Crédito privado

Por dentro do VGIA11, o Fiagro da Valora

Com o VGIA11, a Valora gere mais de R$ 900 milhões e possui o Fiagro mais negociado da bolsa, com 60 mil cotistas

Se você pedir uma lista de quem entende do riscado quando o assunto é crédito agrícola, a Cargill certamente estará no grupo. Na Valora, asset com mais de R$ 11,7 bilhões em ativos sob gestão, a área de agro está justamente sob os cuidados de Guilherme Grahl, que foi diretor de crédito da trading americana por cinco anos (2013-2018)

Nessa condição, Grahl é o gestor do VGIA11, o Fiagro da Valora. O fundo de mais de R$ 900 milhões investidos é o Fiagro mais negociado da bolsa, com 60 mil cotistas – um contingente de investidores atraído pelos retornos do papel (CDI + 7,9%).

A Valora tomou um susto em fevereiro, quando a Languiru anunciou o pedido de carência aos credores. Explica-se: o VGIA11 detém R$ 100 milhões em CRAs da cooperativa gaúcha, o que equivalia a 14% do patrimônio do fundo considerando os dados do último relatório mensal.

Fiagro da Valora aposta em grãos

No limite, um calote da Languiru pode prejudicar a rentabilidade do Fiagro da Valora, prejudicando as cotações. Até agora, não foi isso o que aconteceu e a gestora até conseguiu levantar R$ 127 milhões com investidores num follow-on concluído em março (os recursos já foram todos alocados).

As garantias do VGIA11

Numa conversa com The Agribiz, Grahl traçou um cenário benigno para os títulos da Languiru. De um lado, os principais credores (Banrisul, BRDE, Sicoob, Banco do Brasil) são instituições que conhecem bastante de crédito agro, o que já ajudou nas negociações da cooperativa gaúcha.

“A Languiru também não colocou os bancos na parede, nem pediu haircut. Foi uma proposta funcional para alívio de liquidez”, diz o gestor.

Para completar, Grahl se diz confiante na proposta chinesa. “Acho que a solução está dada. Agora é acompanhar a execução”.

Os riscos ainda não estão dissipados — entre o interesse de investir e a chegada do capital chinês vai algum tempo –, mas o gestor da Valora vem acompanhando de perto o desenlace da crise na Languiru e parece otimista.

Até agora, a Languiru está adimplente com os pagamentos ao VGIA11. O fundo de reserva dos CRAs — que equivale a três meses de pagamento de juros — continua sendo reposto, o que dá tranquilidade por mais algum tempo até que a situação se resolva definitivamente.

Na visão de Grahl, a Languiru foi afetada por ter uma concentração de dívidas de curto prazo (especialmente bancárias) num momento em que a taxa de juros disparou e os produtores de carne suína e de frango sofrem com margens muito apertadas ou até negativas.

Quando analisa a carteira dos demais créditos que compõem o VGIA11, Grahl vê a Languiru como um caso isolado. A maior parte do portfólio do Fiagro está exposto ao mercado de grãos (via revendas que dão crédito a agricultores ou cooperativas), negócio que o gestor conhece bem desde os tempos de Cargill.

“O produtor de grãos tem uma margem operacional de 30%. Nos últimos anos, teve até quem fez 50%. Então, é um cara com mais resiliência para o juro alto”, disse.