A aversão que derrubou as cotas de boa parte da indústria de Fiagro parece estar (finalmente) ficando para trás, mas a velocidade e a forma da retomada mostram que os fundos de menor risco serão os primeiros beneficiados.
Em um primeiro momento, a janela se abriu para o CRAA11, o Fiagro da Sparta que detém uma estratégia conservadora, concentrado em ativos high grade — comprando e vendendo CRAs no mercado secundário.
A Suno, que desenhou uma forma de distribuição baseada na audiência digital, também está na rua com a oferta do SNAG11, um fundo com cerca de R$ 500 milhões em patrimônio que também prefere uma abordagem de menos risco.
Agora, fundos de maior porte começam a ver a janela se abrir. “Em termos de preço, a gente já está perto de poder vir a mercado de novo”, disse Flávio Cagno, gestor da Kinea, em entrevista ao The AgriBiz na semana passada, ressaltando que isso não significa uma oferta a caminho.
O diagnóstico de Cagno é considerável tamanha é a relevância da Kinea na indústria de Fiagro. O KNCA11, com R$ 2,2 bilhões de patrimônio, é o maior fundo do mercado — e não teve problemas de inadimplência.
No auge da aversão dos investidores, no entanto, as cotas do fundo da Kinea também sentiram. Atualmente, a cota patrimonial é de R$ 102,61 e a de mercado, um pouco acima. Mas no pior momento, em julho, as cotas chegaram a ser negociadas por R$ 99,98.
Desde que estreou o Fiagro, em janeiro de 2022, a Kinea vem modelando o portfólio para estar mais alinhada ao perfil do investidor pessoa física.
“Nosso fundo já nasceu com essa ideia de ser mais conservador. Fomos direcionando para isso cada vez mais. A teoria inicial era mais arriscada do que a de hoje, inclusive. Fomos diluindo essas operações, gerenciando o risco”, contou Cagno.
Atualmente, a maior concentração do fundo está em usinas e players de bioenergia (34% do fundo), seguida insumos agrícolas (12%), proteína animal (10%) e citricultura (9%). Daqui para frente, a Kinea vê uma alocação mais focada em empresas de qualidade do que em setores prediletos.
Nesse jogo, a Kinea conta com um atributo fundamental para avançar: porte. “A gente continua conseguindo acessar operações de alta qualidade no mercado primário, por ter equipe qualificada e por ter um fundo grande”, resume Felipe Greco, gestor dos fundos de agro da casa.
Com um carrego líquido de CDI +2,5%, isento de imposto de renda, o fundo tem um prêmio de crédito atrativo em comparação a outros ativos do agronegócio, por exemplo.
“Hoje, ativos mid-grade pagam entre CDI +1% e CDI +2,5%, considerando nomes com rating A e AA, especialmente CRAs”, analisa Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do Grupo SWM.
Fundo em dólar
Se no investidor de varejo o foco é um risco controlado, o que é expresso no KNCA11, o porte da Kinea também permite oferecer alternativas de maior retorno (e risco, evidentemente) para os investidores qualificados, aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão em patrimônio investido.
Neste momento, a Kinea está com uma oferta de R$ 160 milhões para seu primeiro fundo em dólar, o KDOL11. Dividido em duas séries, o veículo vai encerrar o período de captação no dia 29 de setembro, cerca de 10 dias após o inicialmente previsto.
A dilatação do prazo de subscrição chegou a provocar algum burburinho no mercado, mas serve principalmente para acomodar distribuidores, dada a característica da emissão.
“Se o veículo não preencher a captação na primeira série e tiver uma segunda série, esta última será exclusiva para clientes do Itaú. Os distribuidores têm uma esteira interna a ser preenchida e iriam ficar com pouco tempo”, justificou Cagno, afastando especulações de que a oferta ficaria pelo caminho outra vez.
O executivo diz que há um potencial enorme a ser explorado pela tese dolarizada, tanto a partir dos CRAs em dólar — um mercado ainda subaproveitado — quanto pela expertise da Kinea.
Para o gestor, o fundo de inflação, o Kinea RF Absoluto, que atualmente é o maior do Brasil (R$ 8,6 bilhões), é um exemplo. “No início, as pessoas também não entendiam. É parte do processo, insistir, mostrar, criar um produto. Estamos investindo nessa inovação, que vem com essa necessidade de explicar”, diz Cagno.
Além do fundo em dólar, a Kinea também oferece aos investidores qualificados um Fiagro de maior risco, o KOPA11 — esse veículo possui, atualmente, R$ 353 milhões.