Depois da paradeira do início do ano, a rotina de Pedro Freitas — o head de agro do banco de investimentos da XP — não poderia estar mais agitada. A cada semana, a equipe liderada por ele assume um ou dois mandatos novos para operações de dívidas.
“Boa parte das empresas não captou no primeiro semestre. Os custos não estavam atrativos. Mas há uma demanda reprimida. Vai ter uma enxurrada de ofertas de dívida”, projetou Freitas numa entrevista ao The Agribiz, lembrando das dificuldades do início do ano (crise da Americanas, troca recente de governo e Selic alta).
Com a melhora do cenário, a situação mudou, a começar pelo mercado de dívida. Na semana passada, um aperitivo veio da Marfrig. Numa oferta que atraiu os investidores de varejo, a empresa captou R$ 1,2 bilhão com a emissão de CRAs — a demanda ultrapassou a oferta em mais de duas vezes, o que ajudou a companhia de Marcos Molina a reduzir os juros da operação.
Freitas evitou comentários sobre as operações específicas, mas disse que as ofertas de dívida atraem nomes variados, desde emissores mais frequentes no mercado de capitais a novos entrantes. “Estamos ficando com um pipeline supercarregado”, ressaltou.
Diante da demanda mais aquecida, o head de agro da XP projeta que as emissões de CRAs podem chegar a R$ 15 bilhões no segundo semestre, o que levaria os números do ano para R$ 28 bilhões, ainda aquém do ano passado. Em 2022, as emissões de CRAS chegaram a R$ 42,3 bilhões, um recorde, segundo dados da Anbima.
IPOs de volta?
Aos poucos, a melhora do cenário — a trajetória de queda da Selic ajuda, sem dúvida — faz até as conversas para emissões de ações serem retomadas. “A janela de abertura para equity deve ser 2024. Mas com certeza o agro vai ter uma representatividade importante no número de ofertas do próximo ciclo de IPOs”, disse Freitas.
Na última safra de IPOs, em 2021, companhias como a goiana São Salvador Alimentos, de carne de frango, e a sucroalcooleria Cerradinho ensaiaram um IPO, mas desistiram diante da piora de humor generalizado. São candidatas óbvias se as aberturas de capital voltarem mesmo.
Na ponte entre agro e Faria Lima, a XP ocupa um papel central, seja no mercado de equity ou dívida. Há dois anos, Boa Safra e Jalles Machado foram alguns dos exemplos — o time de Freitas coordenou a oferta inicial de ações de ambos.
Em CRAs, a XP também é a líder de mercado. No ranking de originação da Anbima referente aos primeiros sete meses do ano, a casa aparecia com uma participação de 30,7%. Nas emissões de Fiagro, a liderança é ainda maior (61,2%).