Os produtores rurais brasileiros ainda estão colhendo a soja tardia da safra 23/24 e semeando o milho safrinha, mas boa parte deles já tem os olhos voltados para a próxima temporada.
E o que se vê não é tão bonito quanto costumava ser até bem pouco tempo atrás.
Com os preços dos grãos em queda desde o final do ano passado e uma produtividade abaixo das expectativas nas lavouras de verão, as margens desta safra estão caindo bruscamente dos altos patamares dos últimos dois ou três anos. Entre as principais culturas temporárias, somente o algodão tem a rentabilidade razoavelmente preservada.
A resposta do que acontece agora virá na safra 24/25 na forma da menor expansão de área de soja dos últimos 20 anos, segundo nossas projeções aqui na Veeries: inferior a 1%. A área de milho 2ª safra, que está recuando agora, até vai se recuperar um pouco — mas não voltará completamente aos patamares de 22/23.
O problema também se acentua para os produtores que ainda estão amortizando investimentos recentes, impulsionados pelo sentimento de euforia que os altos preços das commodities traziam ao mercado — e parte desses investimentos, como no caso de máquinas e equipamentos agrícolas, foram feitos num momento de preços inflados pela alta das commodities.
Isso impõem desafios extras nas regiões produtoras que abriram mais área nos últimos três anos (clique aqui para saber). Perder receita não tem nada de glorioso — muito pelo contrário.
O que se vê de forma concreta é a transição da fase positiva de margens para a fase negativa do ciclo de commodities agrícolas, sobre a qual falamos neste espaço no final de agosto. A mudança tem profundas implicações para o comportamento dos produtores, exigindo enorme capacidade de adaptação em toda a cadeia do agronegócio.
A disposição que havia até recentemente para experimentar inovações que prometiam melhorar a produtividade está dando lugar a um comportamento mais conservador — há menos espaço para investir em qualquer coisa que não tenha resultados absolutamente comprovados.
Reduzir custos e preservar margens agora ocupam o topo da lista de prioridades dos produtores. As indústrias de insumos terão de encontrar caminhos para não reduzir preços, seja agregando serviços, produtos ou investindo em relacionamento.
Nesse ambiente, largam com vantagem os fornecedores que tiverem a melhor proposta de crédito para oferecer. De certa forma, crédito tem tudo para se tornar o insumo mais demandado.
Em diversas situações, pode acontecer de os produtores deixem de comprar o insumo que seria de sua preferência e optem por uma alternativa cuja oferta de crédito seja melhor. Dá para ter certeza: a nova safra vai ser bem diferente do que nos acostumamos a ver nos últimos anos.