Após o encerramento da COP da Biodiversidade, realizada em Cali, na Colômbia, e da COP 29, do Clima, em Baku, Azerbaijão, o debate sobre o futuro da sustentabilidade e da biodiversidade é ainda mais premente.
A COP 16 emerge como um marco na implementação do Quadro Global da Biodiversidade (GBF), delineado na COP 15, onde metas ambiciosas para combater a perda na área foram traçadas. Mas, no centro das discussões — assim como na COP-29 — paira uma questão: como transformar metas em ações reais, especialmente em países em desenvolvimento?
Entre os desafios mais complexos está a conciliação entre a preservação ambiental e as necessidades agrícolas. A agricultura, fundamental para a segurança alimentar global, tem no uso de defensivos agrícolas — quando aplicados de acordo com Boas Práticas Agrícolas (BPAs) — um aliado para aumentar a produtividade sem expandir áreas de plantio, permitindo, inclusive, a restauração de ecossistemas com práticas como o uso de culturas de cobertura e a recuperação de pastagens degradadas.
Por outro lado, as discussões da Meta 7 da COP 16 colocaram em foco o uso de pesticidas e a necessidade de reduzir os níveis de poluição que ameaçam a biodiversidade e os ecossistemas. O item 7.2, por exemplo, aponta a concentração de pesticidas no meio ambiente como um problema crucial. Porém, a escolha dos indicadores para medir esses impactos suscita controvérsias.
O modelo sugerido pelo órgão técnico SBSTTA 26, baseado na redução do uso de pesticidas (ATAT, sigla em inglês para toxicidade total aplicada), é visto por muitos como uma abordagem simplista, que ignora a complexidade entre produtividade agrícola, segurança alimentar e conservação da biodiversidade.
Esse tipo de indicador, que negligencia a gestão de riscos mais ampla, pode levar à proibição de tecnologias cruciais, prejudicando uma agricultura moderna e segura. Ademais, contradiz o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 da Organização das Nações Unidas (ONU), que defende a integração entre redução da poluição, segurança alimentar e sustentabilidade econômica.
Há uma demanda clara, portanto, para que sejam considerados indicadores que englobem estratégias de redução de riscos, como medidas de proteção para polinizadores e zonas de segurança para organismos aquáticos.
A participação ativa do setor privado, incluindo empresas brasileiras, foi um ponto positivo durante a conferência na Colômbia, a partir da demonstração de disposição para colaborar com governos e organizações no avanço de inovações e parcerias estratégicas.
Para atingir metas globais sem comprometer a segurança alimentar, é essencial que futuros debates e políticas integrem soluções inovadoras e realistas, com base em uma gestão de riscos eficaz e adaptada às realidades locais.
O futuro da sustentabilidade depende, portanto, de uma abordagem equilibrada que valorize a ciência e a tecnologia na construção de um mundo mais verde e seguro para todos.
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Arthur Gomes é diretor de defensivos químicos na CropLife Brasil