Às vésperas do primeiro grande vencimento das dívidas de custeio tomadas pelos produtores de soja, credores cruzam os dedos para sobreviverem às turbulências e, de preferência escapando dos temidos pedidos de recuperação judicial.
O Santander, um dos bancos privados mais proeminentes no crédito para a agricultura, deflagrou uma ofensiva ainda em fevereiro, suportando os clientes neste momento de “liquidez apertada”, nas palavras de Ricardo França, superintendente-executivo de agronegócios do banco.
Em um entrevista concedida na Agrishow, onde o Santander trouxe mais de 200 profissionais para buscar R$ 2 bilhões em novas concessões de crédito, França deu mais detalhes do perfil das renegociações e do alongamento de dívidas que o banco vem fazendo.
“Nós refizemos o crédito para dois anos, inclusive para dar fôlego. Não adianta fazer para um ano só”, disse França. O prazo pode ser rolado para até três anos.
O executivo não detalhou o volume de renegociações feitas até aqui, mas o apetite de crescimento para este ano é um indicador de que o Santander vem conseguindo manter os indicadores de inadimplência sob controle.
Por que alongar as dívidas
Segundo França, o alongamento por alguns anos é necessário porque os produtores de grãos que ficaram mais apertados não teriam fluxo para honrar todo o passivo em apenas uma safra. Com a soja saindo de R$ 190 por saca para perto de R$ 100, o faturamento caiu praticamente pela metade.
Nessas renegociações, o agricultor costuma pagar parte das dívidas (um terço, metade, a depender do caso) e alonga o restante.
Nas conversas, o Santander adotou uma postura ativa, procurando entender com os agricultores o cenário de cada um desde fevereiro. Atualmente, o banco já equacionou boa parte dos vencimentos até junho.
A iniciativa de procurar os clientes antecipadamente ajuda no relacionamento, fidelizando os agricultores, e evita que o problema escale — virando uma recuperação judicial potencialmente.
“Nós, que estamos no campo, sempre pedimos que [a recuperação judicial] seja sempre o último passo que o produtor vai dar. Nos procure antecipadamente que nós vamos ajudar”, disse.
Em parte dos casos, o agricultor tem recursos para honrar com os compromissos com o Santander, mas teme pela liquidez nos próximos meses. Nessa situação, o banco se compromete a conceder uma nova linha ao agricultor assim que o empréstimo anterior é quitado, explicou França.
Market share
Com iniciativas como essas, o Santander quer atravessar a crise da agricultura ganhando market share. Com uma carteira de R$ 53,7 bilhões no agronegócio em 2023, o banco quer crescer 30% neste ano.
Na Agrishow, uma feira que costumeiramente demanda mais crédito para investimentos, o ritmo será menor. A meta do banco é repetir o ano passado, quando concedeu R$ 2 bilhões em créditos originados na feira.
Diante do menor apetite do agricultor por investimentos, o Santander vem adotando uma abordagem diferente neste ano, fazendo mais oferta de crédito de custeio de curto prazo para a safra 2024/25 e consórcios de máquinas, um instrumento de desembolso inicial mais baixo.
A estratégia é uma resposta à queda dos investimentos na agricultura, ilustrada pela expectativa de redução de mais de 10% nas vendas de máquinas agrícolas e pelas férias coletivas nas fábricas de companhias como John Deere e AGCO.
*O jornalista viajou no pool de empresas organizado pela Mecânica de Comunicação