
A FG/A quer quebrar um paradigma na indústria de Fiagro. Responsável pelo FGAA11, um dos raros fundos de agro que não sofreu com casos de inadimplência, a gestora fundada por Luis Gustavo Torrano Correa e Juliano Merlotto abriu uma consulta formal na CVM para recomprar cotas de seu Fiagro.
Se a xerife do mercado de capitais der o aval, o FGAA11 poderia abrir um programa de recompra de cotas com efeitos semelhantes às recompras de ações feitas por companhias listadas na bolsa.
A permissão criaria uma avenida para os outros fundos listados reduzirem a diferença das cotas de mercado em relação ao valor patrimonial, um desconto que começou a aparecer em 2023 e se acentuou com a crise de crédito detonada pela recuperação judicial da Agrogalaxy — a companhia fazia parte do portfólio de alguns dos Fiagros mais conhecidos do mercado.
Mesmo sem estar exposto à rede de revendas controlada pelo Aqua Capital, o Fiagro da FG/A também sofreu, um reflexo da aversão ao risco generalizada que afastou os investidores pessoa física dos fundos de agro.
Atualmente, o FGAA11 negocia a R$ 8,03 por cota, o equivalente a 83% do valor patrimonial de R$ 9,63, que em tese é o preço justo do ativo — considerando que o fundo continue livre de casos de inadimplência. No pior momento, em dezembro do ano passado, as cotas chegaram a ser negociadas a R$ 7,12.
Desde que as cotas afundaram, a FG/A já vinha sinalizando aos investidores que estudava o instrumento da recompra. “Uma recompra, por exemplo, de 1,8 milhão de cotas a R$ 8,30, abaixo do valor patrimonial, poderia gerar um ganho da ordem de cinco centavos por cota”, escreveu a gestora no relatório gerencial enviado aos investidores em outubro.
No estudo de viabilidade apresentado à CVM, a FG/A sugere um programa de recompra de até 10% do patrimônio líquido, que poderia ser exercido em até um ano.
De forma geral, as ofertas de recompra seriam feitas com um prêmio de 5% sobre as cotas de mercado. A oferta estaria limitada a 95% do valor patrimonial. “Com o preço atual, estima-se que a recompra ocorra entre R$ 8,40 e R$ 9,15”, indicou a gestora.
Cancelar ou não cancelar?
Ao abrir a consulta na CVM, a gestora de Ribeirão Preto dá um passo importante para seguir com os planos e dirimir uma dúvida que ainda impede a abertura de um programa.
Entre advogados, não há um consenso sobre o que fazer com as cotas recompradas. Aqueles que defendem um entendimento mais restritivo das normas argumentam que as cotas recompradas deveriam ser imediatamente canceladas.
O problema é que, nessa hipótese, os gestores perderiam um papel que custou em torno de 3% para ser emitido. Além disso, o patrimônio líquido do fundo seria reduzido, o que significaria uma diminuição na taxa de administração (1,15% ao ano do PL, no caso da FG/A).
Para assessores jurídicos da gestora, a solução ideal seria a CVM permitir que as cotas recompradas fossem mantidas em tesouraria, preservando o tamanho do veículo. À medida que o mercado se recuperasse, o fundo poderia revendê-los, beneficiando os cotistas que apostaram na tese.
Atualmente, o FGAA11 conta com um patrimônio de R$ 434 milhões e cerca de 50 mil cotistas. Em doze meses, o fundo entregou um retorno de 13,82% ao ano, considerando a cota em seu valor patrimonial, ou 15,92% ao ano, a preços de mercado.
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Na consulta à CVM, a FG/A é assessorada por Bruno Cerqueira, sócio do Mayer Brown. Não há um prazo formal para a CVM responder.
Enquanto não obtém a resposta do regulador, a gestora continua avaliando alternativas, incluindo a amortização das cotas.
A desvantagem da amortização, em relação à recompra, é que os investidores não poderiam manter a posição atual se assim preferissem. Na prática, eles sofreriam com a redução de capital proporcional.