Frigoríficos

Por que a JBS USA ficou aquém da Tyson Foods

Depois de margens que surpreenderam negativamente, JBS USA vai melhorar e ficar no breakeven em 2024, diz Wesley Batista Filho.

Não é novidade que o cenário para os frigoríficos nos Estados Unidos é ruim. O rebanho americano de bovinos é o menor em mais de 70 anos, o que fez o preço do gado pronto para o abate disparar, espremendo do as margens das indústrias.

Mas mesmo num ambiente de baixas expectativas, a JBS USA Beef conseguiu frustrar os investidores, entregando um resultado pior do que os analistas esperavam e aquém da rival Tyson Foods — uma desvantagem que não costuma ocorrer.

No balanço do quarto trimestre, divulgado ontem à noite, a companhia dos irmãos Batista divulgou um Ebitda negativo ajustado em R$ 488,5 milhões no negócio de carne bovina da América do Norte, com margem negativa de 1,6%.

Os analistas, é verdade, já projetavam um resultado baixo, mas o consenso ainda acreditava em uma margem positiva. O BTG Pactual, por exemplo, projetava uma margem de 0,9%.

Atrás da Tyson

Para efeito de comparação, o lucro operacional medido pelo Ebit (sigla em inglês para lucro antes de juros e impostos) da JBS USA Beef ficou negativo em 3% no quarto trimestre. No mesmo intervalo, a americana Tyson teve uma margem negativa de 2,3% nas operações de carne bovina.

Nesta quarta-feira, os números da National Beef — quarta maior indústria de carne bovina dos Estados Unidos — serão conhecidos. Com um perfil de gado mais nobre e relações mais estreitas com os sócios pecuaristas, a controlada da Marfrig costuma entregar margens melhores que JBS e Tyson.

A depender da diferença de margens entre elas, o desconforto dos investidores com os resultados da JBS pode aumentar.

O hedge não funcionou?

Durante a teleconferência com analistas, o CEO da JBS USA, Wesley Batista Filho, justificou o resultado aquém do esperado com uma perda relevante nos contratos futuros de gado na bolsa de Chicago.

Geralmente, a JBS faz a compra a termo do gado no mercado físico com um preço fixo. Como política de hedge, a companhia fica vendida no mercado futuro. A depender do momento de mercado, essa posição vendida pode ser inferior aos contratos comprados. Em um cenário como esse, a companhia apostaria na valorização do gado, o que até parecia ser uma tendência, mas o contrário ocorreu.

Confinamento de gado nos EUA
Vista aérea de um confinamento da Five Rivers nos Estados Unidos: rebanho americano de bovinos caiu para o menor patamar em 70 anos

“No quarto trimestre, tivemos uma queda atípica no preço dos contratos futuros muito relevante, o que impactou nosso resultado. Metade do Ebitda negativo dessa divisão veio desse efeito”, disse Wesley Filho aos analistas.

Ao longo do quarto trimestre, o contrato futuro de gado vivo de primeira posição caiu 8%, contrariando a lógica de oferta e demanda. Com as análises de baixa do ciclo pecuário renovadas, era de se esperar uma alta no preço do boi. Mas temores de recessão e do impacto da inflação na demanda por carne bovina nos EUA resultaram na queda dos contratos futuros, surpreendendo a JBS.

Arrumando a casa

Wesley Filho, que chegou ao cargo de CEO da JBS USA há quase um ano para melhorar os resultados do negócio mais relevante da companhia, disse que o resultado do quarto trimestre não deve ser visto como referência para 2024.

“Será um ano desafiador, mas não esperamos que será parecido com esse trimestre, quando tivemos esse efeito atípico dos contratos futuros”, afirmou. “Esperamos uma margem low-single digit para o ano ou, na pior das hipóteses, perto do breakeven”.

Segundo ele, os problemas operacionais foram endereçados, alguns resultados começam a aparecer, mas deverão ficar mais evidentes ao longo do ano. Os ajustes feitos na área comercial, outro foco de melhoria no ano passado, trouxeram algum retorno. “O processo de melhoria na parte industrial é mais lento”, disse.

A inflação nos EUA também tem jogado contra a demanda por carne bovina. Os consumidores têm optado por proteínas mais baratas, como o frango e o suíno, e por cortes de carne bovina mais baratos, como a carne moída, afirmou Wesley.

Duplo dígito na Seara

Se na JBS USA a conjuntura não contribui para uma recuperação, o mesmo não acontece no caso da Seara — outra unidade de negócios com problemas operacionais.

Depois de atravessar um ano com preços do frango deprimidos no mercado internacional, agora um equilíbrio entre oferta e demanda e os custos de produção desabaram. Mesmo assim, a margem Ebitda da Seara ficou em 6,4%, contra 13,2% da rival BRF.

Mas a recuperação da Seara já está contratada, assegurou a companhia. Na teleconferência desta quarta-feira, Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, disse que a Seara pode entregar margem de dois dígitos já no primeiro trimestre deste ano.

Tomazoni insistiu que os problemas da Seara são apenas de eficiência operacional, e não de mercado. Segundo ele, a marca continua aumentando a sua penetração nos lares e seus índices de recompra.

“As causas foram identificadas, as contramedidas estão em execução e os resultados vão começar a aparecer com mais força”, disse. Como a cadeia de produção de aves é longa, leva tempo para sincronizar novamente todos os elos depois das mudanças gerenciais realizadas, argumentou.

Listagem nos EUA

Tomazoni também reafirmou a intenção da JBS de concluir a listagem das ações em Nova York até o final deste ano. A empresa reapresentou o seu pedido de registro à SEC, com a atualização dos resultados com os números de 2023 e respondendo a alguns questionamentos que haviam sido apresentados pela comissão de valores mobiliários dos EUA.

A JBS aguarda um novo posicionamento da SEC para convocar a assembleia de acionistas que vai deliberar sobre a listagem. “Além de destravar valor, a dupla listagem dará grande flexibilidade para financiar o crescimento também via equity, não só por dívida”, disse Tomazoni.

Na B3, as ações da JBS reagiram negativamente ao balanço do quarto trimestre. Às 14h10, os papéis caem 2,2%, enquanto o Ibovespa oscila perto de 0,1%. Em doze meses, os papéis da gigante de carnes caem 13%.

A JBS está avaliada em R$ 49,6 bilhões.