Joint Venture

Por que o Bradesco virou sócio da John Deere

Com a compra de 50% do banco John Deere, Bradesco aumenta a sua base de originação e fortalece o banco da montadora para ampliar oferta de produtos e serviços

Bradesco compra 50% do banco John Deere | Crédito: Divulgação

O Bradesco, banco privado com maior presença no agro no País, encontrou um atalho para ampliar a liderança no setor: tornou-se sócio do banco John Deere. A instituição terá 50% do banco pertencente à maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo. Em troca, fez um aporte no banco da montadora cujo valor não foi divulgado.

“É uma operação 100% primária, em que aumentamos a base de capital para que o banco possa expandir a carteira e as operações de crédito dentro da rede John Deere, seja no financiamento a pessoas físicas, para aquisição de máquinas, ou no financiamento do estoque dos concessionários”, disse Roberto França, diretor de agronegócios do Bradesco, ao The AgriBiz.

Mas a ambição do Bradesco com o banco da montadora vai além. “Mais para frente, podemos ampliar a oferta de crédito, produtos e serviços para a mesma base”, acrescentou França. Ele citou como exemplo a oferta de seguros, investimentos e outras modalidades de crédito.

Com a operação, o Bradesco aumenta a sua base de originação e ganha rapidamente capilaridade no campo — um dos entraves do setor financeiro no agro. Por meio dos canais e da ampla rede de relacionamento da John Deere com os produtores, o Bradesco pretende se aproximar deles e aumentar a presença na sua vida financeira.

Para o banco John Deere, que abriu um processo competitivo para encontrar um parceiro no setor financeiro há cerca de um ano, o acordo resultará num portfólio mais amplo para o financiamento de seus produtos e serviços, além da injeção de capital.

O banco da montadora encerrou o ano passado com uma carteira de R$ 17,4 bilhões, dos quais R$ 10 bilhões referiam-se a créditos a pessoas físicas. O lucro líquido subiu 20%, para R$ 322 milhões. A provisão para perdas associadas a risco de crédito mais que dobrou, atingindo R$ 212 milhões, o que está longe de ser um número expressivo para o porte do banco.

O agro no Bradesco

Considerando apenas as operações diretas para o agro, a carteira de crédito do Bradesco soma cerca de R$ 70 bilhões. Considerando outras linhas para os clientes do agronegócio, ela ultrapassa R$ 120 bilhões, correspondendo a uma participação de cerca de 10% na carteira de crédito total do banco, de aproximadamente R$ 912 bilhões.

“A velocidade da expansão do portfólio agro tem sido maior do que a das demais carteiras, e a nossa intenção é continuar crescendo com as ações que estamos fazendo, inclusive com esse movimento com o banco John Deere, que reforça e amplia a nossa exposição dentro desse setor”, afirmou França.

O acordo com a John Deere, que preserva a marca da tradicional empresa de máquinas norte-americana, não prevê exclusividade, o que abre a possibilidade para o Bradesco fechar parcerias semelhantes com outros bancos de montadoras ou cooperativas agrícolas. “A gente vem celebrando convênios para a expansão da carteira de crédito”, diz.

Outra frente relevante para a expansão do Bradesco no setor é a o E-agro, plataforma online de crédito rural do banco. “Com ela, hoje conseguimos chegar nos produtores rurais mesmo não sendo clientes do Bradesco.”

Crescimento e inadimplência

Para o Plano Safra 2024-25, o Bradesco projeta um crescimento de 15% nas operações de crédito tanto por meio da expansão da sua base de clientes como por aumento de market share.

Segundo França, o Bradesco registrou “uma pequena alta”, nos índices de inadimplência no setor, mas eles estão “dentro de parâmetros normais”, por volta de 1% em vencimentos acima de 90 dias. Os atrasos, atribuídos a um processo de acomodação de margens dos produtores, não devem prejudicar o resultado do banco, afirmou.

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O Goldman Sachs assessorou a John Deere na transação com o Bradesco.