Defensivos

Um brasiguaio na Faria Lima. Tecnomyl levanta fundo de R$ 150 milhões

Fabricante de insumos agrícolas de origem paraguaia é controlada pelo Grupo Sarábia, um conglomerado de três irmãos brasileiros que já fatura R$ 8 bilhões

Fábrica da Tecnomyl em Villeta (Paraguai). Empresa chegou ao Brasil em 2018 e tem ambições de galgar espaços cada vez mais representativos no mercado nacional de defensivos

Enquanto as gigantes dos defensivos agrícolas sofriam com a derrocada dos preços dos grãos e a crise de crédito que machucou diversos players, um brasiguaio preparava o terreno para voltar a crescer — com capital da Faria Lima.

Fundada em Villeta, uma cidade a 30 quilômetros da capital Assunção, a Tecnomyl vem cavando seu espaço no mercado brasileiro. Há menos de uma década atuando no País, a companhia fundada pelos irmãos Sarábia — brasileiros radicados no Paraguai — quintuplicou de tamanho nos últimos quatro anos.

Com uma estratégia lastreada na produção de defensivos pós-patente (genéricos, no jargão do mercado) a partir de um complexo industrial no Paraguai, a Tecnomyl faturou R$ 2,5 bilhões no ano passado, um crescimento de 51%.

“Temos 3% do mercado brasileiro de defensivos e planejamos chegar a 5% nos próximos quatro anos”, disse Rogério Alencar, diretor financeiro da Tecnomyl, em entrevista ao The AgriBiz.

Há duas semanas, a Tecnomyl garantiu o funding para continuar crescendo, acessando o bolso de investidores institucionais tarimbados. A companhia levantou R$ 150 milhões em seu terceiro FIDC, um veículo usado para antecipar os recebíveis dos clientes.

“É uma forma de aportar crescimento no mercado, de fornecer crédito aos clientes e, ao mesmo tempo, o mercado de capitais nos apoiar para a gente conseguir comprar as matérias-primas à vista nos nossos principais fornecedores”, disse Alencar. 

O FIDC da Tecnomyl

Os recursos para o FIDC foram originados pela Field Asset, gestora especializada em agro fundada recentemente pela Buriti e liderada por Silvio Tertuliano, um conhecido de longa data da Tecnomyl.

Neste novo fundo, o principal cheque veio da Itaú Asset, que alocou cerca de R$ 130 milhões com uma remuneração de CDI + 2,9% ao ano. O restante foi alocado pelos controladores da Tecnomyl, que com isso assumem os maiores riscos na cota subordinada — uma prática habitual.

“Temos uma parceria de longa data, desde quando trabalhei no Banco Máxima, uma das primeiras instituições financeiras a dar crédito para a Tecnomyl”, disse Tertuliano, gestor da Field.

O gestor já havia estruturado os outros dois FIDCs da Tecnomyl, o primeiro quando trabalhava na Brave Asset e levantou um fundo de R$ 200 milhões, e o segundo no ano passado, quando estava na Orram, com um veículo de porte semelhante.

Na Faria Lima, a estratégia da Tecnomyl vai além dos FIDCs. Nos últimos anos, a companhia também levantou cerca de R$ 400 milhões em CRAs, atraindo recursos de gestoras como a Kinea. O KNCA11, maior Fiagro do mercado, é um dos investidores do CRA da Tecnomyl.

Por dentro do Grupo Sarábia

Liderada pelo agrônomo José Marcos Sarábia, a Tecnomyl faz parte de um conglomerado paraguaio criado no início dos anos 1990 por um grupo de três irmãos brasileiros (Paulo Sérgio e Antônio Ivar, além de José Marcos).

No Paraguai, o Grupo Sarábia começou com a revenda agrícola Agrofértil, que se tornou o maior player de distribuição no país sul-americano. Ao longo do tempo, decidiu verticalizar parte das operações, passando a produzir defensivos agrícolas ao adquirir a Tecnomyl nos anos 2000.

No Brasil, a fabricante de defensivos agrícolas passou a comercializar produtos há sete anos, quando obteve os primeiros registros no Ministério da Agricultura. “Começamos a operação por aqui em 2018”, lembra Alencar. A companhia começou com herbicidas, mas agora já atua em inseticidas e, em breve, também com fungicidas.

Além das operações de insumos agrícolas, o grupo dos irmãos Sarábia produz soja, milho e gado no Brasil, em duas fazendas que somam mais de 95 mil hectares (Agropecuária Campos Novos e Agropecuária Cataratas).

Estima-se que, como um todo, o grupo Sarábia fature cerca de US$ 1,5 bilhão (mais de R$ 8 bilhões).