
A Agrolend acaba de concluir uma das operações mais emblemáticas de sua história, mostrando o potencial do banco de atacado que a companhia fundada pelos irmãos Glezer vem tentando construir.
Em apenas 15 dias, a Agrolend colocou de pé uma transação de R$ 100 milhões para financiar a UPL, dando liquidez à operação brasileira da gigante indiana ao mesmo tempo em que reduziu o risco de inadimplência que a quinta maior fabricante de defensivos agrícolas do mundo corria.
O crédito estruturado para a UPL é o maior já feito desde que a Agrolend começou a explorar a entrada em crédito corporativo. “Fizemos 11 operações neste formato, mas esta é de longe a maior”, afirmou André Glezer, cofundador e CEO da Agrolend, em entrevista ao The AgriBiz.
Para Glezer, a transação é uma “virada de chave” para a Agrolend, dando tração aos planos de crescer em crédito corporativo — estratégia deflagrada após a última rodada da instituição financeira, que levantou R$ 300 milhões em outubro passado, em uma rodada série C que avaliou o negócio em mais de US$ 170 milhões.
A alternativa para financiar a UPL foi construída a quatro mãos, sob a liderança de Carlos Fagundes, cofundador e responsável pela área comercial da Agrolend. Carlão, como também é conhecido, possui quase duas décadas de experiência em crédito estruturado no agronegócio, com passagens por companhias como Syngenta, Monsanto e Superbac.
“O dinheiro em si é uma commodity. O que faz diferença é entender as necessidades dos clientes e parceiros para trazer uma solução que ajude neste momento extremamente desafiador”, disse Fagundes, em alusão às dificuldades enfrentadas por revendas de insumos agrícolas.
No caso da UPL, conglomerado indiano listado na bolsa de Mumbai que está avaliado em US$ 6,4 bilhões, o crédito de R$ 100 milhões estruturado pela Agrolend só foi possível pela contribuição da diretora de crédito e cobrança da UPL no Brasil, Vanessa Roberta Silva. Foi dela a demanda e a criatividade para colocar o instrumento para funcionar em tempo recorde.
“Esta solução permitirá que a UPL continue entregando um forte crescimento em 2025 enquanto reduz seu risco de recebimento”, afirmou a executiva. A intenção, aliás, é continuar ampliando o tamanho dessa operação, chegando a R$ 200 milhões no curto prazo.
A estrutura da operação
Para reduzir o risco de inadimplência, a Agrolend pulverizou um crédito que antes estava concentrado em revendas que são clientes da UPL e que precisam comprar insumos a prazo.
Na prática, a instituição financeira antecipou os R$ 100 milhões para a fabricante de defensivos agrícolas. Nesse processo, a Agrolend transformou os recebíveis, amarrando a operação com as revendas. A UPL ficou como avalista da operação.
Agora, a conta deve ser paga diretamente por mais de 3 mil produtores agrícolas que, originalmente, se financiaram nas revendas. Nesse processo, a Agrolend fez a análise de risco de cada produtor — uma expertise que acumulou nos últimos anos — e ficará responsável pela cobrança.
Do lado das revendas, a transferência dos recebíveis dos agricultores para a Agrolend também é positiva porque libera limite de crédito para voltar a comprar insumos na UPL. “É uma grande amarração da cadeia inteira”, resumiu Fagundes.
A velocidade de formalização da operação também foi crucial. Com o ano-fiscal se encerrando em 31 de março, a UPL vai conseguir avaliar o balanço das operações no Brasil, que são extremamente relevantes para o grupo. A América Latina responde por 40% do faturamento da companhia, com o Brasil liderando na região. Globalmente, a UPL fatura cerca de US$ 5 bilhões por ano.
Com uma carteira de crédito de cerca de R$ 450 milhões, a Agrolend terá o exemplo da transação com a UPL para continuar crescendo, acessando outras companhias do agro para originar crédito.
Do outro lado, o banco digital conta com um trunfo na hora de captar recursos. Como possui a licença de financeira do Banco Central, consegue emitir LCAs em plataformas de investimentos. Assim, reduz drasticamente o custo de captação. As LCAs, por exemplo, chegam a sair abaixo do CDI.