A mineira Futura Agro vem provando que é possível atravessar a crise das revendas agrícolas sem dar calote. A companhia comandada por Fabiano de Paula não passou incólume às turbulências, mas vem conseguindo renegociar o passivo com os bancos e até quitar algumas dívidas.
Em diálogo com os credores, a Futura Agro fez uma amortização extraordinária de R$ 40 milhões nesta quinta-feira, reduzindo em cerca de 40% o saldo devedor de um CRA emitido em junho de 2022.
Entre os credores que receberão a amortização, estão os Fiagros de casas como Sparta (CRAA11) e JGP (JGPX11 e JGPT11). O CRA da Futura representa em torno de 2% do patrimônio líquido desses fundos.
A amortização desta quinta-feira é a segunda feita pela Futura Agro em menos de um ano. Em junho do ano passado, a rede de revendas já havia feito uma amortização de R$ 85 milhões.
Ambas as amortizações ocorreram como uma forma de obter o waiver dos credores do mercado de capitais por não ter cumprido os covenants de alavancagem.
A Futura deveria preservar a relação entre dívida líquida e Ebitda em no máximo 3 vezes, mas a situação difícil para as revendas chegou a levar o indicador para mais 6 vezes em 2023.
Aos credores, a Futura Agro sinalizou que a situação ainda está apertada, mas vem melhorando. A expectativa é que o índice de alavancagem tenha encerrado o ano passado entre 5 e 5,5 vezes — um patamar ainda alto, mas em tendência de queda.
Nesse meio tempo, a companhia conseguiu renegociar o passivo de curto prazo com os bancos, preservando as linhas de crédito (e também os limites) com os principais financiadores: Bradesco, Sicoob, Banco do Brasil e Santander. Atualmente, a dívida bruta é da ordem de R$ 400 milhões.
A companhia também conseguiu captar dinheiro novo, o que foi crucial para amortizar o CRA. Em setembro, a Futura Agro levantou R$ 160 milhões em um outro CRA, com vencimento em 2027 e juros de CDI + 5% ao ano. A emissão contou com recursos dos próprios controladores (Fabiano de Paula e a esposa Alessandra).
Operacionalmente, os sinais da Futura são encorajadores. Mesmo com a queda dos preços dos grãos, a companhia conseguiu manter o faturamento em aproximadamente R$ 1,2 bilhão em 2024, o que reflete o maior volume de insumos comercializado.
A rentabilidade melhorou, com o Ebitda saindo de cerca de R$ 40 milhões no ano retrasado para algo próximos de R$ 70 milhões, o que sugere uma margem de 5,8% — apertada, mas em linha com o negócio de revendas.
Nesse ambiente mais construtivo, a Futura prepara o terreno para conseguir acessar o mercado de capitais novamente daqui a alguns meses com um novo CRA, obtendo funding para quitar o saldo remanescente do CRA que vence em junho de 2025 e usando o restante dos recursos para financiar as operações.
Sediada em Araguari, no Triangulo Mineiro, a Futura possui mais de 20 lojas, distribuídas entre Minas Gerais e Goiás.