Quando os pedidos de recuperação judicial de agricultores começaram a pipocar e o fantasma dos calotes passou a assombrar os gestores da Faria Lima, muitos se apressaram nas conclusões: dar crédito para produtor é coisa de maluco! Não por coincidência, muito cotista de Fiagro saiu correndo.
Celso Affonso Filho, um executivo que fez boa parte da carreira originando e estruturando créditos para agricultores, acompanhou as reações do mercado com perplexidade. Tamanha generalização só pode fazer mal ao desenvolvimento da agricultura no mercado de capitais.
“Queremos fazer um negócio diferente para acabar com essa demonização do produtor rural”, disse Affonso Filho em um entrevista ao The AgriBiz.
Para mudar a forma como o agricultor é visto, o executivo criou a MSA Partners, uma butique de originação e estruturação de crédito voltada exclusivamente para a agricultura.
Depois de anos sócio da Éxes, gestora que possui um Fiagro concentrado em agricultores, Affonso Filho criou o próprio negócio para atender um perfil de produtor com melhor perfil de crédito (de preferência, high grade), com uma relação de proximidade que pode dar conforto ao mercado.
“Não vou trazer produtor com problema para o investidor”, resume o fundador da MSA, que também já passou pelos frigoríficos Bertin e JBS e pelo Banco Original, atendendo agricultores.
Quando encontra um produtor que busca recursos no mercado de capitais, a butique faz um trabalho de análise de crédito como se ela própria fosse conceder os recursos. Só depois de aprovado nessa etapa é que a MSA bate na parte dos gestores.
“Se o cara tiver problema ambiental, a gente nem começa. Não vou ficar dando trabalho para o investidor analisar e negar lá na frente”, explica Affonso Filho. Nesse primeiro filtro, a MSA já evita algumas dores de cabeça.
A assessoria de governança
Depois de passar pelo crivo da butique, Affonso Filho pode bater na porta de casas como Itaú Asset, Vinci, XP, Leste e Riza sabendo possuir um cliente com perfil adequado à lógica dos Fiagros.
A ideia é que a MSA faça poucas operações por ano, oferecendo um “pós-venda” que faça a diferença tanto para o agricultor quanto para os investidores que embarcaram na tese de investimentos — geralmente, um CRA.
Pelas contas de Affonso Filho, a MSA vai fazer de sete a oito operações de crédito por ano, com um tíquete mínimo de R$ 30 milhões e uma remuneração ao investidor que oscile entre CDI + 3% e CDI + 5% ao ano.
A primeira transação estruturada pela MSA ocorreu ainda em fevereiro, mas só veio à público no mês passado. A casa de Affonso Filho originou e estruturou um CRA de R$ 48 milhões para a fazenda mineira Quatro Gerações, do produtor de soja Adriano Carniel.
O CRA foi totalmente encarteirado pelo RURA11, Fiagro da Itaú Asset que possui mais de R$ 1,6 bilhão em patrimônio.
A operação de estreia da MSA saiu a CDI + 6,5% ao ano, uma taxa razoavelmente maior do que o alvo da casa, mas representou uma economia para o agricultor, que usou os recursos para pré-pagar uma dívida mais cara (8,65% ao ano) tomado com outra gestora.
Para Affonso Filho, a melhora de taxa é também uma demonstração de como o mercado de capitais pode ajudar a reduzir o custo de capital dos produtores à medida em que eles aprimoram a governança.
Após a originação, a MSA dá partida ao serviço de pós-venda, o que pode ser um dos diferenciais da casa. Por um ano, o produtor terá uma reunião mensal de acompanhamento da Hand, uma consultoria de Campinas.
O serviço já está embutido na taxa da MSA na originação do crédito. Nos anos seguintes, o agricultor pode renovar o serviço por cerca de R$ 250 mil por ano, o que inclui recomendações de gestão e análise de mercado.
Em breve, a MSA vai lançar mais um tipo de serviço. Para os clientes já maduros em governança, vai oferecer gestão de risco de commodities, o que pode incluir hedge de moedas e commodities. Esse serviço será feito em parceria a Virtus Advisors, de Rafael Harada (ex-head global de riscos da JBS).
De Bauru à Faria Lima
Aos poucos, a MSA vem ganhando capilaridade. A casa começou em Bauru, cidade do interior paulista onde Affonso Filho mora — enquanto não está visitando produtores—, mas está crescendo.
No início de abril, a MSA fincou as bases (literalmente) na Avenida Faria Lima ao trazer o sócio Marcelo Galvão, economista que começou a carreira trabalhando com barter de algodão na BASF e que até o primeiro trimestre era o responsável por agro no banco de investimentos da Genial.
O próximo passo é ganhar capilaridade no Centro-Oeste, com a abertura de escritórios em Sinop (MT) e na região de Goiânia. Cada vez mais perto dos principais polos produtivos, Affonso Filho quer mostrar que o agricultor está longe de ser um vilão.