Depois das tempestades, a bonança pode estar a caminho para a Raça Agro e, de quebra, para a indústria de Fiagro. Num feito raro, a revenda de insumos agropecuários comandada por João Fagundes fechou um acordo histórico com seus principais credores após quatro meses de negociações.
O acordo evita que a Raça Agro precise recorrer a uma recuperação judicial, um desfecho que parecia improvável em abril, quando a companhia obteve uma liminar contra a execução das dívidas.
O sucesso das negociações é uma vitória particularmente especial para a Kijani, gestora comandada por Bruno Santana. Uma das maiores entusiastas da tese da Raça Agro, a Kijani é também umas das mais expostas aos créditos e foi a responsável por conduzir as conversas entre a revenda e o Banco do Brasil.
Já a Vectis manteve negociações diretas com a Raça Agro, já que a gestora tinha um CRA exclusivo da companhia, diferente dos títulos de BB e Kijani. Esse CRA exclusivo é parte da carteira do Fiagro da Vectis (VCRA11) e contava com garantias extraconcursais. “Devido à exclusividade dessas garantias, a Vectis manteve negociações diretamente com a Raça Agro para adequar o fluxo de sua operação e reforçar suas garantias, de modo a preservar o interesse dos investidores e atender às necessidades da companhia”, informou a Vectis em nota. A reestruturação dessa dívida também foi bem-sucedida.
O alinhamento dificilmente poderia ser mais positivo. Não haverá desconto sobre o principal de nenhuma das dívidas, nem alterações em suas respectivas garantias, como aponta um comunicado divulgado pela Kijani na noite desta segunda-feira (26).
O principal Fiagro da gestora, o Asatala, detém dois CRAs (Zootec e Grupo Raça) emitidos pela Raça Agro. Juntos, esses títulos somam cerca de 10% do patrimônio líquido do veículo — o fundo tem um PL de R$ 674 milhões.
De acordo com o relatório mais recente da Kijani, a assembleia de um dos CRAs da Raça Agro foi realizada no dia 31 de julho, aprovando as condições já acordadas anteriormente. Agora, todas as partes seguem para a etapa de formalização, que deve acontecer nas próximas semanas.
A Raça Agro segue trabalhando para a realização da assembleia de cotistas, também com o intuito de implementar os termos negociados e seguir com a formalização dos documentos, que vão concluir o processo de renegociação.
Agora, a expectativa é que a companhia consiga garantir fluxo de caixa para realizar o pagamento dos títulos até o vencimento da operação.
Para a indústria de crédito, a solução encontrada pela Raça Agro — junto com as captações de casas como Sparta e Suno — traduz mais um sinal positivo de recuperação para a indústria de Fiagros, meses depois de a classe de fundos sofrer com a desconfiança relacionada às recuperações judiciais no primeiro semestre.
O que aconteceu com a Raça Agro
Como The AgriBiz reportou em abril, a Raça Agro embarcou em uma jornada de expansão ao longo dos últimos anos e foi pega no contrapé.
Na fase atual do ciclo da pecuária, a companhia deu de cara com uma demanda retraída de pecuaristas, ao mesmo tempo em que suas novas lojas ainda não estavam maduras. O saldo foi uma alavancagem que disparou — a empresa teve Ebitda negativo em 2023 — e um caixa que secou. Em abril, a Raça Agro tinha R$ 17 milhões em caixa, para dívidas que somavam R$ 280 milhões.
Diante de tal situação, a principal preocupação do mercado era a insolvência da companhia.
Desde o início da crise, a postura como construtiva de Fagundes chamou atenção. “A postura do empresário, depois da medida cautelar, tem sido a de boa vontade para negociar”, dizia Bruno Santana, da Kijani.
Para alívio geral, a boa vontade rendeu frutos. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)
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O texto foi atualizado para esclarecer que a Vectis negociou diretamente com a Raça Agro, como consta no quarto parágrafo.
