticínios brasileiros sofrem com o excesso de importações de leite em pó, a Alvoar Lácteos (resultado da fusão entre Betânia e Embaré) encontrou um investidor disposto a ancorar a estreia da companhia de R$ 4 bilhões no mercado de capitais. No Nordeste, uma empresa de aquacultura também está prestes a fechar uma emissão inédita de dívida, o que deve ser o primeiro CRA de uma indústria de camarão.

Além do ineditismo, as duas operações têm em comum um mesmo gestor: Idalício Silva, o executivo que lidera o núcleo de agro da AZ Quest, firma de investimentos com mais de R$ 22 bilhões sob gestão.

A trajetória de Silva ajuda a explicar as duas estreias. Afinal, trazer novos entrantes para o mercado de capitais não é uma novidade para ele.

Acarajé com camarão
AZ Quaest trabalha no primeiro CRA de uma indústria de camarão; gestora vê oportunidades na aquacultura | Crédito: Shutterstock

Idalício Silva, um gestor de estreias

Formado em física pela USP, Silva veio para a AZ Quest há pouco mais de um ano trazendo na bagagem a experiência de quem participou de momentos cruciais do desenvolvimento do agro brasileiro no mercado de capitais.

Quando era trader internacional de renda fixa e crédito do Bradesco, por exemplo, acompanhou as primeiras emissões de bonds de alguns dos maiores frigoríficos brasileiros, como o Bertin. Anos depois, entre 2012 e 2019, foi sócio e head da área de distribuição da Ecoagro, securitizadora pioneira na emissão de CRAs.

Antes da AZ Quest, Silva teve ainda teve uma passagem pelo governo Bolsonaro no ministério da Economia durante a gestão Paulo Guedes, onde acompanhou as discussões para a criação do Fiagro.

“A ministra Tereza Cristina dizia que o agro precisava ter capacidade de se financiar com um bolso que vai além do governo”, lembra o gestor, citando o papel da bancada ruralista para viabilizar o Fiagro.

Inicialmente, Bolsonaro vetou a isenção de imposto de renda na distribuição de dividendos do Fiagro — que era um benefício fundamental para atrair o investidor pessoa física. No Congresso, o veto foi derrubado, ajudando o instrumento a decolar. “Tem muito mérito da bancada nisso”.

Atualmente, são mais de 380 mil cotistas na indústria de Fiagro, com R$ 9,6 bilhões só nos fundos de agro negociados na bolsa, conforme o último boletim mensal da B3.

O portfólio do Fiagro da AZ Quest

Em agro, a AZ Quest estreou oficialmente há menos de um ano com o IPO do AZ Quest Sole, Fiagro de R$ 231 milhões. A área ganhou mais musculatura em junho, com a emissão do Luna, o segundo Fiagro da AZ Quest — desta vez, um veículo de R$ 542 milhões, mas listado no mercado de balcão (Cetip).

No Fiagro listado na B3, o portfólio da AZ Quest inclui desde companhias como a Alvoar, a empresas de biológicos como a Solubio e produtores de biodiesel (Biopar).

A maior parte, no entanto, está em créditos pulverizados, como um FIDC de recebíveis de clientes da fabricante de insumos Sumitomo (grandes fazendeiros, revendas, cooperativas e distribuidores de insumos), mas aos poucos novos setores vão ingressando no fundo.

Portfolio do Fiagro da AZ Quest tem Alvoar Lácteos, Solubio, de biológicos, e a produtora de biodiesel Biopar | Crédito: Divulgação

Até a última divulgação, a carteira do AZ Quest Sole estava com um portfólio que traz uma carteira de CDI + 6,19% ao ano. O objetivo do fundo é deixar a distribuição entre CDI + 3% e CDI + 5%. A gestora vem trabalhando para manter os dividendos nominais estáveis, evitando a volatilidade do fundo.

As novas teses

Na busca por novas operações de crédito, o time liderado por Idalício Silva quer explorar alguns dos setores que mais crescem no agro, como o de florestas plantadas (para abastecer as usinas de etanol de milho ou mesmo madeira para móveis).

“Há uma mega capacidade de etanol de milho, mas ao contrário das usinas de cana, que têm o bagaço para rodar as caldeiras, o etanol de milho precisa de cavaco — feito a partir do eucalipto. Estruturalmente, há uma demanda para florestas plantadas para os próximos cinco a dez anos”.

Em florestas plantadas, o Fiagro da AZ Quest alocou recentemente em uma dívida de uma empresa que processa madeira destinada a exportação para fabricação de móveis. “Também estamos concluindo um processo de madeira para biomassa de eucalipto”, disse. 

Outra novidade é o negócio de pescados em cativeiro. A área de agro da gestora encontrou na aquacultura, uma oportunidade para investir e ajudar na transformação da atividade, que ainda está no início do amadurecimento da governança corporativo.

O primeiro CRA deve ser de uma produtora de camarão do Nordeste com produção verticalizada — criação e industrialização. A AZ Quest está aberta para mais nomes da aquacultura.

Em busca de expoentes

“Gosto muito da ideia de aprender os setores e achar os expoentes. Nos pescados, encontramos um, mas se acharmos mais três, também vamos buscar fazer alocação”, disse.

A AZ Quest também vem estudando a possibilidade de lançar um Fiagro temático, explorando uma das teses que a gestora vem aprofundando. Silva não abriu os detalhes do novo fundo, mas um dos setores que mais interessam à gestora é o negócio de geração de créditos de carbono a partir da preservação de florestas.

Não à toa, o último relatório do fundo se dedicou ao tema, o que é também uma forma de dar mais elementos para os investidores começarem a compreender a tese, o que pode ajudar se a oferta para um Fiagro temático realmente for para frente.