Botanicida

Nem sintético, nem biológico. Como a Openeem quer um naco dos defensivos

Até 2030, a meta é atingir 5 milhões de hectares e um faturamento de R$ 400 milhões. Companhia paraense busca um sócio

Depois de vender sua trading de soja na década de 1970, o gaúcho Sérgio Lindemann decidiu desbravar o Vale do São Francisco com o cultivo de frutas. Entre Petrolina e Juazeiro, teve dificuldades no combate de pragas e começou a buscar alternativas aos químicos. Em uma de suas viagens internacionais, conheceu o Neem, uma árvore milenar com origem na Índia conhecida por suas propriedades medicinais.

Em uma área de pasto degradado na região amazônica, Sérgio plantou as primeiras árvores de Neem em 2006, na paraense São João de Pirapas. O primeiro uso do extrato foi a produção de repelentes. Dez anos depois, o experimento se transformou em empresa com ambições bem maiores. Gabriela Lindemann, filha de Sergio, e outros dois sócios criaram a Openeem para aprofundar os estudos sobre a árvore, desenvolver produtos para a agricultura e dar escala ao negócio.

O extenso projeto de pesquisa e desenvolvimento, que recebeu cerca de R$ 50 milhões e envolveu dezenas de institutos de pesquisa como parceiros, está sendo concluído nesta safra, com o lançamento de sua primeira linha de botanicidas — nome criado e patenteado pela Openeem para a nova categoria dedefensivos agrícolas de origem botânica.

“São químicos verdes”, simplifica Gabriela Lindemann, CEO da empresa.

A tecnologia é baseada em triterpenos, que são ativos de matriz botânica, já presente nas plantas. Com a tecnologia desenvolvida pela Openeem, eles são potencializados para criar defensivos “naturais”, que podem, inclusive, ser utilizados na produção de alimentos orgânicos — a empresa aguarda certificação para isso.

O carro-chefe da linha é o inseticida Valente, que, segundo a companhia, teria aumentado em ensaios o controle contra o percevejo da soja em 33% e elevado a qualidade dos grãos em 43% em comparação com o tratamento padrão.

Alternativa aos químicos

Na era dos biológicos, a Openeem quer atrair agricultores que buscam alternativas aos químicos tradicionais, mas ainda têm resistência ao manejo dos produtos biológicos —o que muitas vezes é apontado como uma barreira para a aderência do agricultor. No caso dos botanicidas, a janela de aplicação é idêntica a dos inseticidas tradicionais, podendo apenas substituir uma ou mais aplicações.

“Eles estão muito em linha com os defensivos químicos tradicionais do ponto de vista de efetividade de controle e de facilidade de uso. Eles não precisam de condições especiais de temperatura e determinadas horas do dia para serem aplicados, e podem ser facilmente associados com os agroquímicos tradicionais”, diz Gabriela.

Na safra 2023/24, a Openeem estima que os seus produtos tenham sido utilizados em cerca de 500 mil hectares, uma parcela ainda muito pequena em relação aos 46 milhões de hectares plantados com soja. A meta, para 2024/25, é dobrar a área. Para isso, a empresa está ampliando parcerias com revendas e aumentando a sua presença geográfica, chegando agora ao Mato Grosso. Na safra passada, esteve concentrada no Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.

Até 2030, a meta é atingir 5 milhões de hectares e um faturamento de R$ 400 milhões.

Em busca de um sócio

Com o primeiro ciclo de P&D concluído, a Openeem está iniciando uma segunda fase. Em parceria com pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, a empresa busca novas matérias-primas para a produção de tratamento de semente e desenvolvimento de outros produtos botânicos. 

Nascida por meio de investimento de capital empreendedor e atualmente com cinco acionistas, a Openeem busca um sócios para crescer. Segundo a CEO, a Openeem mantém conversas estratégicas com empresas, mas ainda estão distantes de uma definição.

“Além do capital para impulsionar o crescimento, é fundamental que a empresa tenha alinhamentos semelhantes aos nossos. É importante ter propósito para que o nosso legado não se perca”, disse.