Quem serão os vencedores da corrida pela digitalização do agronegócio? O ex-secretário de Agricultura do Espírito Santo Octaciano Neto, um fissurado no tema, já tem sua aposta: as plataformas que congregam vários serviços em um só ecossistema, lideradas pelos bancos.
Se o Itaú BBA foi o primeiro a despertar para o tema, comprando uma participação na Orbia — marketplace que também conta com Bayer e Yara entre os sócios —, o maior financiador privado do agro não ficaria para trás. Desde maio, o Bradesco também conta com sua plataforma: o E-agro.
“É até vocacional para o Bradesco. O banco nasceu em Marília financiando produtores de café”, lembra Nadege Saad, a executiva recrutada para liderar o E-agro.
Com mais de R$ 100 bilhões na carteira de crédito no agro, o Bradesco vem acelerando para digitalizar os serviços, reunindo fornecedores de máquinas e insumos agrícolas na plataforma. São mais de 25 parceiros (a John Deere deve ser a próxima a ser anunciada).
Em poucos meses, a E-agro já ajudou o Bradesco a liberar R$ 300 milhões em crédito de forma totalmente digital, a maior parte para custeio. A partir desta semana, o E-agro também abrirá uma nova frente. Pela primeira vez, as linhas de crédito poderão ser tomadas de forma digital, via E-agro.
A digitalização traz mais eficiência e agilidade para o processo. “Com a CPR 100% digital, o dinheiro cai em até 15 dias. Teve operação que saiu no mesmo dia. Na rede física, o desembolso ocorre em até 30 dias”, compara Saad.
Ambiente competitivo
Para a executiva, a relevância do Bradesco pode ser um diferencial para o E-agro, ajudando a atrair parceiros que conhecem o poder de funding do banco e a capilaridade entre os produtores que são correntistas (2 milhões de agricultores).
“O diferencial é que a gente tem a parte de crédito ancorado, fazendo com que as compras sejam bastante viáveis”, argumenta Saad, comparando à oferta de serviços da plataforma a outros competidores.
A executiva sabe do que está falando. Antes de ser contratada para liderar o E-agro, Saad liderou a estratégia da Agrofy, startup argentina que criou um marketplace de insumos e máquinas e já levantou mais de US$ 60 milhões com investidores.
Além do trunfo do crédito, a estrutura para o desenvolvimento das tecnologias embarcadas nos produtos digitais do E-agro também ajudam, numa tentativa de unir o melhor dos mundos entre um conglomerado como o Bradesco e uma startup (mais rápida nas decisões).
O E-agro já nasceu dentro do ambiente de inovação do Bradesco, o InovaBra. Nesse espírito, fez uma parceria com a IBM. Atualmente, 40 profissionais da companhia de tecnologia trabalham no desenvolvimento dos produtos para o E-agro. Além desses, a plataforma da Bradesco conta com 90 pessoas.
Com o tempo, o E-agro quer mostrar que pode ser um ambiente ainda mais aberto. Além dos fornecedores que se conectam à plataforma para vender insumos e máquinas digitalmente, Saad também quer trazer outras instituições de crédito para o jogo.
“O Bradesco é o parceiro de crédito, mas foi criado para ser uma plataforma agnóstica. Outro banco ou cooperativa vai poder atentar. A ideia do ecossistema é que isso aconteça”, disse Saad.
A depender do tipo de crédito, uma agfintech pode ter maior expertise para concessão de recursos. “De repente, uma fintech de café tem um conhecimento melhor e vai poder estar aqui para financiar”, citou.
O processo é muito novo, mas o Bradesco está criando uma plataforma com efeitos de rede difíceis de ignorar.