Política agrícola

No seguro rural, Brasil toma um 6 a 1 dos EUA

Enquanto cerca de 10% da área plantada no Brasil tem seguro, nos EUA 60% das terras agrícolas estavam seguradas em 2023. Os subsídios explicam essa grande diferença

Brasil e EUA, duas grandes potências agrícolas, têm muitos superlativos em comum. Os países dividem a liderança na exportação de diversas commodities, como soja, milho, algodão, carne bovina e de frango. Mas, no seguro agrícola, a diferença é brutal.

Pouco mais de 6 milhões de hectares tiveram cobertura de seguro rural com apoio do governo federal no ano passado, o equivalente a 8% da área plantada com grãos e oleaginosas no País. Considerando também os contratos sem subvenção ao prêmio do seguro rural (PSR), a área segurada sobe para 11,3 milhões de hectares, ainda representando menos de 15% da área de grãos —incluindo na conta também o plantio de café e cana, esse percentual volta a se aproximar dos 10%.

Nos Estados Unidos, o principal concorrente do Brasil no mercado global, mais de 530 milhões de acres (aproximadamente 214 milhões de hectares) foram cobertos por apólices de seguro agrícola no ano passado, de acordo com dados do USDA citados pelo portal Successful Farming no início deste mês. Considerando que há 880 milhões de acres nas fazendas norte-americanas, incluindo áreas de pastagem, pode-se dizer que 60% da área agrícola estava coberta.

A principal razão para essa diferença é o baixo nível de subsídios no Brasil, que enfrenta o problema crônico de recursos governamentais escassos e déficit fiscal nas contas públicas.

Enquanto os prêmios de seguro rural subsidiados pelo governo dos EUA totalizaram US$ 11,7 bilhões no ano passado, correspondendo a 60% do total, os subsídios do governo brasileiro com a mesma finalidade totalizaram R$ 933 milhões (cerca de US$ 190 milhões). Eles representaram 30% do total dos prêmios de seguro agrícola, segundo dados do Atlas de Seguro Agrícola do Ministério da Agricultura.

O governo federal deve anunciar na próxima semana o valor disponível para subvenção do seguro rural na safra 2024/25, durante a divulgação do Plano Safra. A expectativa é de que os recursos continuem em torno de R$ 1 bilhão —patamar registrado desde 2021.

Naquele ano, os subsídios totalizaram R$ 1,15 bilhão, levando a área segurada a um recorde. O dinheiro foi suficiente para cobrir cerca de 17% da área plantada, percentual que caiu para 8% no ano passado.

Custo alto

Os preços do seguro agrícola dispararam após 2021, quando uma seca severa no sul do Brasil causou um aumento na quantidade de sinistros, levando várias seguradoras a prejuízos e até forçando algumas a saírem do mercado agrícola.

O apetite das resseguradoras, que desempenham um papel muito relevante no seguro rural devido ao alto risco da atividade, também diminuiu após as perdas, contribuindo para aumentar os custos dessas operações para os agricultores, segundo Joaquim Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg (Federação Nacional das Seguradoras).

A queda nos preços das commodities também ajudou a reduzir o interesse dos produtores pelo seguro, segundo Fabio Damasceno, diretor técnico de seguro rural da Mapfre. “Isso influencia a percepção de risco e a margem para contratar o seguro”, diz.

O modelo de seguro agrícola do Brasil também é visto como inadequado para a realidade de algumas regiões do País. Para mega fazendas no Mato Grosso, onde as produtividades são acima da média e os riscos climáticos são menores, “a conta não fecha”, segundo Gustavo Modenesi, chefe de B2B e serviços da Lavoro.

Com o objetivo de ajudar os produtores a acessar o seguro, a Lavoro incluiu o serviço no pacote de insumos oferecido aos agricultores. Se o produtor contratar o seguro pela Lavoro, ele pode pagar após a colheita, juntamente com o pagamento de matérias-primas como sementes e defensivos.

“O preço do seguro é o mesmo que o agricultor pagaria diretamente no balcão, mas comprando da Lavoro ele não tem um desembolso de caixa imediato e pode pagar em grãos”, diz Modenesi. Outra vantagem da contratação do seguro por meio da revenda é a proximidade do produtor com o vendedor. “A resposta é mais rápida em caso de sinistros”, afirma.

A rede de revendas trabalha com dois parceiros na oferta de seguros: BB Seg, seguradora líder de mercado pertencente ao Banco do Brasil, e a seguradora do BTG Pactual. A corretora parceira é a Agrotec.

Na safra 2024/25, a Lavoro espera atingir uma área de cobertura de aproximadamente 50 mil hectares, um expressivo aumento ante os 10 mil hectares da safra anterior, quando começou a oferecer o serviço.

Seguro personalizado

Além da necessidade de mais subsídios, uma alternativa para desenvolver o mercado de seguro rural no Brasil é criar opções de seguro personalizadas de acordo com o perfil e a localização do produtor, afirma o executivo da Lavoro.

Atualmente, o custo do seguro agrícola é calculado com base nos dados históricos de produtividade da Conab por município. O ideal, diz Modenesi, seria utilizar dados históricos de produtividade individual, considerando a disparidade que pode haver entre os dados de cada agricultor.

Damasceno, da Mapfre, também defende modelagens diferentes para o seguro rural, com variações no tipo de cobertura, preços e limites de oferta que possam tornar o produto mais adequado (e atrativo) a produtores de diferentes regiões. “Estamos olhando para soluções que nos ajudem a desenvolver o mercado”, afirma.

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