Fiagro Talks

O agro vai quebrar? Os gestores de JGP, Suno e XP respondem

Octaciano Neto, Gustavo Gomes e Júlia Bretz debatem as preocupações dos investidores e o futuro da indústria de Fiagro

Recuperação judicial de produtor rural pipocando, uma quebra de safra como poucas vezes se viu em Mato Grosso. Para o investidor que ainda está conhecendo o agronegócio e abriu a porteira do portfólio para os Fiagros, o combo de notícias dos últimos dois meses assustou.

O receio dos investidores está estampado nas cotas. Numa indústria com um valor patrimonial de quase R$ 12 bilhões (considerando apenas os Fiagros listados na B3), o valor de mercado está depreciado, em R$ 10,2 bilhões, de acordo com dados do Clube FII.

Na Faria Lima, a preocupação dos cotistas soou um alerta entre os gestores. Será que os riscos estão sendo explicados da forma correta? Afinal, o agronegócio é bastante amplo para ser generalizado. Nem tudo é soja. Nem todos vão sofrer com uma quebra de safra e as margens mais apertadas da produção de grãos.

Em uma tentativa de separar o ruído do que realmente preocupa, trazemos nesta terça-feira um bate-papo em vídeo com Júlia Bretz, sócia da JGP e responsável pelos fundos de agro da gestora, Octaciano Neto, diretor de agro da Suno, e Gustavo Gomes, responsável pela área comercial dos fundos de agro da XP.

Juntos, o trio gere quase R$ 2 bilhões, ultrapassando 100 mil cotistas, uma amostra relevante da indústria. Em dezembro, a indústria de Fiagros listados em bolsa possuía 472,3 mil cotistas, segundo dados do último boletim mensal da B3.

Na conversa, mediada por The Agribiz a convite da Suno, os gestores reconhecem que passaram a receber mais questionamentos dos investidores, seja por intermédio dos escritórios de agentes autônomos de investimentos (um elo crucial para acessar os investidores de varejo) ou mesmo diretamente.

“O que é que vai quebrar? Essa é a pergunta principal do investidor”, contou Bretz. Para a gestora, a resposta está na transparência dos gestores, demonstrando a capacidade de gerenciar riscos nos fundos, como ocorre em outros setores cíclicos da economia.

Octaciano, da Suno, vê uma disparidade abissal entre a fortaleza do agronegócio e os riscos que passaram atormentar o investidor. “O barulho tem sido muito maior do que os problemas. Em torno de 400 mil produtores são responsáveis por 86% do valor bruto da produção agropecuária. E estamos falando de apenas 80 pedidos de recuperação judicial. É insignificante perto do volume total”, diz.

As escolhas na alocação do crédito também fazem diferença. “Um cliente não quebra por conta de uma safra só. Se vem um cliente e quebra, é um problema que talvez o gestor não tenha analisado lá atrás”, disse Gomes, ressaltando o perfil sólido dos agricultores que fazem parte dos dois fundos de agro da XP (XPCA e XPAG).

Ao contrário do que alguns supõem, os produtores rurais que estrearam no mercado de capitais pelas mãos da XP não eram clientes problemáticos que estavam sem acesso ao mercado bancário. Pelo contrário. São produtores que estão aprimorando a governança, diversificando as fontes de financiamento e alongando o passivo, melhorando a estrutura de capital.

“Antes de mais nada, o agro não vai quebrar”, resume Gomes, executivo que antes da XP fez carreira no Rabobank, um dos bancos que mais conhece de crédito no agronegócio.

Abaixo, os principais trechos da conversa.

O agro vai quebrar?

Gustavo Gomes, da XP: “Antes de mais nada, o agro não vai quebrar. Muitos investidores vêm questionando, e a gente vem dialogando com muitos escritórios vinculados à XP, para passar a nossa visão. A questão não é se vai ter 140 milhões de toneladas ou 150 milhões de toneladas na colheita da soja. É entender o momento atual e como isso deriva para o crédito. Sim, é uma safra de equalização. As margens serão menores. Mas o cliente não quebra por conta de uma safra só. Se vem um cliente e quebra, é porque é um problema que talvez o gestor não tenha analisado lá atrás”.

Conforto no desconforto

Júlia Bretz, da JGP: “Não atravessamos o sinal amarelo, mas ainda temos que olhar o que está acontecendo. É preciso ficar confortável no desconforto. E algumas das conversas são desconfortáveis de ter. Faço um apelo para o empresário ou produtor do campo. Não tenha medo e não fique com vergonha. Quanto antes você se sentar na mesa com quem está te financiando, melhor. Você demonstra muita boa fé e não perde a confiança da contraparte. Assim, a contraparte tem tempo para criar uma solução para você e para ela”.

Recuperação judicial

Octaciano Neto, da Suno: “No agro brasileiro, temos 5 milhões de produtores rurais. Desses, 400 mil são responsáveis por 86% do valor bruto da agropecuária. De 400 mil produtores, temos 80 RJ. Isso é insignificante perto do volume total de produtores totais no Brasil. Olhando do ponto de vista do investidor de Fiagro, acho que o barulho tem sido muito maior do que efetivamente os problemas que estamos tendo. Aqui dentro de casa, fazemos um acompanhamento quase que diário e estamos muito confortáveis com a nossa carteira”.

Revendas

Júlia Bretz, da JGP: “A gente entende que grandes revendas têm uma capacidade de negociação com os fornecedores e clientes muito maior que aquelas pequenas e regionais. Num momento em que o cliente não quer receber o insumo e precisa conversar com o fornecedor dele, ele precisa ter escalabilidade. A gente prefere revendas maiores que têm esse poder de barganha para falar com fornecedor dele, tentar espremer ao máximo o prazo do fornecedor”.

Confira a íntegra da conversa clicando aqui.

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The Agribiz agradece o convite da Suno para mediar a conversa e o time responsável pela edição do vídeo. O bate-papo foi gravado nos estúdios da Suno, em São Paulo.