Dois anos depois de estrear na indústria de Fiagro, a JGP — gestora criada por André Jakurski — trouxe um panorama das complexidades de operar crédito no agronegócio em seu último relatório gerencial.
Há alguns meses, a sócia Julia Bretz já havia alertado para o risco de inadimplência, especialmente entre produtores rurais, o que se confirmou nas últimas semanas com casos de calote no pagamento de juros e amortizações de CRAs que compõem o portfólio de alguns Fiagros.
“Antevemos que o próximo ano ainda será desafiador em termos de rentabilidade, especialmente devido a questões climáticas que não apenas atrasam o plantio, mas também os pedidos, vendas, podendo ter impactos derivados em setores”, escreveu a JGP, no relatório divulgado na última quinta-feira.
Na carta mensal aos investidores, a equipe da JGP deu mais detalhes sobre a qualidade de crédito do portfólio dos JGPX11, o Fiagro da gestora que é negociado na B3 e tem um patrimônio de pouco mais de R$ 200 milhões.
Os fundos da casa não têm exposição direta aos agricultores. “Ressaltamos nossa estratégia de evitar exposição direta aos produtores rurais, que historicamente têm enfrentado mais dificuldades em momentos de estresse”, disse a JGP.
Abrindo os ratings
A partir de um sistema proprietário de rating, a gestora monitora não só os papéis que compõem os fundos da casa, mas também outros títulos que circulam no mercado e fazem parte de Fiagros de outras assets.
No JPGX11, 28% dos CRAs têm rating B, 23% estão classificados como B+ e 20% como B-. O restante dos papéis do fundo têm ratings em níveis acima (16% é A+ e 13% A-).
“Para ser considerado elegível para investimento no JGPX11, um ativo não pode apresentar rating abaixo de B-. A classificação C indica um alto risco de crédito e uma probabilidade maior de inadimplência”, explica a gestora.
Para ilustrar como os papéis com rating C são problemáticos, a gestora mostrou o que ocorreu com alguns títulos que acompanha desde que fez a primeira avaliação de risco.
“Seguimos monitorando ativamente esses casos, mesmo sem realizarmos o investimento, seja para acompanhamento de uma possível reversão de cenário, seja para identificação de desdobramentos e impactos no setor como todo”.
Empresas
Na lista de papéis nessa situação, estão desde companhias como Geneseas, que produz tilápia, passando por produtores rurais como os irmãos Castilhos e o Grupo Três Irmãos até usinas sucroalcooleiras como Serpasa e Ester e cooperativas como a gaúcha Languiru.
Além da baixa avaliação de crédito, os casos citados tiveram problemas de crédito e afetaram a indústria de Fiagro. “Observamos que alguns ativos avaliados anteriormente por nós estão enfrentando desafios financeiros que variam desde inadimplência de pagamento até reestruturação da dívida, chegando até mesmo a pedidos de recuperação judicial”, prosseguiu a JGP.
A Usina Ester, por exemplo, entrou em recuperação judicial e chegou a atrasar pagamentos a um fundo de agro da XP.
A Languiru, um dos casos mais conhecidos pela exposição do VGIA11 — Fiagro mais negociado da bolsa —, está em processo de liquidação. A Serpasa também atrasou pagamentos, o que atingiu fundos imobiliários e Fiagros de casas como Vinci e Vectis no primeiro semestre.
O Grupo Três Irmãos, de Mato Grosso, foi um dos casos mais recentes, engrossando a lista de agricultores que pediram recuperação judicial. O CRA do grupo faz parte do portfólio de um Fiagro da gestora Galápagos.
Na carta, a JGP argumenta que, quando fez a avaliação inicial de risco dos papéis, já era possível notar que “muitos desses casos apresentavam alto endividamento em suas estruturas de capital e margens estruturalmente comprimidas, situação agravada pela baixa nos ciclos de rentabilidade de alguns segmentos do agronegócio”.
Sem acionistas capazes de suportar a situação, muitas dessas companhias tiveram de transferir as perdas aos credores.