Fiagro

Galapagos: “RJs do agro vão demonstrar nossa capacidade de recuperação de crédito”

Felipe Solski, gestor do Fiagro da Galapagos, vê queda exagerada das cotas: “A possibilidade de qualquer haircut sequer passa nos nossos comitês”

Na crise de crédito que atinge uma parcela dos produtores de grãos mais alavancados, a Galapagos é uma das gestoras de Fiagro que mais sofre com a aversão a risco dos investidores de varejo, punindo as cotas do fundo de uma forma que parece exagerada.

Desde que o pedido de recuperação judicial da Elisa Agro veio à tona, há duas semanas, as cotas do GCRA11 (o Fiagro da Galapagos) desabaram, indo além da desvalorização que já sofrera em dezembro — quando o pedido de RJ da Três Irmãos se tornou público.

A depreciação das cotas do Fiagro da Galapagos foi tão intensa neste ano que um conhecido gestor de crédito agrícola decidiu montar uma posição no fundo, apostando no ganho de capital que pode auferir com a recuperação das cotas.

“A queda foi desproporcional ao tamanho da exposição”, disse essa fonte, que já atuou na estruturação de crédito em uma das maiores indústrias de defensivos agrícolas e conhece bem a dinâmica da agricultura.

Irrigação por pivô fazenda

Em 2024, as cotas do Fiagro da Galapagos caíram mais de 16%, sendo que o crédito da Elisa Agro respondem por 9,9% do patrimônio do GCRA11. Atualmente, as cotas são negociadas a R$ 63,18, o equivalente a 0,66 do valor patrimonial. O PL do fundo está em R$ 171 milhões.

É como se os investidores acreditassem que a Galapagos vai perder bem mais do que o crédito em questão. “Esse preço implica dizer que você está dando probabilidade de recuperação zero, o que não faz sentido com os fundamentos das nossas garantias”, disse Felipe Solski, o gestor da Galapagos à frente do GCRA11, em entrevista ao The AgriBiz.

Execução de garantias

Se é verdade que o GCRA11, o Fiagro da Galapagos, sofreu dois reveses —as RJs de Três Irmãos e Elisa Agro—, também é fato que gestora está calçada em garantias capazes de recuperar o crédito.

“Infelizmente, não é tão rápido, mas acreditamos na recuperação do crédito via execução judicial. A possibilidade de qualquer haircut sequer passa nos nossos comitês”, disse Solski.

Na avaliação do gestor, a oscilações das cotações do GCRA11 respondem a uma dinâmica de um mercado dominado por pessoas físicas que ainda estão se habituando ao agronegócio em um ambiente de informações desencontradas.

“São mais de 7 mil cotistas, pessoas físicas. E sabemos que a informação muitas vezes chega distorcida. São poucos os investidores que efetivamente param para ler o relatório gerencial com calma”, afirmou Solski, reconhecendo o papel educacional que a crise do agro pode ter no mercado.

No GRCA11, a Galapagos trabalha com a recuperação total do crédito concedido via emissão de CRA aos grupos Elisa Agro, que pertence à família Mitre – dos mesmos controladores da incorporadora imobiliária – e Três Irmãos, que pertence à família Bergamasco e produz grãos em Tapurah (MT).

Três Irmãos

No caso do grupo Três Irmãos, que responde por 11,9% do patrimônio e é a maior exposição do Fiagro da Galapagos, o gestor reconhece que os problemas climáticos sofridos em Mato Grosso levaram a um cenário que nem mesmo os modelos mais estressados da análise de crédito previram.

Mesmo assim, a dificuldade da família Bergamasco poderia ter sido resolvida sem a recuperação judicial. “Apesar dessa situação difícil, entendíamos que a Três Irmãos era solvente e tinha um patrimônio maior que as dívidas. A RJ não era a melhor decisão”, disse Solksi.

Com isso, os agricultores entraram na lista daqueles que foram seduzidos pelas promessas de que uma RJ vai proteger as fazendas sem grandes prejuízos. Isso pode até ocorrer no curto prazo, mas a tendência é a força da alienação fiduciária (que não está sujeita à recuperação judicial) prevalecer na Justiça e o acesso ao crédito ser prejudicado no longo prazo.

Agora, resta o tempo para a Galapagos fazer valer a alienação fiduciária. O IAGR11, Fiagro da gestora SFI, também investiu no CRA da Três Irmãos.

Elisa Agro

Na recuperação judicial mais recente, a problema financeiro foi causado por uma decisão errada da gestão, indicou Solski. “Quando estourou a guerra da Ucrânia, teve um erro de decisão pela preocupação de faltar fertilizantes. Eles decidiram comprar dois anos de insumos agrícolas no pico dos preços”, disse.

Assim como no caso da Três Irmãos, os detentores de CRA também detêm a terra em alienação fiduciária, além do aval do espólio de Jorge Mitre (a divisão do patrimônio ainda não ocorreu por uma divergência entre os herdeiros).

“Quando tiver a execução desse espólio, o pagamento da dívida se torna prioritário”, disse o gestor da Galapagos.

Além disso, a Elisa Agro também está com um mandato de venda da operação em Goiás, o que pode resolver a situação. A primeira opção da família Mitre é mesmo vender o negócio, disse uma fonte.

Se o grupo comprador tiver um crédito melhor, é possível que os detentores dos CRAs aceitem negociar prazos e taxas, mas o crédito será preservado, garantiu Solski.

Resgate da confiança

Na Galapagos, a recuperação dos créditos — apesar de demorada — vai significar mais confiança para os Fiagro. “Esse é um momento difícil que pode trazer benefícios mais para frente, demonstrando a capacidade de recuperação judicial e a segurança jurídica da alienação fiduciária”, argumentou o gestor.

No curto prazo, no entanto, o momento é de cautela na concessão de crédito. Atualmente, só agricultores pouco alavancados passam pelos comitês de crédito da gestora.