Quando Marcos Cruz assumiu o comando da Nitro, há sete anos, o agro era um negócio inexpressivo para a octogenária companhia, mais familiarizada com o mundo da química industrial.
Em poucos anos, no entanto, o quadro mudou radicalmente. Estimulados pelos sócios da Faro Capital, family office de tradicionais produtores de cana e laranja que controla a companhia desde 2012, a Nitro mergulhou no campo.
De lá para cá, o grupo já investiu mais de R$ 1 bilhão em aquisições e construções de fábricas, despontando como uma das principais companhias de insumos especiais para a agricultura do país, e com apetite para ser protagonista em biológicos.
Neste ano, a Nitro deve faturar cerca de R$ 2,5 bilhões. A área química ainda é a mais relevante, mas o negócio de insumos agrícolas já deve fazer perto de R$ 1,3 bilhão de receita em 2023. Em três anos a cinco anos, deve se tornar a principal frente de negócios.
“As duas áreas se complementam muito bem”, disse Cruz em entrevista ao The Agribiz. Num mercado cíclico como é a agricultura, com desafios de fluxo de caixa inerentes à safra, a química industrial dá estabilidade financeira e lastro para a Nitro crescer.
Um portfólio de especialidades
Na construção da plataforma de insumos agrícolas, a Nitro começou em 2020 com duas aquisições: a MCM, companhia de sais usados na produção de fertilizantes foliares com sede em Cesário Lange (SP); e a FastAgro, companhia de nutrição vegetal — especializada em foliares — com sede em Rondonópolis (MT).
“Sendo produtor de sulfato, temos uma vantagem competitiva de produzir a matéria-prima dos foliares. Nosso conceito sempre foi o de ser uma empresa com capacidade produtiva nacional, e não uma revendedora”, diz Cruz.
Paralelamente às primeiras aquisições, a Nitro também construiu uma fábrica de enxofre pastilhado, um fertilizante mineral usado no pré-plantio para reduzir as deficiências do solo. A fábrica fica em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, no mesmo lugar onde a história da companhia química começou em 1935.
“Só há duas fábricas relevantes de enxofre pastilhado no Brasil. A nossa é a segunda maior”, diz Cruz. Nessa frente, o maior competidor é a Produquímica, que pertence ao grupo israelense ICL.
Há dois anos, a companhia também ingressou no mercado de biológicos com a aquisição da Biocontrol, uma companhia fundada por pesquisadores em Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto.
Inicialmente, a Biocontrol só produzia biológicos a partir de fungos, mas a chegada da Nitro ampliou a atuação para os quatro tipos de organismos usados no controle biológico: bactérias, vírus e insetos. Só em biológicos, o faturamento deve passar de R$ 100 milhões em 2023.
“Nossa proposta é ter um portfólio abrangente para o produtor”, diz Tiago Mota, agrônomo recrutado pela Nitro para liderar a área de agro — antes de chegar à companhia em 2020, o executivo atuou por dez anos na Produquímica.
Com a ampliação do portfólio, a Nitro está apta a negociar com os agricultores em mais de uma ocasião. Pelas estimativas de Mota, as soluções da companhia permitem negociar o equivalente a dez sacas de soja por hectare em insumos. Quando a incursão da Nitro pelo agro começou, o poder de negociação era bem menor (o equivalente a duas sacas por hectare).
A companhia também possui uma fábrica de quelatos (compostos químicos usados na fabricação de fertilizantes) em Várzea Paulista. Lá está investindo para ampliar a produção de fertilizantes especiais e defensivos biológicos a partir de bactérias.
Na fronteira dos biológicos
Para se posicionar como um player relevante em insumos especiais, não basta ter um portfólio amplo. Sem inovação, a companhia pode perder o bonde das próximas gerações de insumos, notadamente no mercado de biológicos.
Para avançar em P&D, a Nitro passou a investir em parcerias com startups. A mais recente é um investimento na Regenera Moléculas do Mar, startup gaúcha criada na incubadora do centro de biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Segundo Breno Marques, head de inovação e novos negócios da Nitro, a Regenera faz prospecção no mar, reunindo um banco de cepas de mais de 1,5 mil microrganismos (entre fungos e bactérias) retirados do mar. Com a parceria, a Nitro terá exclusividade para desenvolver insumos agrícolas a partir das cepas. A parceria não inclui outros âmbitos. As cepas da Regenera também são usadas para fins farmacêuticos.
Antes da parceria com a startup gaúcha, a Nitro se tornou sócia da Vivus, uma joint venture com o fundador da Bug, startup de macrobiológicos vendida à holandesa Koppert em 2017. Da sociedade, saiu um produto biológico contra o percevejo marrom da soja.
A Nitro também vem investindo em outra sociedade em Patos de Minas (MG) —neste caso para uma fábrica voltada à produção de defensivos biológicos a partir de fungos. Segundo o CEO da companhia, deve ser uma das maiores unidades do gênero no Brasil.
Além desses ativos, a Nitro é sócia minoritária da Gênica, companhia de insumos biológicos sediada em Piracicaba. “Quando investimos na Gênica, estávamos conhecendo o setor de biológicos. Nos encantamos e percebemos que fazia sentido ter uma operação mais robusta dentro da Nitro. Foi aí que veio a aquisição da Biocontrol”, lembra Cruz.
Se continuar nessa velocidade, não será surpresa se a Nitro logo ultrapassar a Gênica em tamanho. Capital para isso não falta.