Commodities

Demanda aquecida engorda margem dos processadores de soja

Considerando os preços da soja e derivados em 24 de maio, a margem bruta de processamento chegou a 22% na região Centro-Oeste

As margens de esmagamento de soja voltaram a subir no Brasil, impulsionadas por preços mais altos do farelo e do óleo. A retomada das vendas da safra 2023/24 pelos produtores também contribuíram para uma melhora nas operações das esmagadoras, que estão conseguindo comprar mais soja para processamento.

Após terem atingido 24% em fevereiro, quando os preços da soja atingiram o nível mais baixo em mais de três anos, as margens de esmagamento em Mato Grosso diminuíram para 15% em março e abril. Este mês, voltou a subir para 19%, segundo análise preliminar da consultoria agro do Itaú BBA.

Considerando os preços da soja e derivados em 24 de maio, a margem bruta de processamento chegou a 22% na região Centro-Oeste, segundo um relatório do Santander Brasil sobre a 3Tentos, empresa que atua no esmagamento e na comercialização de soja, além de distribuição de insumos.

A demanda por produtos brasileiros aumentou devido a uma greve na Argentina, o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja, que afetou os embarques de maio. Além disso, chuvas excessivas atrasaram a colheita e o ritmo de esmagamento na Argentina, desviando a demanda para outros fornecedores. O Brasil, maior exportador mundial de soja em grãos, ocupa o segundo lugar como exportador de farelo de soja.

“Como a Argentina é o principal fornecedor de derivados, houve uma preocupação com um gap de oferta. E depois o processamento nos EUA despencou em abril, depois de um recorde em março”, disse Francisco Queiroz, analista da consultoria Itaú BBA.

“A demanda global veio para o Brasil”, acrescentou Queiroz. O aumento da procura pelos derivados brasileiros resultou em prêmios mais altos nos portos brasileiros e nos preços praticados no mercado interno para o farelo de soja.

Os preços do óleo de soja também subiram devido aos problemas na Argentina e ao ritmo mais lento de processamento nos EUA. O Brasil tem contribuído para o sentimento de alta devido ao aumento de 2 pontos percentuais na mistura obrigatória de biodiesel, para 14%, este ano. O mandato maior significa uma demanda adicional de 500 mil toneladas de óleo de soja por ano no Brasil.

“O Brasil está fora do mercado de exportação para atender ao aumento da demanda por biodiesel”, disse o Itaú BBA em um relatório. De janeiro a abril deste ano, os embarques brasileiros de óleo de soja caíram quase 55% em comparação com o mesmo período de 2023, para 400 mil toneladas.

Além disso, a Índia está muito ativa nas compras após uma alta significativa do óleo de palma. Na Europa Oriental, o clima seco nas regiões produtoras de girassol tem levantado preocupações sobre a menor produção e exportação de óleo de girassol em 2024.

O impacto para as tradings

Considerando seu peso no comércio global de soja e subprodutos, o Brasil está no centro da estratégia dos principais comerciantes de grãos, como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus. As margens de processamento no País, portanto, têm um impacto direto nos resultados dessas empresas.

Durante a apresentação do balanço do primeiro trimestre, o CEO da ADM, Juan Luciano, disse que as margens de esmagamento no Brasil estavam melhorando “um pouco” no segundo trimestre, em meio a uma aceleração no ritmo de venda dos agricultores.

O CEO da Bunge, Greg Heckman, também afirmou que o ritmo mais rápido da colheita e a desvalorização do real ajudaram a aumentar os volumes de originação no Brasil, melhorando as margens de esmagamento.

Até 6 de maio, os produtores de soja venderam 51% da safra atual, um aumento de dez pontos percentuais em relação aos 41% um mês antes, de acordo com dados da consultoria local Safras & Mercado. Neste mês, o ritmo das vendas se mantém aquecido.

Tendência para os preços

Os preços do farelo e do óleo de soja podem continuar sustentados no curto prazo, em meio às incertezas climáticas na Argentina e nos EUA, onde os agricultores estão plantando a nova safra de soja, segundo o analista do Itaú BBA.

No médio a longo prazo, as perspectivas de aumento da oferta nos EUA podem levar a preços mais baixos. Ainda assim, qualquer preocupação com os efeitos do fenômeno climático La Niña pode trazer alguma volatilidade aos preços, já que ele geralmente causa consequências negativas para a América do Sul, particularmente na Argentina e no sul do Brasil.

Outro ponto de atenção para os preços do óleo de soja é a possibilidade de os EUA imporem tarifas sobre as importações de óleo de cozinha usado da China, que têm deslocado o consumo de óleo de soja para a produção de biocombustível nos EUA. Se as tarifas forem impostas, os preços do óleo de soja podem subir na Bolsa de Chicago.]

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