Telecom

A rota da TIM para chegar aos 20 milhões de hectares conectados

Agronegócio é a maior vertical entre os negócios setoriais da TIM, respondendo por mais da metade da receita da operadora no segmento B2B

Fazenda Conectada, em Água Boa (MT), projeto da Case IH e da TIM, que conectou 17 milhões de hectares | Crédito: Case IH- TIM/Divulgação

Há pouco mais de uma década, agronomia e telecomunicações não eram áreas que conversavam muito bem — ainda mais no Brasil, onde as longas distâncias entre as fazendas e os centros urbanos mantinham o campo à parte da revolução tecnológica. Nos últimos anos, a TIM tem trabalhado para mudar essa relação. Hoje, agro e telecom andam juntos.

Em seis anos, a TIM conectou 17 milhões de hectares e planeja chegar aos 20 milhões ainda em 2024 — quase metade dos 46 milhões de hectares semeados com soja na safra 2023/24. Não por acaso, o agro responde por mais da metade da receita dos quatro setores considerados prioritários pela empresa no mercado B2B (logística, utilities e indústria, além do agro).

A tese para entrar no agro leva em conta a necessidade cada vez maior de sensores, além da demanda de conectividade para mais itens — com destaque para as máquinas agrícolas.

“Nós não entramos em uma vertical como turistas. Queríamos, desde o começo, entender as reais necessidades do setor para trazer a melhor oferta”, afirma Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT e 5G da operadora.

A partir desse processo de pesquisa, a operadora decidiu levar ao campo uma conexão 4G, igual à das grandes cidades, operando em 700 MHz — uma frequência baixa, que permite uma maior cobertura.

Uma torre de transmissão cobre cerca de 15 mil hectares, um número que depende de cada região. Em geografias mais planas, como no Mato Grosso, a cobertura tende a ser maior do que a média, enquanto locais menos planos, como Minas Gerais ou Paraná, tendem a ter cobertura menor do que essa média.

Esse modelo é oferecido principalmente a grandes empresas, que, caso se interessem pelo produto, têm projetos formatados individualmente para cobrir toda a área produtiva. 

O primeiro projeto foi feito para a Jalles Machado, em 2018. Hoje, já são cerca de 50 clientes na carteira, incluindo nomes como SLC , Amaggi, São Martinho e a BP Bunge, que tem o maior projeto já feito até o momento, com a instalação de mais de 100 torres.

Mas a empresa não fica apenas nos nomes de peso: a TIM consegue atender com essa solução produtores com áreas a partir de 5 mil hectares. O preço para instalar o serviço oscila em torno de um quarto de saca de soja por hectare e, posteriormente, faturas que ficam entre R$ 4 mil e R$ 5 mil.

O investimento se paga em uma safra e meia, segundo a TIM. “Fizemos uma análise de uma safra sem conectividade e uma com conectividade em uma fazenda no Mato Grosso para mostrar o ganho que nós tínhamos com isso. Conseguimos estimar um payback de uma safra e meia”, explica Dal Forno.

Entre os principais benefícios da conectividade, a operadora ressalta a economia de combustível em máquinas, além de otimização de insumos. Com a oferta, fazendas também conseguem conectar outros pontos, como estações climáticas e drones, à rede. Por fim, o benefício chega à comunidade no entorno das propriedades.

“Sinal não tem cerca. Os vizinhos, que podem ser pequenos produtores, além da comunidade local, também se beneficiam dessa conectividade”, diz Dal Forno. Com os contratos atuais, a TIM tem mais de um milhão de pessoas conectadas a essas redes.

O agro além do campo

Além das fazendas, a TIM mantém desde o ano passado, junto à Nokia, uma operação de internet 5G no Porto de Santos, o primeiro do Brasil a ser conectado. A escolha do 5G, em vez do 4G, está ligada ao fato de ser um circuito fechado de conexão, permitindo que a rede que opera numa frequência mais alta — e portanto cobre uma área menor — consiga ser utilizada.

“Diferentemente de uma fazenda em que vai chegar um fornecedor que vai precisar se conectar à rede, o porto tem uma operação fechada. Só se conectam ali principalmente os equipamentos que empilham contêineres e os caminhões que circulam no porto. Por isso, optamos por um 5G privado, mais restrito do que uma rede pública”, diz Dal Forno.

Outro ponto que tem permitido à companhia avançar de forma indireta no agronegócio está ligado à necessidade de concessionárias de rodovias terem internet por toda a sua extensão, por uma obrigação da Agência Nacional dos Transportes (ANTT).

Hoje, são mais de 4,7 mil quilômetros cobertos pela rede da operadora, incluindo contratos com empresas como a Eco Araguaia — cuja concessão corta o Tocantins inteiro — além da Eco Noroeste, do interior de São Paulo, e a Way, do Mato Grosso do Sul.

A partir da cobertura instalada na região, todos os produtores próximos também são beneficiados pela conectividade, num esquema similar ao que acontece no entorno das fazendas. 

“Nós não entramos em um nicho como turistas. Entramos para entender a situação a fundo. Precisamos falar a linguagem do nosso cliente, com pessoas especializadas no agronegócio, capazes de entender as reais necessidades do setor. O mesmo acontece com cada uma das outras divisões, cuja atuação é mais recente”, explica Dal Forno.