Crédito

Pátria estreia em Fiagro com oferta de R$ 250 milhões

“O fundo vai fazer muita operação com distribuidores de insumos e sementeiras. Também gostamos muito de fertilizantes”, contou Alexandre Coutinho, sócio do Pátria

Em mais um movimento para se aproximar dos investidores de varejo, o Pátria acaba de anunciar sua entrada em Fiagro. A gestora de Alexandre Saigh — uma gigante de US$ 27 bilhões em ativos na América Latina — lançou hoje uma oferta para um Fiagro de crédito de R$ 250 milhões.

A ideia é montar um portfólio com CRAs corporativos, pulverizados e FIDCs nas cadeias agropecuárias que a firma já conhece. A gestora vai aproveitar a expertise da área de private equity de casa, que já investe no agro há 15 anos — com um retorno de 35% ao ano — para escolher os ativos do Fiagro.

“O fundo vai fazer muita operação com distribuidores de insumos e sementeiras. Também gostamos muito de fertilizantes”, contou Alexandre Coutinho, sócio do Pátria responsável pela área de crédito. (Na semana passada, The Agribiz mostrou que a Petrovina Sementes conversa com o Pátria para a estruturar a emissão de um CRA).

O Fiagro do Pátria quer ser encarado como um fundo de mid yield, buscando um retorno entre CDI + 3% e CDI + 3,5% ao ano, com pagamento mensal de dividendos. “Não seremos um fundo high yield, que paga cupons muitos gordos, mas são muito ariscados. Não é o nosso foco”, diferenciou Coutinho.

Crise de crédito no agro?

A chegada do Pátria ao mundo dos Fiagro neste momento, quando o ciclo de preços de commodities virou e há mais casos de inadimplência, é encarada pelo gestor como uma vantagem, e não um problema.

“Não chegamos no fim da festa. Este é o melhor momento para entrar. Quando o mercado está estressado é quando você consegue selecionar melhor e travar boas taxas”, argumentou Coutinho, que lidera uma área com R$ 25 bilhões em fundos de crédito.

Em momentos de stress, prosseguiu o gestor, é mais fácil perceber quais empresas estão em dificuldades e fugir delas. Ao mesmo tempo, há melhores oportunidades de spreads em boas empresas. Não à toa, lembrou, o Pátria fez muitos investimentos em crédito no primeiro trimestre, depois da crise da Americanas, e também no início da pandemia.

Inteligência do private equity

A estratégia do Pátria para o Fiagro está ancorada na inteligência das outras áreas da casa — especialmente private equity e infraestrutura — para escolher os ativos do Fiagro. “Vamos utilizar o conhecimento deles para mitigar risco”, disse o gestor de crédito.

Em private equity, o principal investimento do Pátria no agronegócio é a Lavoro, maior rede de revendas agrícola da América Latina. Listada na Nasdaq, a companhia fatura cerca de US$ 2 bilhões e está avaliada em US$ 738 milhões.

Sementes de soja
Fiagro do Pátria deve alocar em crédito de sementeiras e distribuidores de insumos, disse o sócio Alexandre Coutinho | Crédito: Shutterstock

Apesar de aproveitar o conhecimento, o Fiagro não fará investimentos em ativos ligados aos fundos de private equity da casa. Para evitar conflitos de interesse, o regulamento do Pátria Crédito Agrícola proíbe o investimento em ativos controlados ou com participação relevante da firma. Por outro lado, o fundo poderá investir em concorrentes, clientes e fornecedores de companhias de seu portfólio.

Distribuição na XP

A distribuição do Fiagro do Pátria será feita exclusivamente na XP. O anúncio do fundo nesta sexta-feira, aliás, não é um mero acaso. O Pátria quer aproveitar o barulho da Expert, evento da XP que reúne milhares de investidores em São Paulo. O evento, que tem a gestora como uma das maiores patrocinadoras, acontece hoje e amanhã.

Inicialmente, o fundo de agro do Pátria será negociado apenas no mercado de balcão — um veículo cetipado, no jargão do setor. “Vamos começar a fazer cetipado, mas num segundo momento vai evoluir para um produto listado na bolsa”, adiantou Coutinho.

A meta do Pátria é alocar os recursos do Fiagro ao longo de três a quatro meses. A previsão é concluir a captação do fundo ao longo de setembro. O tíquete mínimo para investimento no Fiagro do Pátria é R$ 1 mil.

Desde que foi criado, há dois anos, o Fiagro é uma das classes de ativos que mais cresce. No último boletim mensal, a B3 informou que a indústria de Fiagro reúne mais de 330 mil investidores e R$ 8,8 bilhões sob custódia.

Assim como ocorre nos fundos imobiliários, os investidores pessoa física de Fiagro têm isenção de imposto de renda na distribuição de dividendos.