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Kinea vê retomada do mercado de Fiagro, mas só no risco controlado

Depois de meses marcados por aversão ao risco, Fiagros buscam operações que suportam ciclos adversos, diz Flávio Cagno, gestor da Kinea

Colheita de cana-de-açúcar; principal Fiagro da Kinea tem maior concentração no setor de bioenergia | Crédito: Schutterstock

A aversão que derrubou as cotas de boa parte da indústria de Fiagro parece estar (finalmente) ficando para trás, mas a velocidade e a forma da retomada mostram que os fundos de menor risco serão os primeiros beneficiados.

Em um primeiro momento, a janela se abriu para o CRAA11, o Fiagro da Sparta que detém uma estratégia conservadora, concentrado em ativos high grade — comprando e vendendo CRAs no mercado secundário.

A Suno, que desenhou uma forma de distribuição baseada na audiência digital, também está na rua com a oferta do SNAG11, um fundo com cerca de R$ 500 milhões em patrimônio que também prefere uma abordagem de menos risco.

Agora, fundos de maior porte começam a ver a janela se abrir. “Em termos de preço, a gente já está perto de poder vir a mercado de novo”, disse Flávio Cagno, gestor da Kinea, em entrevista ao The AgriBiz na semana passada, ressaltando que isso não significa uma oferta a caminho.

O diagnóstico de Cagno é considerável tamanha é a relevância da Kinea na indústria de Fiagro. O KNCA11, com R$ 2,2 bilhões de patrimônio, é o maior fundo do mercado — e não teve problemas de inadimplência.

No auge da aversão dos investidores, no entanto, as cotas do fundo da Kinea também sentiram. Atualmente, a cota patrimonial é de R$ 102,61 e a de mercado, um pouco acima. Mas no pior momento, em julho, as cotas chegaram a ser negociadas por R$ 99,98.

Desde que estreou o Fiagro, em janeiro de 2022, a Kinea vem modelando o portfólio para estar mais alinhada ao perfil do investidor pessoa física.

“Nosso fundo já nasceu com essa ideia de ser mais conservador. Fomos direcionando para isso cada vez mais. A teoria inicial era mais arriscada do que a de hoje, inclusive. Fomos diluindo essas operações, gerenciando o risco”, contou Cagno.

Atualmente, a maior concentração do fundo está em usinas e players de bioenergia (34% do fundo), seguida insumos agrícolas (12%),  proteína animal (10%) e citricultura (9%). Daqui para frente, a Kinea vê uma alocação mais focada em empresas de qualidade do que em setores prediletos.

Flávio Cagno, gestor da Kinea – Créditos: Divulgação

Nesse jogo, a Kinea conta com um atributo fundamental para avançar: porte. “A gente continua conseguindo acessar operações de alta qualidade no mercado primário, por ter equipe qualificada e por ter um fundo grande”, resume Felipe Greco, gestor dos fundos de agro da casa.

Com um carrego líquido de CDI +2,5%, isento de imposto de renda, o fundo tem um prêmio de crédito atrativo em comparação a outros ativos do agronegócio, por exemplo.

“Hoje, ativos mid-grade pagam entre CDI +1% e CDI +2,5%, considerando nomes com rating A e AA, especialmente CRAs”, analisa Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do Grupo SWM.

Fundo em dólar

Se no investidor de varejo o foco é um risco controlado, o que é expresso no KNCA11, o porte da Kinea também permite oferecer alternativas de maior retorno (e risco, evidentemente) para os investidores qualificados, aqueles que possuem mais de R$ 1 milhão em patrimônio investido.

Neste momento, a Kinea está com uma oferta de R$ 160 milhões para seu primeiro fundo em dólar, o KDOL11. Dividido em duas séries, o veículo vai encerrar o período de captação no dia 29 de setembro, cerca de 10 dias após o inicialmente previsto.

A dilatação do prazo de subscrição chegou a provocar algum burburinho no mercado, mas serve principalmente para acomodar distribuidores, dada a característica da emissão.

“Se o veículo não preencher a captação na primeira série e tiver uma segunda série, esta última será exclusiva para clientes do Itaú. Os distribuidores têm uma esteira interna a ser preenchida e iriam ficar com pouco tempo”, justificou Cagno, afastando especulações de que a oferta ficaria pelo caminho outra vez.

O executivo diz que há um potencial enorme a ser explorado pela tese dolarizada, tanto a partir dos CRAs em dólar — um mercado ainda subaproveitado — quanto pela expertise da Kinea.

Para o gestor, o fundo de inflação, o Kinea RF Absoluto, que atualmente é o maior do Brasil (R$ 8,6 bilhões), é um exemplo. “No início, as pessoas também não entendiam. É parte do processo, insistir, mostrar, criar um produto. Estamos investindo nessa inovação, que vem com essa necessidade de explicar”, diz Cagno.

Além do fundo em dólar, a Kinea também oferece aos investidores qualificados um Fiagro de maior risco, o KOPA11 — esse veículo possui, atualmente, R$ 353 milhões.