A Sparta, uma das casas de crédito mais respeitadas do País, vai tentar atravessar a arrebentação, testando o apetite dos investidores em meio ao azedume que toma conta do mercado de Fiagros.
A asset fundada por Victor Nehmi — e hoje chefiada pelo filho Ulisses Nehmi — lançou um follow-on de R$ 150 milhões para o CRAA11, o Fiagro da gestora, uma rara oferta neste ano macambúzio para os fundos listados de agro.
Se for bem-sucedido, o follow-on dará ao CRAA11 um tamanho para ser um player mais relevante. Atualmente, o Fiagro da gestora possui um patrimônio de apenas R$ 50 milhões, um dos menores entre os listados na B3.
Em termos absolutos, a oferta do CRAA11 é pequena para o porte da Sparta, que em menos de um ano captou mais de R$ 1,8 bilhão para seus dois fundos de infraestrutura (JURO11 e CDII11), em ofertas que tiveram retumbante sucesso.
A estratégia do CRAA11
Ao contrário de concorrentes que apostaram na originação de ativos mais heterodoxos e grande exposição direta ao produtor rural, a Sparta preferiu uma abordagem conservadora para seu Fiagro.
“A gente foca muito mais no agribusiness do que na agricultura propriamente, o que é muito mais seguro e oscila menos”, disse Victor Nehmi em uma entrevista concedida ao The AgriBiz no início de abril.
Com um portfólio de inclui ativos de alta qualidade de crédito, com emissores do porte de JBS e Minerva e cooperativas organizadas como a paranaense Capal, o CRAA11 prefere a segurança ao risco.
“Já fizemos muita conta. A longo prazo, o crédito high grade bate o high yield”, argumentou Márcio Takaya, gestor da Sparta, durante a mesma entrevista em abril. O carrego histórico do CRAA11 é de CDI + 3% ao ano.
Acima do patrimonial
A abordagem conservadora ajudou a Sparta ficar entre os raros Fiagros que negociam acima do patrimonial, o que é fundamental para emplacar um follow-on. Na sexta-feira, a cota negociava na B3 a R$ 104,70, enquanto o valor patrimonial estava em R$ 100,33 no fechamento de maio.
Para alguns concorrentes, o tamanho diminuto do fundo também ajuda a manter as cotas acima do patrimonial. É um tamanho que também permite que os sócios da asset comprem cotas, preservando o valor patrimonial, argumentou um gestor concorrente.
De qualquer forma, o fato é que a carteira da Sparta performa bem, sem qualquer ruído de inadimplência. Em doze meses, o CRAA11 rendeu 15,9%. “Obtivemos retornos maiores, tomando riscos substancialmente menores”, argumentou a gestora, em seu último relatório mensal. Uma parte relevante do retorno (2,8%) veio da gestão ativa, girando os ativos no mercado secundário.
Agora, o desafio da Sparta será convencer os investidores de varejo que andam ressabiados com os Fiagros, especialmente após os desdobramentos das últimas semanas — fraude no mercado de crédito de carbono atingindo o Fiagro da AZ Quest e a crise da Patense chegando à Capitânia.
Um desafio adicional para a Sparta será emplacar a oferta do CRAA11 sem a participação da XP, corretora que domina a distribuição de Fiagro. Com a capitalidade de seus milhares de assessores e agentes autônomos, a corretora de Guilherme Benchimol tem mais de 60% de participação de mercado. A ausência da XP, aliás, é um retrato do momento mais difícil para toda a indústria.
No follow-on do Fiagro da Sparta, o coordenador líder é a RB Investimentos. No momento, a oferta está em fase de exercício do direito de preferência dos atuais cotistas do CRAA11 (menos de 3 mil investidores). A subscrição efetiva começa em 1º julho, com a alocação prevista para 26 de julho.