Seguro rural

Super El Niño abre caminho para diversificação às seguradoras

Contratações de seguro rural crescem no Centro-Oeste com clima adverso, abrindo caminho para expansão da modalidade fora da região Sul

Depois de enfrentar uma tormenta nas últimas três safras, o setor de seguro rural espera um ano mais tranquilo, com um crescimento de arrecadação e maior diversificação geográfica — uma grande meta das seguradoras para diminuir os índices de sinistralidade.

O mercado segurador deve aumentar a arrecadação em 23% em 2024, depois de um crescimento de 5% neste ano, segundo projeções da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). Se o clima continuar ajudando na região Sul, que concentra cerca de metade do mercado, o setor deve ter um ano no azul, com um menor pagamento de indenizações.

Em 2021 e 2022, o mercado de seguro rural cresceu quase 40%, mas amargou um rombo de R$ 3 bilhões. Ou seja, as indenizações superaram os prêmios em R$ 3 bilhões. A circunstância levou algumas seguradoras a saírem do segmento, como a Tokio Marine, e a um aumento nos custos das apólices, principalmente no Sul, onde os sinistros dispararam nas últimas safras.

Neste ano, em que o El Niño é o protagonista, o cenário é outro. Os agricultores do Sul devem colher uma boa safra, enquanto os produtores do Centro-Oeste e do Norte estão enfrentando os maiores problemas.

Contratação de seguro rural cresce no Centro-Oeste
Produtores do Centro-Oeste aumentam contratação de seguro rural na safra 2023-24, diz FnSeg | Crédito: Schutterstock

A mudança no clima está provocando uma mudança no perfil das contratações, que cresceram no Centro-Oeste, segundo Joaquim Neto, presidente da comissão de seguro rural da FnSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

Embora as contratações da safra de verão tenham sido encerradas, ainda não há dados disponíveis comprovando esse movimento, pois as estatísticas da Susep (Superintendência de Seguros Privados) são divulgadas com cerca de três meses de atraso.

Neto, no entanto, garante que a maior demanda por seguros na região central do País é uma tendência nesta safra, e acrescenta que algumas perdas já começam, inclusive, a ser acionadas. Mas isso não soa propriamente como um problema para o setor.

“Tivemos muitas ocorrências de avisos de sinistro no Centro-Oeste com relação à cobertura de replantio. Mas esses valores de indenização são menores, referem-se apenas aos custos com sementes e manejo para o plantio”, pondera Neto.

É uma situação bem diferente das chuvas torrenciais ou da estiagem que afetaram as fazendas do Sul nas últimas safras e geraram mais de R$ 6 bilhões em indenizações só no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

“Temos um grande estímulo para aumentar a comercialização do seguro no Centro-Oeste para amparar em parte a contratação no Sul. Não é bom ficar com todos os ovos no mesmo cesto”, diz o representante das seguradoras.

Subvenção

As seguradoras continuam aguardando uma definição do governo federal em relação ao valor da subvenção do seguro rural na safra 2023/24, medida fundamental para definir o ritmo de crescimento do mercado.

Desde meados do ano, o setor vem pedindo uma suplementação de, no mínimo, R$ 500 milhões ao valor inicial do orçamento para o PSR, de R$ 1 bilhão. “Esses recursos se esgotaram em setembro”, diz Neto.

Segundo ele, no ano passado, o programa atendia cerca de 70% das apólices, com um limite de 40% no percentual de subvenção.