RURA11

O caos não veio. No Fiagro da Itaú Asset, o agricultor pagou mais rápido

Tadeu Barreto, gestor do Fiagro da casa, vê fluxo de pagamentos bem melhor do que se esperava

“Tudo em volta está deserto”. O verso da canção de Caetano Veloso poderia bem resumir o sentimento de muito gestor e investidor de Fiagro, mas já há quem diga que o mau-humor generalizado foi longe demais.

Se os resultados colhidos pelo Fiagro da Itaú Asset (o RURA11) forem uma boa proxy, talvez seja possível virar o disco. No segundo maior Fiagro da indústria, com um patrimônio de R$ 1,6 bilhão e grande exposição ao produtor de grãos, os pagamentos estão indo muito bem, obrigado.

Uma conversa com Tadeu Barreto, gestor do RURA11 que passou por diversos bancos e está habituado a sujar a botina nas fazendas, traz um clima muito diferente, que destoa da preocupação da Faria Lima.

“Tenho a sensação de que as empresas, gestores e securitizadoras foram mais firmes na cobrança. Todo mundo esperava o caos, a gente esperava um cenário pior do que a média, mas fomos surpreendidos positivamente, com um fluxo melhor do que o dos últimos anos”, disse Barreto em entrevista ao The AgriBiz.

O gestor não ficou apenas nas impressões qualitativas. Ele apresenta as métricas que comprovam seu otimismo com o cenário que se desenha à frente. Um exemplo está no crédito pulverizado, aquele concedido com base no risco da carteira de produtores rurais de uma empresa.

O fluxo de pagamentos dentro desse tipo de título — seja ele um CRA pulverizado ou um FIDC pulverizado — está melhor do que o gestor estimava no início do ano, apesar de toda a pressão de margens sobre os produtores de grãos.

Barreto fala em um momento particularmente relevante para os players de distribuição de insumos e financiadores do custeio da safra de soja. Tradicionalmente, os pagamentos dos produtores se concentram entre 20 de abril e 30 de maio e, como é de praxe, algum atraso é cultural.

Em geral, os atrasos de cinco dias em relação a essas datas ficam em torno de 30% a 35% da carteira, com o percentual diminuindo até chegar a 1,5% no prazo de 60 dias após o vencimento. Neste ano, a curva diminuiu mais rápido. Os 30% a 35% iniciais se mantiveram, mas baixaram muito mais rápido do que a média histórica, disse Barreto.

A carteira do RURA11

Na carteira do RURA11, os créditos pulverizados somam R$ 115 milhões, cerca de 9% do patrimônio líquido, alocados em cerca de sete distribuidores de insumos.

Em momentos macroeconômicos mais desafiadores, esse tipo de concessão de crédito permite ao fundo se blindar das dificuldades corporativas pelas quais as revendas passam. Para Barreto, é melhor estar exposto ao cliente das revendas agrícolas do que às distribuidoras, que muitas vezes possuem uma estrutura de capital menos saudável.

Além dos créditos pulverizados de revendas, o RURA11 é conhecido pela diversificação do portfólio. Em número de emissores, o Fiagro da Itaú Asset é o mais privilegiado do mercado. Na carteira da RURA11, há espaço até para os fundos de fintechs como TerraMagna, Nagro e Agrolend.

Atualmente, são cerca de 60 emissores no portfólio, entre produtores rurais médios e grandes com CRAs, passando por créditos pulverizados e corporativos. “Dá um baita de um trabalho, mas acho que esse é o nosso grande diferencial”, disse Barreto.

Buy and hold

Na lógica da RURA11, a busca é por papéis mid-risk que o fundo possa carregar até o vencimento. Até hoje, o RURA11 girou menos de 10% da carteira.

O Fiagro da Itaú Asset mira entregar retornos de CDI+2,5% a CDI+3% aos investidores, em média. “Não vamos ter um CRA da Raízen, mas também não vou ter um CRA extremamente high yield, que vai me trazer uma perda potencial grande no curto prazo”, contou Barreto.

Com poucos solavancos até aqui, o RURA11 até gostaria de ir a mercado para aumentar o tamanho do fundo com um follow-on, mas o momento de mercado não ajuda. Assim como boa parte dos pares, o Fiagro da casa negocia abaixo do valor patrimonial, o que desestimula qualquer operação de captação.

Enquanto o mercado não desanuvia, o RURA11 decidiu aumentar a alocação do portfólio alavancando o fundo, o que pode ser feito num limite de 10% do patrimônio líquido dos fundo (cerca de R$ 160 milhões).

“Pago CDI+0,5% ao banco que está me emprestando e estou trazendo ativos a CDI+3%. Esse alfa pode ser distribuído por todo o patrimônio líquido do fundo. É uma estratégia que os fundos imobiliários fazem bastante”, explica Barreto.

Se depender do desempenho da safra de crédito do RURA11, a mudança de humor já está contratada. O deserto está no fim.