Sementes

A abrupta troca de lideranças da Syngenta Seeds no Brasil

Gigante de químicos vem perdendo protagonismo no negócio de sementes e sofreu com um volume atípico de devoluções

Quase seis anos após adquirir a Nidera Seeds para ganhar protagonismo no mercado brasileiro e latino-americano de sementes, a Syngenta precisou fazer uma mudança drástica na gestão do negócio, levantando dúvidas sobre os níveis atípicos de devoluções de sementes no Brasil.

Em uma decisão que causou surpresa internamente e provocou burburinho no mercado, a gigante controlada pela chinesa ChemChina trocou as principais lideranças do negócio de sementes na América do Sul.

André Franco, CEO da Syngenta Seeds na América Latina, deixou a companhia em setembro, mas não foi o único. A número dois Suzeti Ferreira, que chefiava os negócios da Syngenta Seeds no Brasil e respondia diretamente para o executivo, também saiu.

Campo de produção da Syngenta

Ao mesmo tempo, o chefe da área comercial da Syngenta Seeds no Brasil e Paraguai, Fábio Guerra, também deixou a empresa, depois de um período de dez anos no negócio de sementes (os primeiros cinco pela Nidera Seeds, até a aquisição). Guerra assumiu como diretor de marketing da Basf na América Latina.

Procurada, a Syngenta confirmou as movimentações por meio de nota, mas não detalhou o motivo das mudanças ao afirmar que não comentaria especulações de mercado. A reportagem também procurou André Franco, Suzeti Ferreira e Fábio Guerra, que não responderam.

Novo chefe vem da Corteva

Além das saídas de vários líderes ao mesmo tempo, não passou despercebido que o novo chefe da Syngenta Seeds no Brasil e Paraguai veio de fora da companhia, sugerindo uma correção de rota.

Para o lugar de Ferreira, a Syngenta contratou Carlos Hentschke, engenheiro agrônomo que fez carreira na área de sementes da antiga DuPont (a atual Corteva).

Hentschke fez na semana passada a primeira viagem pelas unidades da Syngenta no Brasil, conhecendo o centro de excelência e inovação de Uberlândia. “Instalações semelhantes só existem em outras duas localidades: a planta de Toulouse, na França, e a de Malta, nos Estados Unidos”, escreveu o executivo, num post no LinkedIn.

Devoluções

Diversas fontes consultadas por The Agribiz disseram que as mudanças no comando do negócio de sementes da Syngenta na América Latina estão relacionadas aos resultados das vendas da última safra, que sofreram com um volume atípico de devoluções de sementes.

Para um executivo graduado da indústria de sementes, a devolução em si não é um problema incomum nesse mercado, mas a magnitude dele pode significar uma tentativa de inflar os resultados.

Além das devoluções mais recentes, a Syngenta vem sofrendo nos últimos anos para manter o protagonismo que a Nidera já teve no Brasil. “O negócio deles encolheu muito nos últimos anos”, disse um consultor.

Em 2020, a Syngenta relançou a marca de sementes NK no Brasil, num esforço que incluía um investimento de mais de US$ 80 milhões em infraestrutura, pesquisas e melhoramento genético.

Mas a tecnologia das sementes da Syngenta evoluiu menos nos últimos anos do que a concorrência — notadamente, a argentina GDM —, o que pode ser fatal num mercado em que a produtividade das variedades dita o jogo.

Para outro executivo da indústria, a Syngenta pagou caro pela Nidera — um múltiplo de 20 vezes o Ebitda — e se perdeu no meio da estratégia. “A realidade é que o grande problema da Syngenta é ser muito focada em químicos”, emendou.

Há seis anos, quando comprou a Nidera Seeds, a Syngenta estimou que estava agregando US$ 331 milhões em faturamento na América Latina com o M&A, quase dobrando o faturamento da divisão na época.

O que diz a Syngenta

Abaixo, o comunicado da Syngenta, na íntegra:

“A Syngenta Seeds confirma as movimentações recentes em sua alta liderança no Brasil e Paraguai, que foram devidamente informadas aos clientes, e não comentará especulações de mercado, respeitando ainda o período de silêncio que se encontra globalmente.

As mudanças realizadas na estrutura da Syngenta Seeds têm o objetivo de reforçar a estratégia do negócio de sementes no Brasil, já que o País é o maior produtor de soja e exportador de milho no mundo, e relevante para a agricultura e segurança alimentar.

A Syngenta Seeds mantém seu compromisso com investimentos contínuos na pesquisa, desenvolvimento e melhoramento de sementes, atuando de forma próxima dos agricultores, oferecendo as melhores experiências e soluções, tendo como um dos seus principais valores da Paixão pelos Agricultores”.