As perspectivas para a safra de milho safrinha melhoraram nas últimas semanas com o ritmo acelerado de plantio e clima favorável no Centro-Oeste. Há quem já arrisca dizer que a produção pode se aproximar de 100 milhões de toneladas, ficando bem próxima do recorde da safra passada, quando 102,3 milhões de toneladas de milho foram colhidas na safrinha.
Com a semeadura sendo concluída dentro da janela ideal, os riscos de ocorrência de seca e de geadas ao final do ciclo diminuíram. No Centro-Oeste, chuvas frequentes têm favorecido o desenvolvimento inicial da cultura, especialmente nas áreas localizadas acima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
“Como a soja antecipou, o milho foi plantado na época certa no Centro-Oeste. E está chovendo bem agora, o que favorece a produtividade”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, em entrevista ao The AgriBiz, depois de visitar as fazendas da companhia em Mato Grosso na semana passada. Para ele, o Brasil pode atingir produtividades semelhantes às da temporada anterior se o clima continuar ajudando em abril e maio.
Em Mato Grosso, que responde por quase um terço da produção de milho do Brasil, o ritmo de plantio do milho safrinha foi o mais rápido das últimas cinco safras, o que é um bom começo. As lavouras se beneficiaram das chuvas na segunda metade de março — e continuam se beneficiando. A partir de agora, a precipitação no Centro-Oeste tende a enfraquecer e a radiação solar diminui, tornando as condições menos favoráveis para o desenvolvimento das plantas.
A visão de Pavinato está alinhada com um número crescente de consultorias e empresas em relação à safra de milho do Brasil. Enquanto a Conab ainda prevê uma queda de 6% na produtividade média da safrinha em relação à safra passada, quem está no campo ou faz monitoramento diário das lavouras por satélite vê uma melhora nas condições.
Em março, a Conab estimou a produção de milho de inverno do Brasil em 87 milhões de toneladas, uma queda de 15% devido a uma área plantada menor (-8%) e rendimentos mais baixos (-7%) — um novo relatório deve ser divulgado na quinta-feira. Já as expectativas do mercado variam de 89 milhões a 99 milhões de toneladas, de acordo com fontes consultadas pelo The AgriBiz.
Novas estimativas
Nas últimas semanas, consultorias têm compartilhado com seus clientes uma visão mais otimista sobre a safrinha. Algumas preferem manter os novos números em sigilo, encaminhando-os apenas aos clientes. A Earth Daily Agro, uma empresa global que fornece análises de culturas por meio de imagens de satélite e dados climáticos, revisou sua previsão para a safra de milho safrinha pela terceira vez, para 90 milhões de toneladas.
Segundo Felippe Reis, analista de safra da Earth Daily Agro, a revisão foi estimulada por uma melhora consistente no vigor da vegetação, medida por um índice desenvolvido pela empresa chamado NDVI.
“Esse índice tem uma alta correlação com as produtividades. Quanto maior o índice, maior deve ser a produtividade”, disse Reis. Em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, o índice que mede a saúde das lavouras está acima da média dos últimos cinco anos, sugerindo uma boa produtividade, afirmou o analista.
A análise também considera as previsões climáticas, e Reis acrescenta que as chuvas de abril serão cruciais para garantir uma alta produtividade.
A mesma opinião é compartilhada por Pavinato, da SLC: “Ainda precisamos de boas chuvas em abril e maio para confirmar bons rendimentos”, afirmou.
Os consumidores de milho têm uma visão ainda mais baixista para os preços. Para um dos principais compradores de milho no Brasil, a safra de inverno pode alcançar 99 milhões de toneladas, considerando também a terceira safra . As perspectivas são boas em todas as regiões de cultivo monitoradas de perto pela equipe de análise de culturas da empresa, exceto duas: o noroeste do Paraná e o sul do Mato Grosso do Sul.
“Pode haver alguma quebra nessas áreas, mas é só “, disse uma fonte graduada nessa empresa. Além do plantio acelerado e das chuvas abundantes, outros indicadores, como as vendas de fertilizantes e outros insumos para a safrinha, já vinham sinalizando uma boa safra, acrescentou.
Mercado baixista
O tamanho esperado da safrinha no Brasil, terceiro maior produtor de milho do mundo, afeta os preços globais. Uma perspectiva melhor na oferta brasileira tem potencial para aumentar a pressão baixista sobre o milho, cujos futuros caíram cerca de 20% em Chicago nos últimos 12 meses devido a uma oferta global abundante.
Os estoques globais estão tão confortáveis que, mesmo com a expectativa de queda de 13 milhões de toneladas na produção brasileira de milho este ano, os futuros continuam em queda. Esse movimento pode ser parcialmente explicado por uma forte recuperação na Argentina, que deve colher 20 milhões de toneladas a mais de milho nesta temporada, mais do que compensando a queda do Brasil nos suprimentos da América do Sul.
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