Em um ano em que dar crédito ao produtor rural se tornou uma tarefa mais espinhosa diante da forte queda dos preços dos grãos e das vendas antecipadas atrasadas, a gestora Éxes vem conseguindo mostrar que o modelo ‘botina suja’ é crucial para a Faria Lima ter sucesso na relação com os agricultores.
Fundada há cinco anos por Artur Carneiro e Bruno Licarião, dupla de executivos que se conheceram quando trabalhavam no BTG Pactual, a Éxes está na rua com um follow-on de R$ 100 milhões do Araguaia (AGRX11), o que pode dobrar o tamanho do Fiagro da gestora.
O Fiagro da Éxes estreou em abril do ano passado com R$ 20 milhões, captando inicialmente apenas com family offices e fundos de investimentos. As negociações das cotas em bolsa, que permitiram a entrada dos investidores de varejo, começaram em agosto de 2022.
Desde o lançamento, o AGRX11 já fez três ofertas, chegando a um patrimônio de R$ 97 milhões e 12,5 mil cotistas. Na quarta oferta, que foi lançada recentemente, o Fiagro conta com a coordenação da Oriz Partners, do ex-Safra Carlos Kawall.
Nas interações que vem fazendo com investidores para emplacar o follow-on, os gestores da Éxes têm enfatizado que o crédito ao produtor ainda é uma atividade com muita assimetria de informação e, portanto, maior potencial para quem se embrenha nas fazendas.
“Ainda tem pouco fundo fazendo crédito para produtor rural”, disse uma fonte que conhece a tese da Éxes. No mercado, alguns dos fundos que mais investem em CRAs de produtor rural são o RZAG11, da Riza, e o RURA11, da asset do Itaú.
Perto do produtor
Tipicamente, a indústria de Fiagro ainda está muito dedicada ao crédito corporativo até pela dificuldade de dar crédito, sobretudo cobrar agricultores quando há algum problema de inadimplência. Gestoras como JGP e FG/A, por exemplo, preferem ficar mais distantes do produtor.
Na Éxes, a tese é que a proximidade com os produtores é o que traz bons resultados. Em doze meses, o Araguaia entregou um dividend yield de 16,6%. Neste ano, é o Fiagro com maior valorização das cotas (4,97%), à frente do BBGO11, do Banco do Brasil.
Para estruturar o CRA para um produtor rural, os gestores da Éxes costumam visitar as propriedades rurais, fazendo uma imersão na região de atuação do agricultor, em conversas com revendas e outros fornecedores.
“É uma abordagem qualitativa que ajuda na análise”, diz uma fonte. Nesse processo, a gestora vem conseguindo navegar em meio ao cenário mais difícil para os produtores de grãos, fazendo poucas renegociações com os produtores do portfólio. “Mas é preciso uma gestão muito ativa para evitar problemas”, lembra a mesma fonte.
Histórico
O histórico da Éxes também ajuda na condução do Fiagro. A gestora usa a experiência do Xingu, FIDC com uma tese dedicada aos produtores rurais. Lançado em 2020, o fundo também não abre mão de ter fazendas em garantia para conceder crédito aos produtores. No Xingu, que está em fase de amortização, o retorno aos cotistas subordinados ficou em CDI + 18% ao ano.
No Araguaia, o foco é o produtor rural — cerca de 60% do portfólio —, mas a gestora também tem diversificado a exposição do Fiagro. Um dos exemplos disso são os CRA de Bevap e Santa Helena, de açúcar etanol, e do Grupo José Alves, uma engarrafadora de Coca-Cola.
Procurada pela reportagem, a Éxes não comentou. A gestora está em período de silêncio. A previsão é que a oferta do AGRX11 seja liquidada em 18 de dezembro.
Em todos os fundos (agro, imobiliário e créditos estruturados), a Éxes gere quase R$ 1 bilhão.